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Meu pai cuidadosamente retirou um a um os objetos da caixa que ficava no canto da sala, revelando segredos que estavam há muito tempo escondidos. Ele colocou na mesa o colar com a pedra preciosa, o cordão com o símbolo gravado e, finalmente, uma foto que parecia ser a chave para muitas das perguntas que estavam me consumindo.
Na foto, eu e a minha "gêmea" éramos apenas crianças, mas já havia algo diferente em nossos olhares, algo que refletia o peso do destino que carregávamos. Ao nosso lado, estavam Gabriel e Lúcius. Eu os via juntos, mas não conseguia entender o que estavam fazendo ali. Lúcius estava com um olhar firme, sério, como quem sabia que algo importante estava prestes a acontecer, enquanto Gabriel parecia mais tranquilo, mas ainda com a mesma intensidade nos olhos. E ao fundo, estava a figura de uma mulher idosa, um ancião, com uma presença forte e tranquila, que olhava para todos nós com uma expressão de sabedoria profunda.
Eu fiquei parada, olhando para a foto, até meu pai começar a falar, sua voz baixa, mas cheia de significados escondidos.
- Essa foto... Ela é de um tempo muito distante, mas a história por trás dela é crucial. A mulher atrás de vocês é uma guardiã, uma anciã que cuidava de sua mãe. Sua mãe... Ela não era como nós, Dara. Ela era a líder do nosso povo. A mãe de vocês tinha um poder ancestral, e ela foi a última a carregar esse poder com a responsabilidade de manter o equilíbrio entre os mundos. O que você e sua irmã ivy têm, é o reflexo desse poder. A profecia que sempre esteve ligada a vocês dizia que uma se faria duas, e que uma delas, no futuro, teria o poder de restaurar o equilíbrio perdido.
Ele fez uma pausa, como se ponderasse o que mais revelar.
- Gabriel e Lúcius... Eles eram os guardiões de vocês. Cada um de vocês tinha um guardião, que estava ali para protegê-las até que fosse o momento certo para que o poder delas se manifestasse. Cada guardião era indicado para uma menina. Gabriel... Ele sempre foi o guardião de Ivy. E Lúcius, o guardião de você, Dara. Eles cresceram junto de vocês, observando, protegendo. Mas esse equilíbrio precisava ser mantido até que vocês chegassem ao momento da verdade. Eles sabiam que isso seria um peso, mas também uma responsabilidade. E, por muito tempo, os dois fizeram o que podiam para proteger vocês e preparar o terreno para que tudo acontecesse de maneira segura.
Eu ouvi, atenta, tentando entender. Lúcius não era o vilão ainda. Ele era um guardião, assim como Gabriel. Mas por que ele se afastou? Por que, então, as coisas pareciam tão complicadas agora? O que havia mudado?
- Não sei se você conseguirá entender tudo isso de uma vez, Dara. Mas o que você precisa saber é que tanto Gabriel quanto Lúcius sempre estiveram ao seu lado, mesmo que de maneiras diferentes. Eles estavam ali para guiar vocês até o momento em que o destino delas se cumprisse. Até a hora certa de as duas tomarem o seu lugar, de fazerem o que têm que fazer.
As palavras de meu pai me deixaram ainda mais confusa, mas também havia uma sensação de que agora, mais do que nunca, as coisas estavam se movendo. Não havia mais como voltar atrás. Eu olhei para ele, tentando processar o que ele acabara de dizer.
- O que acontece agora? - perguntei, sem saber se estava pronta para o que estava por vir.
- Agora, Dara, vocês estão mais próximas do que nunca. O momento delas vai chegar, mas até lá, você precisa estar preparada. Você precisa saber quem você realmente é, e qual o papel que você e Ivy têm nesse mundo.
Eu olhei para os objetos, para a foto, e uma sensação de ansiedade cresceu dentro de mim. O destino estava se aproximando, e o que quer que fosse essa "hora certa", ela estava mais perto do que eu imaginava. E, talvez, fosse mais complicado do que qualquer coisa que eu já tivesse imaginado.
