Dominada Pelos Irmãos Beltron
img img Dominada Pelos Irmãos Beltron img Capítulo 3 O Anjo da Rua
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Capítulo 6 O Segredo dos Beltron img
Capítulo 7 A Decisão img
Capítulo 8 A Negociação img
Capítulo 9 A Escolha do Destino img
Capítulo 10 O Triunfo de Domenico img
Capítulo 11 A Nova Amara img
Capítulo 12 O Desprezo dos Beltron img
Capítulo 13 O Jogo dos Beltron img
Capítulo 14 O Toque Proibido img
Capítulo 15 O Quarto Vermelho img
Capítulo 16 -O Beijo de Domenico img
Capítulo 17 O Refúgio de Cal img
Capítulo 18 A Sedução de Luca img
Capítulo 19 A Pecadora img
Capítulo 20 O Toque de Enzo img
Capítulo 21 A Noite img
Capítulo 22 O Encanto de Domenico img
Capítulo 23 A Noite na Ilha img
Capítulo 24 A Primeira Vez img
Capítulo 25 A Mulher Completa img
Capítulo 26 A Realidade img
Capítulo 27 O Tempo img
Capítulo 28 O Jardim Secreto img
Capítulo 29 O Toque de Enzo img
Capítulo 30 O Encanto de Pietro img
Capítulo 31 O Desejo de Luca parte 01 img
Capítulo 32 O Desejo de Luca parte 02 img
Capítulo 33 A Segunda Rodada img
Capítulo 34 A Nova Safada img
Capítulo 35 O Retorno de Serena img
Capítulo 36 O Toque do Doutor img
Capítulo 37 O Brinquedo de Enzo img
Capítulo 38 -A Coelhinha de Quatro img
Capítulo 39 -A Promessa img
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Capítulo 3 O Anjo da Rua

༺ Amara Wild ༻

Acordei com o sol invadindo o prédio abandonado, as paredes velhas deixando os primeiros raios de luz se espalharem pelo chão sujo. Me sentei, esfregando os olhos e sentindo o corpo dolorido da noite mal dormida. A cabeça ainda estava uma bagunça, relembrando a cena da noite anterior com aqueles quatro homens, mas a realidade logo bateu na porta, como sempre.

Meu estômago começou a roncar, insistente, fazendo questão de me lembrar de outra prioridade do dia.

- Calma, amigo... - murmurei, colocando a mão na barriga. - Vou arrumar alguma coisa para a gente comer. Só tenha paciência, as coisas estão difíceis.

Soltei um suspiro e me levantei, tentando ajeitar a touca no cabelo sujo, que teimava em escapar por alguns fios. Enquanto me preparava para enfrentar mais um dia, por um segundo, lembrei da conversa que os quatro haviam tido. Era confusa, mas algo sobre me dar um banho, cortar meu cabelo... quase risível.

- Que será que eles pensam que são? - murmurei baixinho, tentando conter a risada. - Um banho e um corte de cabelo e pronto, nova vida? Como se fosse fácil assim...

Passei as mãos pelas roupas, tentando tirar a poeira que parecia parte de mim. Fazia quatro anos que a rua era meu lar. Desde que perdi tudo, desde que perdi minha mãe. A última pessoa que me restava no mundo. Ela lutou até o fim, mas no final, não conseguimos pagar o suficiente para salvar sua vida.

Havia vendido tudo o que possuímos. O que era meu, dela, tudo foi embora para tentar cobrir as despesas de hospital e, no final, fiquei sem nada, além de um vazio e uma vontade incontrolável de sobreviver.

Com mais um suspiro, saí do prédio, pronta para encarar mais um dia, em busca de qualquer coisa que pudesse me manter de pé. Afinal, o que me restava era essa persistência.

Segui pela calçada, sentindo o frio da manhã me envolver. Algumas pessoas passavam por mim com o rosto fechado, evitando qualquer contato visual, mas ainda assim, mantive minha educação intacta.

- Bom dia! - disse a uma senhora que, em resposta, acelerou o passo com uma expressão desconfiada.

Suspirei, mas continuei meu caminho, sem deixar a falta de gentileza deles me afetar. Sei que a vida na rua deixava marcas, mas sempre preferi lembrar do que minha mãe me ensinou: "educação não custa nada."

Andei mais um pouco pelas ruas de Nova Jersey, até avistar meu velho amigo, Cal. Ele estava do outro lado da calçada, mas ao me ver atravessou a rua para vir ao meu encontro. Cal era muito mais velho do que eu, talvez tivesse uns cinquenta anos, e desde que o conheci e comecei a andar por esse lado do centro da cidade, ele sempre foi uma espécie de protetor.

Fazia 3 anos que o conhecia, e ele já tinha dividido o pouco que conseguia comigo tantas vezes que até perdi a conta.

Ele me olhou de cima a baixo, as sobrancelhas franzidas em preocupação.

- Onde você passou a noite, garota? Está tudo bem? - perguntou, com aquele tom meio ranzinza, mas que sempre trazia um toque de carinho paternal.

Por um segundo, observei Cal e pensei no quanto ele era gentil comigo. Apesar de tudo, sempre me protegia, me avisava dos perigos e até dividia comida quando conseguia algo. Ele era uma espécie de família aqui na rua.

