- Se você só veio aqui para me ofender, como os seus irmãos fizeram, é melhor dar meia-volta. Não vou ficar ouvindo desaforo e ficar calada - rebati, com o tom afiado.
Ele sorriu, colocando as mãos nos bolsos, sem perder aquele ar presunçoso.
- Não é nada disso, Amara. É que... você é bonita e parece que nem percebe isso - respondeu, seus olhos fixos nos meus.
Revirei os olhos, impaciente.
- Talvez eu seja... Ou já tenha sido mais bonita, quando possuía uma vida digna e um teto. Agora, por que você não vai direto ao ponto? Não posso perder tempo aqui - disse, lançando um olhar para a direção da fila, onde Cal segurava meu lugar.
Ele fez um gesto com a mão, como se estivesse me tranquilizando.
- Fica tranquila, Amara. Vou pagar o quarto de hotel, como prometi. O dinheiro que dei não foi da boca para fora.
Suspirei fundo, estudando esse homem à minha frente. Era estranho sentir tanta desconfiança e, ao mesmo tempo, me perguntar por que ele insistia tanto. Então, com um suspiro, resolvi ser direta.
- E a troco de quê? - perguntei, meu olhar fixo no dele, buscando alguma resposta verdadeira. - O que você quer, afinal?
Ele sorriu de um jeito que não gostei, malicioso, quase provocador. Esse sorriso que deixava claro que ele tinha algo em mente.
- Quero você, Amara - disse ele, sua voz baixa e firme.
Minha cabeça girou por um segundo, e o choque foi inevitável. Olhei para ele, tentando processar o que acabara de ouvir.
- Você... me quer? - repeti, quase em tom de escárnio. - Você está louco? Do que é que você está falando cara?
Domenico apenas me olhou com um sorriso sedutor que parecia calculado para me desestabilizar.
- Quero tirá-la dessa vida nas ruas. Que seja exclusivamente minha - ele disse, como se fosse algo tão natural quanto pedir um café.
Soltei uma risada amarga, sem conseguir conter o sarcasmo.
- Exclusivamente sua? Você realmente pensa que vou aceitar uma coisa dessas? Ou melhor, acreditarei que veio fazer uma proposta dessas para uma mendiga, como eu? Olha só para você, Domenico. Você é um homem bonito, rico... deve ter várias mulheres aos seus pés. Por que eu agradaria você?
Ele respirou fundo, mas seu olhar continuava seguro, sem nenhum traço de hesitação.
- Desde a primeira vez que você me olhou com esses olhos cor de mel, Amara... - ele disse, os dedos deslizando levemente pelo meu braço, puxando-me para perto. - Vi algo além dessa vida nas ruas. Uma beleza que vai muito além do que você imagina. Há uma coisa em você que me deixa curioso, que me prende a lapidar.
Soltei uma risada sarcástica, puxando meu braço de volta.
- Só pode ser brincadeira de mau gosto - respondi, forçando-me a manter o olhar firme. - Se é assim, Domenico, vá embora. Não tenho tempo para ouvir besteira.
Ele me puxou novamente, desta vez com um aperto mais firme, seus olhos azuis cravados nos meus.
- Eu não estou brincando, Amara. Quero você - disse ele com seriedade, como se isso de alguma forma justificasse o absurdo da proposta.
Revirei os olhos e dei uma risada amarga.
- Por que você não, procura alguém do seu nível? Uma mulher bonita, com uma casa, status... - falei, cruzando os braços. - E nem vem com desculpa de que não tem ninguém.
Ele riu, mas respondeu com um tom mais sombrio.
- Porque não quero uma mulher dessas. Elas têm seus próprios caprichos e não aceitariam certas... condições de um homem dominador como eu.
Soltei uma gargalhada, sem acreditar no que estava ouvindo.
- Eu sabia que tinha alguma condição bizarra nessa história! Vamos lá, Domenico, qual é a condição?
Ele suspirou, como se estivesse se preparando para algo forte, mas seus olhos mantinham um brilho sedutor.