O silêncio que se seguiu às palavras do meu pai parecia pesado, como se o ar estivesse carregado de algo que ele não queria dizer, mas sabia que era inevitável. Eu não podia mais me conter, não podia mais ficar quieta enquanto tudo ao meu redor começava a se desintegrar. As respostas estavam começando a surgir, mas eu precisava de mais. Precisava entender por que minha vida, tudo o que eu conhecia, havia sido uma mentira. Ou pelo menos, uma história incompleta.
Eu olhei fixamente para o meu pai, minha voz tremendo, mas cheia de uma necessidade urgente de saber.
- E Ivy? - Perguntei, com um nó na garganta. - Por que ela não vivia conosco? Por que ela ficou separada de mim? Eu mereço saber isso!
Ele ficou em silêncio por um momento, o olhar distante, como se estivesse revivendo memórias que preferia manter guardadas. Quando ele finalmente falou, a voz dele estava mais baixa, como se ele tivesse feito uma escolha ao dividir aquele peso comigo.
- Ivy... Ivy manifestou seus poderes muito cedo - ele começou, cada palavra carregada de um peso que parecia atravessar o espaço entre nós. - E esses poderes... eram fortes demais para que ela permanecesse aqui, entre os humanos. Ela era... muito aflorada, Dara. Sua conexão com o que vocês são... era intensa. Eu tinha medo do que poderia acontecer se ela não fosse contida. Ela não poderia viver entre os humanos, porque os seus poderes a consumiriam, e as pessoas ao seu redor não entenderiam.
Eu franzi a testa, sentindo a dor nas palavras dele. Ele estava falando sobre Ivy, mas ao mesmo tempo, me fazia entender o quão diferente ela era de mim. Me fez sentir como se estivéssemos destinadas a caminhos distintos desde o início.
- E você a mandou para Nebulos? - Eu perguntei, tentando entender o alcance das decisões que ele tomava. - Por que lá? O que havia em Nebulos que poderia ajudar a controlá-la?
Ele suspirou profundamente, o peso do passado claramente lhe trazendo angústia. Ele se aproximou de mim e se sentou, olhando-me nos olhos com uma sinceridade que nunca antes havia demonstrado.
- Nebulos... era o único lugar onde Ivy poderia ser contida e, ao mesmo tempo, treinada. Lá, ela poderia aprender a controlar seus poderes sem colocar em risco a nossa realidade. Nebulos não é como o mundo humano. É um lugar onde as energias, a magia... tudo ali pode ajudar a preservar quem eles são. Mas Ivy... ela não foi apenas isolada. Ela foi preparada para ser a escolhida. Acreditávamos, eu e todos ao nosso redor, que ela seria a responsável por manter o equilíbrio, por garantir que o que foi quebrado fosse restaurado. Mas, com o tempo, as coisas mudaram. Eu não sei mais o que está acontecendo. Não tenho mais contato com ninguém de Nebulos. Não sei como ela está.
As palavras dele caíram como pedras em meu peito, e eu fiquei paralisada, tentando processar tudo. Ivy... tão distante, tão diferente de mim. Ela foi a escolhida... mas ela também estava presa, cercada por algo que a tornava perigosamente poderosa. Por que isso nunca me foi contado antes? Por que ele nunca havia me explicado?
- Mas você... você sempre achou que Ivy seria a escolhida? - Eu perguntava, a frustração agora tomando conta de mim. - E eu? Eu não sou nada disso? Você não acha que eu também tenho um papel nisso?
Ele parecia ter ficado mais velho naquele momento, como se o fardo de seus próprios segredos tivesse envelhecido sua alma. Ele passou a mão nos cabelos e, com um suspiro profundo, respondeu:
- Eu sempre achei que Ivy fosse a escolhida, Dara. Os poderes dela eram mais evidentes, mais... selvagens. Mas agora... vendo você, vendo o que está acontecendo, eu não sei mais. Algo mudou, e você está no centro disso tudo. O que você tem, o que você sente... Não sei o que significa mais. Eu não sei o que está acontecendo com Ivy ou com você. E isso... isso me assusta.
