Capítulo 5 Sexta-feira apocalíptica

Lorena.

A semana passou voando, e minha intenção era ficar em casa e descansar. Mas, como sempre, meu plano de paz foi arruinado.

De manhã, fiz um escândalo dentro de casa cismando que tinha perdido minha identidade. Revirei gavetas, bolsas, joguei tudo no chão. E no fim, a desgraçada tava onde? Na capinha do celular.

Ódio.

Agora, além de irritada comigo mesma, ainda tinha que organizar toda essa bagunça. E eu odeio coisa fora do lugar. Claro que vou arrumar reclamando da minha lerdeza, mas pelo menos fico aliviada de não ter perdido nada. É uma burocracia tirar 2° via de documento e mais teria que arrumar tempo pra isso.

Depois que terminei, me joguei no sofá e olhei ao redor. Minha casa é uma das minhas maiores conquistas, uma cobertura duplex. Trabalhei muito pra chegar até aqui. E uma coisa que aprendi morando sozinha é que não abro mão da minha liberdade.

Aqui, ando de calcinha, sutiã ou pelada, sem preocupação. E se alguém quiser aparecer sem avisar? Problema de quem bateu na porta.

Quer me deixar puta? Pessoas insignificantes que saem do túmulo só pra dizer que sou muito nova e que "não aprendi nada da vida". Como se isso diminuísse meu mérito.

Mas, sinceramente? Hoje em dia eu nem bato mais cabeça com esse tipo de comentário.

Ninguém resolve meus problemas. Ninguém paga as minhas contas.

Então, que falem o que quiserem.

Eu sei o quanto lutei. As noites sem dormir, as dúvidas, o medo de dar errado. Me tornei a mulher forte que sou hoje por causa da Dona Vânia. Ela foi minha base.

Agora, tudo o que faço é pra retribuir. Nada do que ela fez por mim foi em vão.

Coloquei uma música pra animar.

"Lá na treta do Martins... Hoje é dia de cachorrada... Noite das safadas."

Peguei o ritmo e já comecei a dançar no meio da sala. Me senti uma dançarina do Bonde das Maravilhas.

---

GRUPO ON | APOCALÍPTICAS

Max: Qual será meu entretenimento de hoje? Tenho que curtir meu momento de garota apocalíptica.

Júlia: Mona, dá um tempo, pelo amor de Deus.

Max: Outra que vive fugindo dos rolês da favela dela é a Gallore.

Gallore: Bicha, para de ser carente.Não planejo fazer nada esse fim de semana. Tô sendo empreguete agora.

Max: Você tá brincando! O baile é só de noite. Dá tempo de arrumar a casa e depois se arrumar. Quero o trio ternura completo!

Júlia: Só vou se a bonita for.

Max: ELA VAI! O Matuê vai cantar. Você acha que a Gallore vai perder isso?

Gallore: Filho da puta. Tá bom, eu vou. Mas só porque meu macho vai cantar.

Júlia: Porra, Gallore. Assim você me fode.

Max: Jujuba, hoje você tira essa teia aí. Por isso tá estressada, te falta pica, amor! Vou agir minha vida agora, beijos.

---

Eu realmente queria ficar em casa.

Mas, como já tinha resolvido tudo cedo, vou curtir muito o show. Só que com consciência. Sempre tem aqueles bofes insistentes que não sabem ouvir um NÃO. E também tem as coitadas que saem pra brigar por macho que não é delas. Não é de ninguém, mas elas querem brigar com unhas e dentes se vangloriando por passar essa grande vergonha.

Fiz um almoço rápido e liguei a TV.

Enquanto comia meu estrogonofe, fiquei assistindo Bob Esponja.

Depois de lavar a louça, comecei a limpar a casa e organizar o quarto. Terminei tudo rápido e fui tirar um cochilo.

---

21:10 da noite

13 ligações perdidas. 160 mensagens não lidas.

Max é uma mona emocionada. Tá achando que eu ia furar o rolê. Nem vou retornar a ligação dele. Tá ansioso, tadinho.

GRUPO ON | APOCALÍPTICAS

Gallore: Tô viva, acalmem o coração. Pique Bela Adormecida, só tirando meu soninho de beleza.

Max: Vocês e essa mania de sumir!

Júlia: A primeira a meter um perdido é você, Max. Não pode ver um bofe que entra no cio.

Gallore: Tô me levantando. Não quero ninguém me apressando, tchau.

Max: Ver se vocês não demoram.

Júlia: Baile nem começou ainda, Mona. Tá querendo ajudar a vender droga?

Max: Que inferno, hein?!

Ri enquanto fechava o grupo e respondia outras mensagens. Esses dois são meu entretenimento diário. Quando morava no morro era uma bateção de perna terrível.

Agora, é hora de me arrumar. A noite promete.