- Você não seria apenas minha. Teria que dividir essa... exclusividade... com os meus três irmãos. Ser dos quatro.
O choque me fez perder a fala por alguns segundos. Pisquei, tentando processar o que ele acabara de dizer.
- Oi? - exclamei, incrédula. - Você está me dizendo que eu teria que... que ficar com você e com os seus irmãos? Logo eles, que me odeiam e não me olham com nada além de desprezo por ser uma mendiga?
Domenico ergueu uma sobrancelha e sorriu, confiante.
- Eles não aceitam você... ainda. Mas, assim que passar por uma transformação, Amara, eles vão mudar de ideia. Eles sempre mudam.
Ri novamente, mas dessa vez, minha risada saiu com mais amargura.
- Você perdeu a vergonha de vez, não é? Você me acha o quê? Uma qualquer, uma vagabunda, para aceitar um acordo desses só porque vivo nas ruas? - perguntei, balançando a cabeça.
Ele não se abalou.
- Não estou sendo sem-vergonha, só propondo um negócio. Pensa no que posso te oferecer, Amara: uma vida de princesa. Você teria roupas, dinheiro, uma casa... não te faltaria nada. Mas, em troca, teria que assinar um contrato em que seria exclusivamente nossa. E nós decidiremos quando o contrato terminaria. Se você rompesse, perderia tudo.
Olhei incrédula.
- Que tipo de contrato absurdo é esse? - perguntei, o coração batendo mais forte de raiva e descrença. - Um contrato sem fim?
Ele deu de ombros, mantendo seu olhar frio.
- Pode ter fim, sim. Dois anos, por exemplo. Desde que você cumpra as regras - ele disse, observando cada reação minha. - Se você aceitar, Amara, arranjo uma casa para começarmos, você terá um lugar para viver, tirará seu amigo das ruas. O que acha?
Olhei para a fila onde Cal estava, segurando nosso lugar. Meus pensamentos giravam enquanto tentava absorver tudo o que ele estava propondo. Era uma loucura... mas, ao mesmo tempo, a possibilidade de ter uma vida digna outra vez piscava no fundo da minha mente.
Senti uma mistura de desespero e esperança.
Olhei para Domenico e suspirei, sentindo o peso das palavras que estava prestes a dizer.
- Eu... preciso de um tempo para pensar - murmurei, tentando manter a voz firme.
Ele sorriu, como se já esperasse essa resposta.
- Claro, vou dar o tempo que você precisa. Se mudar de ideia, é só me ligar - disse, retirando um cartão preto e elegante de dentro da carteira e estendendo-o para mim. As iniciais "D.B." estavam gravadas em dourado no canto. - Domenico Beltron.
Peguei o cartão com uma das mãos, guardando-o no bolso do meu casaco velho, sem saber ao certo o que pensar. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele tirou outro maço de dinheiro, dessa vez bem maior, e colocou na minha mão.
- Isso deve cobrir o quarto por mais de uma semana - comentou com um sorriso satisfeito. - Pense com carinho, Amara. Posso realmente te dar uma vida de princesa, uma que você nem imagina.
Seus dedos acariciaram meu queixo por um momento, enquanto ele me olhava diretamente nos olhos, com uma intensidade que fazia minha pele arrepiar. Ele se afastou e, antes que percebesse, um carro luxuoso, preto e brilhante, parou ao lado dele. Domenico entrou no veículo e, sem olhar para trás, desapareceu no trânsito.
Soltei o ar que nem sabia que estava prendendo. Segurei o maço de dinheiro e o cartão, ainda incrédula com tudo o que havia acabado de acontecer. Uma proposta indecente, vinda de um homem tão... inatingível, mas que agora parecia estranhamente possível. A ideia de um lar, um lugar seguro, talvez até confortável, ecoava na minha mente, me atraindo como uma miragem.
Olhei para o céu, respirando fundo, tentando afastar o turbilhão de pensamentos e emoções que Domenico deixara para trás.