Sacudi a cabeça, voltando ao presente.

- Ah, estou bem, Cal. Ontem foi só... uma noite esquisita. Quatro caras apareceram do nada enquanto eu revirava uma lata de lixo. Eles estavam discutindo, aí, do nada, começaram a falar de eu tomar banho, cortar o cabelo... essas coisas. Acabei saindo correndo e me escondi num dos prédios abandonados.

Cal balançou a cabeça, preocupado, enquanto suspirava aliviado.

- Graças a Deus que não aconteceu nada! Já pensou se esses caras resolvem fazer alguma coisa com você? Isso poderia ter acabado muito mal, garota.

Concordei com a cabeça, sentindo o peso do que ele dizia.

- É, mas já passou. Agora, é só lembrar de evitar aquele lugar por um tempo - falei, tentando tranquilizar a mim mesma.

Cal abriu um sorriso animado e seus olhos brilharam por um instante.

- Bom, tenho uma boa notícia. O pessoal da Igreja São Miguel está lá na Rua Beechwood hoje, fazendo doações de roupas, oferecendo banho e comida. Que tal darmos uma passada lá? Devem nos ajudar.

Eu mal pude conter minha empolgação. Fazia quase uma semana desde meu último banho, e, honestamente, estava mais do que precisando.

- Nossa, sério? - sorri, quase sem acreditar. - Tá bom, vamos lá, então. Preciso de um banho e roupas novas. Depois dou uma passada num canto aí e pego minhas coisas.

Cal assentiu e me acompanhou. A expectativa de uma boa refeição, banho e roupas limpas tornou a caminhada um pouco mais leve.

Ao chegarmos ao local das doações, e não pude evitar uma sensação de gratidão enquanto observava o movimento das pessoas da igreja, distribuindo roupas, kits de higiene e sorrisos gentis. Fui direto para a pilha de casacos - o inverno estava chegando, e o frio começava a apertar de verdade. Escolhi um casaco grosso e duas toucas, afinal, nunca é demais ter algo extra para se aquecer.

Cal também estava lá, revirando as calças à procura de algo que servisse. Escolhi umas peças para mim e, logo em seguida, um dos voluntários me entregou uma sacola com mais algumas roupas e uma toalha limpa. Olhei para o banheiro improvisado que montaram ali e resolvi aproveitar a chance.

Com o kit de higiene em mãos, segui para o banho. Escovei os dentes e, quando a água quente começou a escorrer pelo meu corpo, me senti imediatamente renovada. Vi a sujeira sair em enxurradas, levando com ela um pouco do peso daqueles dias na rua. Usei o sabonete e o shampoo, esfregando bem os cabelos, e, quando terminei, fiquei alguns minutos me olhando no espelho, pensativa.

"Quatro anos... quatro anos na rua", pensei em voz baixa, passando a toalha pelo rosto. O que eu poderia fazer para mudar essa realidade? Às vezes parecia tão difícil. Era como se houvesse uma barreira entre o que eu desejava e o que poderia realmente alcançar.

Vesti as roupas novas - uma calça jeans, uma blusa de mangas compridas e uma touca. Por cima, o casaco quente que havia escolhido. O simples fato de estar limpa me deu uma sensação de dignidade que há muito não sentia. Saí dali e fui direto para a área de refeições, onde serviam sopa quente, pão e uma porção de frango desfiado com molho. Comi mais de uma vez e, por sorte, consegui um pouco de comida para levar. Com a sacola nas mãos, fui até onde Cal estava sentado em um dos bancos.

Me sentei ao lado dele, ainda mordendo o pão com frango. Ele olhou para mim e, percebendo meu silêncio, resolveu puxar assunto.

- O que está acontecendo, menina? - ele perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.

Suspirei, desviando o olhar para o chão.

- Ah, sei lá, Cal só estou pensando na vida... Quando é que vou sair dessa, sabe?

Ele balançou a cabeça, com um olhar de compreensão. Ele estava na rua há mais de 20 anos, e conhecia essa sensação de impotência melhor do que ninguém.

- É difícil mesmo, menina. Depois de tudo que a gente passa, levantar é complicado. Eu já estou nessa vida há tanto tempo que... bem, julgo que vai ser assim até o fim - disse ele, sem rodeios.

Olhei para Cal, sentindo uma pontada de esperança crescer dentro de mim, mesmo que ele parecesse já ter perdido a dele.

- Você vai ver, Cal. Um dia eu ainda vou tirar a gente dessa vida... Sairemos daqui juntos. Prometo.

Ele soltou uma risada baixa, como se não acreditasse, mas seus olhos tinham uma ponta de carinho.

- Se conseguir, vou ficar feliz de ver. Mas, por mim... já fiz as pazes com essa vida aqui. Penso que esse vai ser o meu lugar até o dia que me for.

Revirei os olhos e, mordendo o pão com frango, rebati, convicta:

- Você vai ver, Cal. A gente ainda vai rir de tudo isso aqui. Ainda tenho muita fé.

Ele me lançou um sorriso, balançando a cabeça, talvez se perguntando de onde eu tirava tanta esperança. Mas, lá, no fundo, sabia: ainda tinha uma chance de fazer diferente. E se eu conseguisse, ele viria comigo.

            
            

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