A revelação de meu pai parecia desmoronar ainda mais as certezas que eu tinha. Ele não sabia. Ele estava perdido, assim como eu. O que quer que estivesse prestes a acontecer, ele não tinha mais controle sobre isso. E agora, mais do que nunca, eu sentia a pressão de algo maior. De um destino que eu mal conseguia entender, mas que me chamava.
Eu olhei para ele, os olhos marejados de dúvidas, raiva e tristeza.
- E o que acontece agora, pai? O que acontece com Ivy e comigo?
Ele não respondeu de imediato. Ficou em silêncio, seus olhos refletindo a mesma confusão e medo que eu sentia. Então, finalmente, ele murmurou, quase como se estivesse dizendo para si mesmo:
- Eu não sei. Eu não sei mais.
Eu subi as escadas devagar, o peso das palavras do meu pai ainda me sufocando. O que ele tinha dito sobre Ivy... sobre a mãe... tudo parecia tão incompleto. Eu sentia uma raiva crescente dentro de mim, uma confusão sem fim. Como ele podia ter escondido tudo isso de mim? Como ele podia ter deixado Ivy tão distante? Eu não sabia se sentia mais raiva ou tristeza. Sentia que toda a minha vida estava construída sobre mentiras, sobre uma verdade que ninguém teve coragem de me contar até agora.
Quando cheguei perto do meu quarto, dei de cara com um dos espadas. Ele estava parado ali, à porta, como sempre, sério, imperturbável. Mas, naquele momento, algo nele estava diferente. Algo nos olhos dele, talvez, ou no jeito como ele se postava, que parecia mais... pessoal, por assim dizer.
Fiquei parada, os olhos fixos nele, sem saber o que fazer. Ele me olhou de volta e, por um segundo, parecia que ele ia apenas virar e seguir seu caminho, mas então, com uma voz suave, mas firme, ele disse:
- Dara, precisamos conversar.
Eu não sabia o que esperar. Ele sempre foi sério demais, distante demais para uma conversa como aquela. Mas havia algo em sua postura que me fazia sentir que, talvez, ele tivesse algo importante para me dizer. Assenti, ainda sem palavras, e ele me conduziu para uma sala próxima, onde sentamos em silêncio por um momento, como se ambos estivéssemos esperando que algo nos desse coragem para começar.
Eu não sabia o que ele queria, mas, por alguma razão, eu sabia que aquele momento mudaria algo em mim. Algo que eu nem sabia que precisava saber.
Ele respirou fundo e, como se estivesse se preparando para falar uma verdade que não queria revelar, começou:
- Nebulos... Nebulos era governado por doze anciãos. E pela Força Interestelar. Essa Força, Dara, ela era o que mantinha o equilíbrio entre tudo. Era uma energia poderosa, mas não qualquer tipo de energia. Ela era transmitida geneticamente por uma família muito importante de Nebulos, uma família da qual vocês fazem parte. A sua mãe... a sua mãe era uma dessas pessoas, Dara. Ela era uma das que detinha o poder da Força.
Eu o olhei, tentando entender. Então era isso... a minha mãe fazia parte dessa linhagem, desse poder? Mas o que isso significava para mim? Para Ivy?
Ele pareceu perceber a confusão nos meus olhos e continuou:
- Mas a sua mãe... ela tomou uma decisão. Uma decisão que... que afetou tudo. Ela se apaixonou. Não foi por querer, mas o amor dela... foi uma paixão tão forte que ela tentou viver isso. Tentou viver o amor como uma humana. Ela rejeitou o poder que tinha. Rejeitou a Força.
Eu senti meu coração acelerar. O que ele estava dizendo? Ela rejeitou tudo? Ela escolheu um amor ao invés do poder? Isso não fazia sentido para mim. Como alguém poderia abandonar algo tão grande, tão vital?
Ele parecia ler meus pensamentos, ou pelo menos, tentar. Ele abaixou os olhos por um momento, como se estivesse lutando com as palavras:
- Não podemos simplesmente trocar o poder por algo humano, Dara. O poder, essa Força, precisa ser preservada. Se você escolher o amor, a paixão, o que seja... isso te consome. A energia que governa Nebulos, o que dá equilíbrio ao nosso mundo, não pode ser afetada por sentimentos assim. E a sua mãe... quando rejeitou a Força, ela foi consumida por ela. A energia que ela deveria ter protegido a destruiu.
