De repente, ouvi vozes alteradas do outro lado da rua, perto da porta de entrada do restaurante chique. Olhei na direção das vozes, curiosa. Uma mulher linda e elegante estava parada ali, encarando quatro homens que pareciam rodeá-la.
- Eu não aguento mais isso, Luca! - ela gritou, cruzando os braços. - Esse relacionamento com vocês todos está me sufocando! Preciso de espaço, de liberdade, e vocês não entendem!
Luca, o mais alto, ergueu as sobrancelhas com uma expressão de surpresa.
- Liberdade? - Ele soou quase ofendido. - Nós só queremos cuidar de você. Amamos você. É difícil entender isso, abelhinha?
Ela riu amargamente.
- Cuidar? Vocês pensam que podem decidir tudo sobre a minha vida, Domenico, Pietro, Enzo... - Ela foi apontando para cada um deles, um de cada vez, como se estivessem em um tribunal.
Pietro, o rapaz com um jeito arrogante, passou a mão pelos cabelos e revirou os olhos.
- Ah, para com isso, Serena. Você é importante para nós. Não pode simplesmente sair assim. Vamos para casa conversar...
Ela deu um passo para trás, respirando fundo.
- Não posso? Olha só o que posso fazer! - E, num gesto teatral, ela tirou o anel que tinha no dedo e o jogou no chão, no meio dos quatro. - Não quero mais isso. Nem quero mais vocês. Gosto de outro. Para mim, essa relação já acabou.
Enquanto isso, eu observava a cena, mastigando meu sanduíche, quase hipnotizada. Que confusão! Se fosse uma novela, seria o capítulo principal.
Enzo, o mais jovem, parecia inconformado.
- Está nos trocando por quem, Serena? Quem é melhor do que nós quatro?
Ela ergueu o queixo com um sorriso desafiador.
- Uma cara que não me sufoca. Me dá liberdade e espaço para ser quem sou... Arrume outra idiota para se sujeitar a isso, quem sabe aquela mendiga ali.
Engasguei com o sanduíche e tentei me recompor. Levantei o meio sanduíche, quase como se estivesse brindando.
- Ei, nada contra. Eu aceito o "cargo" se for preciso e se pagarem bem - comentei, dando uma mordida e me esforçando para não rir.
Eles se viraram para me encarar, mas minha fome era tanta que continuei mastigando, assistindo ao show deles sem me importar.
Estou ali, mastigando o que restava de um sanduíche, quando a discussão deles começou a esquentar de verdade. A mulher parecia decidida. Ela gesticulava intensamente, o rosto em chamas de raiva.
- Chega, Luca! Estou cansada disso. Eu não quero mais esse relacionamento! Vocês não vão me fazer mudar de ideia. Estou apaixonado por outro, como disse - ela disse, sua voz cortando o ar frio da noite.
Soltei uma risada baixa, porque, apesar da situação, a coisa toda possuía um toque dramático que até me distraía da fome. Dei mais uma mordida no sanduíche, de olho na cena.
- Apaixonada por outro, Serena? Você realmente está falando sério? - Luca perguntou, parecendo mais chocado que bravo.
Serena ergueu o queixo, sem hesitar.
- Sim, Luca! Me apaixonei por outro, e quer saber? Ele me trata com o respeito que vocês nunca me deram! Sempre me tratando como um pedaço de carne pronto para ser abatida.
Quase engasguei. Aquilo estava ficando melhor a cada segundo.
- Você não pode fazer isso conosco, Serena! - gritou o tal do Domenico, com uma expressão de dor que nunca havia visto em muita gente largada na rua.
Mas, ao invés de responder, Serena apenas mostrou o dedo do meio, com a maior cara de desprezo, e fez sinal para um táxi que se aproximava. Em poucos segundos, entrou no carro e foi embora, deixando os quatro ali, parados como estátuas, desolados.
Dei de ombros e voltei a revirar o lixo de novo. O sanduíche já estava quase no fim, e a fome continuava.
- Que novela... - murmurei, rindo sozinha.
De repente, sinto uma presença atrás de mim. Meu corpo enrijeceu no mesmo instante e, quando me virei, lá estavam eles, os quatro, com as expressões sombrias e cheias de uma mistura de frustração e raiva.
Meu coração começou a acelerar fortemente, porque tenho ideia do que caras assim podiam fazer com pessoas como eu. Já vi esse tipo de olhar antes quando queriam descontar a raiva em alguém, e, quase sempre, escolhiam os mais frágeis.
- Então... está tudo bem, rapazes? - perguntei, tentando soar despreocupada, embora cada fibra do meu ser me alertasse para sair dali o mais rápido possível.
Estava pronta para dar o fora, mas um dos caras - o tal do Luca - deu um passo à frente e disse, com um sorriso meio amargo:
- E aí, estava gostando do show, senhorita? Parecia se divertir de longe.
Tentei disfarçar, mas a verdade é que meu rosto estava com um sorriso sarcástico estampado.
- Ah, eu... bom, não fiz por mal. Só... foi impossível não notar a novela acontecendo bem na minha frente. - Dei de ombros, mordendo o pedaço de pão meio duro que encontrei.
Ele arqueou uma sobrancelha, mas antes de responder, Domenico o que parecia ser o mais velho, que parecia ter o ego bem ferido, virou para os outros três e falou com um ar meio misterioso:
- E se a gente fizesse...
Os outros olharam para ele, confusos, e Luca soltou um suspiro exasperado.
- Ah, Domenico, você não está pensando nisso, está? Nem continue com isso.
Domenico ergueu as mãos, como se o plano que tivesse na cabeça fosse a coisa mais brilhante do mundo.
- É sério! Não me digam que nunca pensaram... quero dizer, já que a nossa "amada" foi embora... - Ele lançou um olhar aos outros, esperando alguma aprovação.
Ouvindo tudo isso, só conseguia pensar em uma coisa: esses caras perderam a noção. Mas antes que pudessem perceber minha expressão de total descrença, dei mais uma mordida no pão, tentando parecer alheia.
- Olha, pessoal, vou indo, certo? - disse, enquanto dava alguns passos para trás, torcendo para não me encherem mais o meu saco.
No entanto, claro, eles perceberam. Enzo, o mais jovem, ergueu a mão para me parar, olhando para mim com um sorriso que não sabia se era de diversão ou desafio.
- Ei... Para onde pensa que vai?
Olhei para os quatro, agora me cercando com uma curiosidade que me fazia querer evaporar dali. Mas, como fugir só iria atiçar mais o interesse deles, engoli em seco e mantive o tom o mais casual possível.
- Ah, vocês sabem... tenho compromissos importantes com aquele lixo ali. - Fiz um gesto na direção das latas de onde havia tirado o sanduíche. - Fome não espera, né?
Eles se olharam, trocando olhares que eu não conseguia decifrar, mas percebia uma coisa: esses caras estavam interessados em mim por um motivo que eu ainda não havia entendido. Porém, não pretendia ficar para descobrir.