Capítulo 4 4- Pesadelo

Grace sem querer cochila na cadeira, a aula de irmã Frederica tem esse poder sobre ela, a voz arranhada de alguém que fumou muito e na meia idade se entregou ao sacerdócio, fazendo a menina adormecer sem querer.

Um vislumbre de olhos azuis que derrepente ficam brancos, algo sobre sua curiosidade susurrado . Grace acorda com um grito que chama a atenção de irmã Frederica. Os pesadelos que atormentam suas noites, agora também a capturando em seu terror a luz do dia.

A freira se encaminha até a cadeira de moça de 18 anos, a régua vibrando rápido em um golpe que faz os olhos azuis de Grace se encherem de água.

Nenhuma das irmãs causa tanto temor quanto Frederica, ela olha em volta magoada e com vergonha, algumas alunas rindo abertamente.

Grace mora e estuda no convento, mas a maioria da classe é formada por filhas de famílias ricas de New York, muitas das quais vivem em semi-internato no convento. A maioria vai pra casa ao fim do dia, outras somente no fim de semana, mas somente Grace e sua melhor amiga Nina vivem no orfanato do convento e frequentam as aulas junto às outras alunas.

Nina se reclina para ela a confortando e mesmo o olhar ameaçador de irmã Filipa não à intimida. O rosto escuro como chocolate e os grandes olhos negros desafiadores.

- Gostaria de ganhar um corretivo também senhorita Mambazo? Irmã Frederica pergunta tentando impor seu terror na moça que visivelmente esta defendendo Grace.

- Gostaria bem mais de informar a madre superiora sobre os castigos físicos que aplica em Grace! Ela fala debochada sem temer a mulher que faz da vida delas um inferno na terra.

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Desde o falecimento de irmã Ruth a cerca de 4 anos, Irmã Dulce foi alçada ao posto de Madre superiora, para júbilo de Padre Carras que é o padre responsável por Saint Johns, a Madre anterior tinha sido uma boa religiosa, mas embora se sinta culpado, sua morte se deu na época mais propícia para todas as mudanças que vinham acontecendo.

Os dois estão sentados no grande escritório secular, à sua frente irmã Frederica fala nervosa, o peso extra da irmã a fazendo ofegar e seus pequenos olhos semelhantes a olhos de porco, muito azuis e pequenos, tremem diante de seu ódio.

As duas meninas estão sentadas lado a lado, Grace tem o braço em um vergão vermelho, já ameaçando ficar roxo em sua pele alva. Do mesmo tamanho da fúria de Frederica, a fúria de Nina também é um fato.

A moça apesar de pertencer a uma família abastada de Nova Orleans, vive no convento desde os 14 anos, tendo sua mãe falecido, seu pai não achou meios de cuidar sozinho da menina voluntariosa. Toda a ironia da coisa é que seu pai é um dos maiores, senão o maior da religião conhecida por Palo Mayombe. Quando Nina foi admitida no Saint Johns, houve protesto de parte de algumas freiras mas a instituição além de estar com suas finanças ameaçadas, tinha irmã Dulce que era do pensamento que a todos pode ser ofertada a fé católica sem distinções. Assim a moça foi admitida ja há três anos para viver ali até os 21 se fosse do desejo de seu pai, inclusive sua fé sendo respeitada no ambiente doméstico do convento. Apesar de pertencer a outra cultura e sua religião que se originou no Congo ter sido introduzida nos EUA por negros vindos de Cuba, Nina se sente feliz em viver ali, principalmente por ter encontrado uma amiga, sua primeira amiga de verdade.

Nina irá viver ali enquanto estiver estudando, as ordens de seu pai são claras quanto a ela estudar teologia, ela poderia concluir o ensino médio e ir á uma faculdade, mas seu pai preferiu que ela estivesse resguardada no convento recebendo sua educação e formação ali. Adiantada um ano , Nina tem um intelecto surpreendente, tendo pulado uma série o que a fará terminar o ensino médio um ano antes do programado, aos 17 anos ela parece muito mais madura e segura de si do que Grace que é um ano mais velha.

Ela se queixa de forma veemente a irmã Dulce, expondo mais uma vez os castigos físicos que irmã Frederica submete Grace, parecendo ter algo contra a moça, Nina insinua de forma maliciosa a inveja de Frederica pela posição ofertada a irmã Dulce, o que deixa a freira mais irritada chegando a soltar impropérios contra a garota negra que a enfrenta sem desviar o olhar.

- Já chega! Irmã Frederica contenha-se, você está na casa de Deus e não em uma briga de bar! Nina tenha mais respeito ao falar! irmã Dulce explode mas sem deixar de observar que a moça tem toda a razão. Não podendo atingi-la, Frederica desconta em sua sobrinha sua raiva por não ter sido escolhida para substituir irmã Ruth.

- Não toleramos castigos físicos aqui, menos ainda direcionamos os castigos de forma seletiva! Ela fala séria sabendo bem que Frederica da preferência e até protege algumas alunas filhas de figurões da cidade. Coisa que Irmã Dulce nunca fez em relação a sobrinha, mesmo sua educação sendo paga com recursos externos. Grace vive como qualquer outra das residentes, da mesma forma que Nina com quem divide os aposentos.

Irmã Frederica sente-se como se fosse esbofeteada, Irmã Dulce lhe impõe uma penitência bem como para ambas as meninas, uma por dormir e a outra ... bem ... Nina por ser Nina, uma força indomável.

- Vamos Grace, vamos fazer nossas orações juntas! Quem sabe Deus ou qualquer dos anjos nos escuta e faz a irmã Frederica deixar de nos perseguir! ela fala de forma debochada mas nem padre Carras e menos ainda irmã Dulce a repreendem, sabendo que ela não está de todo errada.

Antes que saiam irmã Imaculada entra após bater de forma apressada.

- Padre .. Madre, temos um pequeno problema! ela fala com seus olhos claros arregalados, os dois logo reconhecem ou melhor imaginam o problema... e tratam de despachar as três cada qual com sua penitência, indo rapidamente a parte antiga do convento, as catacumbas e o porão sendo terra proibida para todos, somente os três Carras, Dulce e Imaculada tendo a autorização de ali entrar.

Nina ainda olha curiosa pras três figuras vestidas de negro se afastando, mas sabe ser impossível segui-los e saciar sua curiosidade.

Grace a pega pela mão se encaminhando rápido pra nave da igreja, desejosa de fazerem logo suas orações para conseguir ler um pouco antes do jantar.