Capítulo 4 Roberta

Roberta Narrando

Voltei para o quarto, peguei o Gui no colo e fiquei balançando meu filho, tentando acalmá-lo. Quando ele finalmente parou de chorar, tirei sua roupinha com cuidado e dei um banho nele. A água morna sempre ajudava a relaxá-lo, e também me dava uma sensação de alívio. Assim que terminei, o enrolei na toalha macia e o levei para o quarto. Vesti uma roupinha confortável nele. Depois, fui tomar meu próprio banho, sentindo a água escorrer pelo meu corpo cansado e dolorido. Cada gota parecia levar um pouco do peso das últimas horas. Como eu queria apenas receber a notícia de que esse Zeus acabou com a raça do Wesley e do Darlan.

Suspirei, deixando esses pensamentos de lado por um instante. Terminei meu banho, me enrolei na toalha e passei hidratante no corpo. Soltei os cabelos, penteando com os dedos antes de colocar uma roupa confortável. O cheiro da loção misturado ao vapor do banheiro me trouxe um pequeno momento de paz.

Fui para a cozinha preparar o almoço. Gui estava brincando na sala, entretido com seus brinquedos e a TV ligada. Sempre dou liberdade para ele escolher o que quer fazer. Assistir, brincar. Guilherme não fala, ele é autista não verbal, e às vezes é difícil entender o que ele quer. Quando fica irritado, tem crises, então eu faço de tudo para que ele se sinta à vontade. Claro que tomo meus cuidados. As portas da frente e da cozinha sempre trancadas. Nenhum objeto cortante ao alcance dele. Sempre fui cuidadosa com isso.

Enquanto mexia na panela, ouvi batidas na porta.

- Roberta! - reconheci a voz de Suzana.

Larguei a colher de pau e fui até a porta, destrancando. Assim que abri, ela me envolveu em um abraço apertado, toda sorridente.

- O que foi? - perguntei, desconfiada. - Ganhou na Mega-Sena e veio me dar metade do prêmio? Porque, se for isso, eu e o Gui estamos pegando o primeiro voo pra bem longe.

Ela soltou uma risada, balançando a cabeça.

- Quem dera, amiga. Mas não é nada disso.

Pelo brilho nos olhos dela, já sabia o que vinha a seguir.

- O Darlan vai voltar - soltou a bomba.

Fechei os olhos por um segundo, soltando um suspiro cansado antes de encará-la.

- Desculpa, Roberta - ela disse, mordendo o lábio, como se se sentisse culpada. - Eu sei que meus irmãos são umas pestes, mas são a única família que eu tenho. Assim como você é minha única amiga.

Cruzei os braços, analisando por um instante. Suzana é minha amiga, mas também é irmã do Wesley. Eu sei que isso a coloca em uma posição difícil.

- Você sabe que ele não deveria nem ter saído vivo daqui, não sabe? - minha voz saiu dura.

- Sei... Mas o que posso fazer? Ele é meu irmão.

Passei a mão no rosto, sentindo a raiva e o cansaço se misturarem dentro de mim. Mas vou deixar isso pra lá, aquele escroto não merece meu desperdício de energia.

O dia já estava chegando ao fim quando ouvi o barulho da porta sendo aberta. Eu estava na cozinha, preparando uma vitamina pra mim, eu me cuido, só que eu não vou na academia, faço exercícios em casa, e costumo tomar pré e pós treino. Isso me faz bem, mesmo que eu não sinta mais aquele desejo de mulher, e ande mais cansada do que o normal. Os exercícios me ajudam bastante, a manter minha mente no lugar. Quando senti uma presença se aproximando por trás. O cheiro forte de cigarro misturado com perfume barato denunciava quem era. Antes que eu pudesse me afastar, senti o corpo dele colado ao meu, se esfregando como um animal nojento.

- Senti sua falta, gostosa - Wesley sussurrou, beijando meu pescoço. - Vem pro quarto comigo.

Revirei os olhos e me virei para encará-lo, cruzando os braços.

- Se manca, garoto. De manhã, tu me deu foi porrada. Só não bateu mais porque foi interrompido. E agora quer beijo, carinho e ainda a minha boceta preciosa? Vai procurar tua turma!

Virei as costas, ignorando a presença dele e voltando a preparar a vitamina. Mas ele não gosta de ser rejeitado. Nunca gostou.

Num movimento brusco, agarrou meu cabelo e puxou com força, forçando minha cabeça para trás. Sua voz saiu em um grito raivoso, ensurdecedor no meu ouvido.

- Você é minha mulher! Eu te como quando quiser!

Meu sangue ferveu. A dor no couro cabeludo era forte, mas a raiva era ainda maior.

- Pode até comer, Wesley! - gritei de volta, sentindo as lágrimas de ódio arderem nos meus olhos. - Mas é à força, como tem sido! Sem prazer, sem vontade! Eu te desprezo! Tenho nojo de você!

Cuspi as palavras com todo o rancor acumulado dentro de mim. Ele me olhou por um segundo, como se minhas palavras tivessem lhe acertado em cheio. Então, me empurrou com força, quase me fazendo cair.

- Sua vadia feia! - rosnou, com os olhos cheios de ódio. - Tá toda flácida, sabia? Eu tenho coisa muito melhor!

E, como o covarde que é, saiu batendo a porta.

Respirei fundo, tentando acalmar a respiração descompassada. Minhas mãos tremiam, e minha cabeça doía por causa do puxão. Mas, no fundo, senti alívio. Pelo menos ele foi embora.

Passei as mãos no rosto, tentando apagar aquela sensação nojenta que ele deixava toda vez que se aproximava de mim. Caminhei até o quarto do Guilherme, o coração ainda acelerado. Ele estava deitado, respirando tranquilamente, entregue ao sono.

Graças a Deus, ele não ouviu essa cena deplorável.

Me sentei na beira da cama e passei a mão nos cabelos do meu filho, sentindo um nó na garganta. Eu queria tanto tirá-lo dessa realidade, desse ambiente onde um desgraçado como Wesley entrava e saía quando queria, fazendo o que bem entende.

Suspirei, sentindo um gosto amargo na boca.

- Zeus nem pra matar um encosto desses serve - murmurei, encarando o teto. - Não tá fazendo jus à fama que tem.

Fechei os olhos por um instante. Eu preciso de um milagre, só um milagre pra me tirar dessa vida.