Capítulo 6 O primeiro contato

Lorena.

Levantei da cama e fui esquentar o estrogonofe. Tem que se alimentar antes da revoada né? Enquanto comia, já estava pensando no look.

Vestido super colado ou macaquinho sexy?

O problema de imaginar a roupa perfeita é que, quando finalmente visto, às vezes fica uma merda. Mas primeiro, banho.

Depois do banho quente, me enrolei na toalha e sentei pra fazer a maquiagem.

Comecei pelos olhos, puxando um esfumado preto bem marcado.

Queria aquele olhar penetrante. Depois finalizei com um gloss, efeito de bocão.

Não precisava, porque Deus já caprichou quando me desenhou, mas um brilho extra nunca é demais.

Hoje vou toda no couro. Escolhi uma calça justa, um cropped de couro e salto transparente. O look ficou simplesmente o look. Bem diva.

Dama de preto, zero sinônimo de azar.

Passei perfume capilar, perfume corporal e finalizei com um retoque no cabelo. Cheirosa é pouco, amor.

Já eram 22:58h. Pra quem marcou de sair às 22:30h, até que estou no lucro. Peguei uma bolsa preta e fui para a portaria do prédio pegar o Uber.

Partiu.

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A Chegada no Morro

Cheguei na entrada do morro 00:24h. Saí do carro e já mandei mensagem pro apressado do Max.

Ele apareceu todo de preto.

- Filha, vão pensar que você é meu macho.

- Para, mona. Você adora me usar pra dispensar os bofe feio. - Dei risada.

Fomos subindo rindo e zoando, e logo vimos Júlia nos esperando do lado de fora da quadra.

- Vão ficar fissurados nos seus peitos. - Ela disse, olhando pros meus piercings. - Tá pra jogo, né, negona?

- O que é bonito é pra ser mostrado.

O baile estava lotado.

Seguimos direto pro bar improvisado pegar uma bebida. Não tinha um canto que não estivesse lotado de gente.

Olhei no relógio. Vou sair daqui só quando o Matuê cantar. Depois é casa e dormir muito.

Meu celular vibrou.

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WhatsApp ON

Elias Maluco:Sabia que curtia os baile daqui, não.

Gallore: Primeira vez depois de muito tempo.

Elias Maluco: Vou te deixar Hulk, pô. Vem pro camarote, pode trazer sua amiga e o teu namorado.

Gallore: Visão daí é boa, hein? Mas só vou quando o Matuê for cantar. Depois de duas músicas, volto pra pista.

Elias Maluco: Suave, quando tiver perto dele cantar, tu vem.

Respondi com um joinha.

Fechei o celular e avisei pros meus amigos:

- Um amigo chamou a gente pro camarote. Quando o Matuê começar, subimos.

- Cheio de bandido gostoso ali. - Max comentou, empolgado.

- Ele tá achando que tu é meu bofe. - Ri da cara que ele fez.

- Se emocionou à toa. - Júlia riu, bebendo mais um gole.

Ficamos ali, bebendo e dançando. Os olhares das mulheres que passavam eram inevitáveis. Umas com cara de nojo, outras com deboche.

Mas fazer o quê? Gente linda chama atenção.

Júlia me puxou pra dançar com ela, Max saiu pra buscar mais bebida.

Ajeitei o cabelo, tirando do ombro.

Foi aí que senti.

Sabe quando você sente que está sendo observada?

Meus olhos correram pela multidão. E lá estava ele.

Atrás de uma morena, o mesmo cara que esbarrei no mercadinho.

Me encarava com uma marra estampada no rosto. Levava o cigarro à boca sem desviar o olhar.

Meu coração deu um leve salto.

O DJ pegou o microfone:

- Matueeeeeê na área, porraaa!

O baile explodiu em gritos. Com um pouco de sufoco, chegamos na subida do camarote.

Elias nos avistou e fez um joinha. O cara que portava um fuzil enorme deu passagem. Seguimos Elias até um canto mais tranquilo.

Minutos depois, Matuê surgiu no palco.

"Olha o caminhar do elemento, é um passo bem lento..."

Gritei junto com todo mundo, pulando feito doida.

Max e Júlia já estavam cada um com um contatinho.

Quando percebi, estava sozinha no camarote.

Mas, foda-se. Vim pelo show.

Cantei todas as músicas, empolgada. Já estava quase sem voz.

Foi aí que ouvi.

- Tá curtindo o baile?

A voz veio grossa, firme, ríspida.

Senti um arrepio na nuca.

Me virei devagar.

E dei de cara com ele.

O cara do mercadinho.

O cara que me observava o tempo inteiro.

Parecendo um psicopata.

Seu olhar intenso, pesado, estudando cada detalhe meu.

Engoli em seco.

Mas mantive a postura.

- Tá maneiro. - Respondi, tentando parecer casual.

Ele deu um passo à frente. Meu coração acelerou.

- Vi você circular aqui umas duas vezes. - Disse sem desviar os olhos.

Minha garganta secou. Tentei parecer tranquila.

- É... eu não sou daqui.

Ele assentiu.

- Tô ligado. Se fosse, eu saberia.

Passou a língua pelos lábios, ainda me observando.

Porra.

Precisei desviar o olhar. A intensidade dele estava me desmontando.

- Queria me desculpar novamente pelo incidente. - Soltei rápido. - O dia que derramei bebida em você, não foi por mal.

Ele não respondeu. Apenas continuou me analisando.

Então, sem tirar os olhos de mim, perguntou:

- Como se chama?

Engoli em seco antes de responder. Interrogatório no meio do baile? Porra.

- Lorena.

Ele sorriu de canto.

- Hum... Satisfação, Lorena. Índio.

Fez uma pausa, me estudando mais um pouco.

Depois soltou, sem emoção:

- Vou te fazer nada não. Só queria saber quem é você.

Dei um sorriso bem minimalista.

                         

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