- Ainda bem que te jogaram pra favela mina, mó dahora conhecer as cultura dos cria - Nós rimos juntos, ele era legal comigo, e na minha cabeça eu precisava de um amigo aqui dentro.
- Valeu por me apresentar um pouco do morro, faz quase duas semanas que estou aqui e só conheço o caminho da escola.
- Se quer um conselho de amigo é melhor não andar por aqui sozinha não pô - Ele disse sério - O pessoal não te conhece ainda, sacou?
- Tô ligada - Falei firme e ele riu.
- A Gabriela ia curtir teu jeito - Ele comentou subindo na moto.
- Você é casado? Aí meu Deus não quero nenhuma louca vindo atrás de mim não hein - Brinquei.
- Achei que tu não corria de briga não pô, mas ela é minha irmã.
- Vou adorar conhecer - Disse simpática.
- Qualquer hora tu encontra ela no morro aí, mas tá na hora do meu turno mina, nois tem que ir. - Eu assenti e subi na moto logo em seguida, fomos de volta para a oficina e finalmente minha moto estava pronta, Agradeci e paguei o mecânico e logo depois vim direto pra casa.
Não vou negar que a possibilidade de morar no morro passou pela minha cabeça, essa ida e volta pra casa cansa demais. Tenho certeza que se morasse lá isso diminuiria, mas tem a Dona Cláudia, não posso deixar ela com a desmiolada da Amanda.
- Mãe, cheguei - Gritei assim que estacionei dentro da garagem.
- Já estava preocupada com você Liv - ela abraça-me.
- Porque tá com esse monte de papel no sofá - Disse assim que tirei o capacete e olhei pra sala.
- São papéis do banco. - Ela disse simples.
- Algum problema mãe?
- Nenhum meu amor, eu só estou vendendo um apartamento do seu pai - Ela avisou.
- Em Ipanema? - Perguntei
- Decidiu isso do nada? Sabe que a Amanda não vai aceitar isso não é?
- A sua irmã não tem que opinar em nada, eu ainda administro as coisas que eu e seu pai conquistamos Lívia.
- Mas porque tá fazendo isso?
- Você precisa de um carro, a sua irmã parece ser surda quando eu digo que uma semana é dela e na outra o carro e seu - Explicou chateada.
- Para mãe, a senhora sabe que eu não ligo pra isso - Digo colocando a bolsa em cima da mesa na sala de jantar.
- Você não liga mas eu sim, o seu pai nunca permitiria isso, o seu carro vai ser um blindado ainda, meu coração acelera todos os dias que você sai por aquela porta.
- Não estou afim de brigas com a Amanda - Falo pegando uma maçã na fruteira e no mesmo momento ela também chega do trabalho.
- Oi Mãe, que cansaço! - Ela disse se jogando no sofá - Tá fazendo o que? - Perguntou pegando alguns papéis.
- Vou comprar um carro filha.
- Sério, que bom. Eu estava querendo mesmo trocar, já abusei da land do papai - Ela diz com a maior naturalidade do mundo.
- Eu sinto muito Amanda, mas o carro será da Lívia. Ela está precisando muito pra poder ir trabalhar - Amanda me mediu dos pés à cabeça enquanto eu segurava aquela maçã, confesso que fiquei com medo de engasgar.
- Você vai dar um carro pra Lívia? Com que dinheiro pretende fazer isso? Pelo que eu me lembre a empresa está melhorando agora - Ela reclama.
- Vou vender o apartamento de Ipanema - Amanda ri me olhando.
- Você está de brincadeira não está? Não pode vender aquele apê, sempre passamos os finais de ano lá mãe.
- Nós não, eu e seu pai sempre preferimos ficar no sítio, você que sempre levou um monte de desconhecidos pra lá. - Nesse momento Amanda já me olhava com puro ódio.
- Eles são meus amigos - Disse séria.
Eu e minha irmã apesar de sermos de pais diferentes temos algumas partes físicas parecidas, ou talvez tínhamos né. Ela sempre gostou de mudar tudo e não seria diferente com o corpo dela. A única coisa que eu já fiz na vida foi colocar silicone. Amanda e loira, um pouco mais alta que eu e mais cheinha também. Quando nosso pai morreu a única coisa que me aliviava era a academia, mas com a Amanda foi diferente.
- Eu não preciso de carro mãe - Digo.
- Eu não perguntei Lívia, não quero perder mais ninguém. - Ela afirma e eu me calo.
- Se o problema for esse então porque ela não sai daquela favela? aposto que assim que a Lívia ter um carro ela para de dar aula lá.
- Eu não tenho nenhuma competição com você Amanda. E não vou te explicar, você não entenderia.
- Eu não quero vocês duas brigando, já está resolvido - Nossa mãe afirmou e foi guardando todos aqueles papéis, não queria mais olhar pra cara de cu da minha irmã então fui pro quarto.
Assim que me joguei na cama peguei o celular, e lá estava um pedido de solicitação no Instagram com o nome @gabrielsoares imaginei que fosse ele pois na foto do perfil tinha a mesma vista de hoje mais cedo, mas não pude confirmar pois não tinha nenhuma publicação dele.
- Lívia - Alguém diz quando abre minha porta do nada, mas ela parecia calma dessa vez.
- Algum problema?
- O Matheus perguntou de você - Ela diz sincera - Perguntou se eu poderia passar seu novo número mas eu disse que não sabia se era o certo - Contou.
- Não passe por favor - Me virei de novo para o meu celular.
- Devia conversar com ele - Sugeriu.
- Não tenho mais nada pra falar com o Matheus, tudo que tínhamos pra dizer já foi dito - Disse séria.
- Eu sei, mas vocês dois namoraram por cinco anos irmã. Ele tá mais bonito ainda que antes - Ela comenta.
- Pode pegar pra você - Sugiro.
- Não quero o ex da minha irmã, tá louca.
- Não precisa fingir que se preocupa comigo, a cinco minutos você queria voar em cima de mim - Falo seca.
- Tá desculpa, não devia ter falado nada.
- Sai Amanda, eu quero dormir. - Falo e ela sai do quarto.