As palavras dele ecoaram em minha mente, e eu quase não consegui processar o que estava ouvindo. Ela morreu... por amor? Porque escolheu o amor ao invés de seu próprio poder?
Eu senti uma dor no peito, uma dor que parecia ser a mistura de perda e revolta. Como poderia a minha mãe ter feito isso? E se ela tivesse feito isso por mim? Ou por Ivy?
Ele parecia perceber minha dor, mas não havia muito o que ele pudesse dizer para aliviar. Então, ele continuou:
- A morte dela... foi um preço terrível. Ela acreditava que poderia equilibrar as duas coisas, mas a verdade é que o poder não pode ser compartilhado. E ela morreu porque, no fundo, ela queria viver a paixão que os humanos vivem. E a energia, a Força, não tem lugar para isso. Nenhuma pessoa que detém esse poder pode desistir dele por algo tão... humano. Porque isso a destrói. E foi o que aconteceu.
Eu olhei para ele, tentando entender. A minha mãe... ela rejeitou a Força? O que isso significava para mim e para Ivy? Se isso foi o que aconteceu com ela, o que aconteceria conosco? Estávamos destinadas a seguir o mesmo caminho?
- Então... foi isso? - Perguntei, minha voz tremendo. - Foi por isso que ela morreu? Porque ela escolheu o amor, e não a Força?
Ele ficou em silêncio por um momento, e quando falou, sua voz estava mais suave, mas cheia de uma tristeza que parecia envolver o ambiente.
- Sim, Dara. Ela escolheu o amor... e a Força a destruiu.
Eu não sabia o que pensar. Estava perdida entre a dor de perder minha mãe e a culpa que sentia por talvez não entender a escolha dela. Tudo o que eu sabia era que, de alguma forma, eu e Ivy éramos parte de algo muito maior, algo muito mais complicado do que podíamos imaginar.
E agora... agora era a nossa vez de lidar com isso.
Por um instante, eu pisquei várias vezes, tentando afastar as lágrimas, mas elas continuavam a encher meus olhos. Eu estava confusa demais para processar tudo o que ele tinha acabado de me dizer. Então, para tentar me acalmar, respirei fundo, mas o choque veio de onde eu menos esperava. Ele pegou a minha mão.
O toque dele foi como uma descarga elétrica. Uma sensação fria e quente ao mesmo tempo, uma energia que correu por minha pele e subiu até os meus braços. Foi tão intenso que eu quase senti o chão desaparecer sob meus pés. Algo dentro de mim reagiu a esse toque de uma maneira que eu não consegui entender. Era como se aquela sensação fosse... familiar, mas ao mesmo tempo estranha. Algo desconhecido, mas ao mesmo tempo tão próximo, como se fosse parte de mim. Ele também sentiu, pois logo afastou a mão, como se tivesse tocado algo que não deveria.
O silêncio que se seguiu entre nós dois parecia denso e carregado de algo que ainda não conseguíamos compreender. Ele me olhou com uma intensidade que me fez sentir como se estivesse sendo examinada por dentro, como se ele pudesse ver algo em mim que eu mesma ainda não conseguia perceber.
- Seus poderes... - Ele começou, sua voz tensa. - Já foram ativados, Dara? Você... já abusou deles?
Eu o olhei incrédula. Aquela pergunta não fazia sentido algum. Poderes? Eu não sabia o que ele estava falando.
- O quê? - Eu consegui perguntar, tentando entender, a confusão dominando cada parte de mim. - Eu... não tenho poderes. O que você está dizendo?
Ele me encarou por um momento, e eu pude perceber que ele estava tentando calcular o que dizer, tentando medir suas palavras. O olhar dele parecia pesar como se ele tivesse acabado de perceber algo que ele não sabia antes. Ele se sentou um pouco mais distante, seu rosto tenso, como se estivesse lidando com algo muito mais complicado do que parecia.
- Dara... - Ele disse com uma calma forçada, como se tentasse processar o que havia acabado de acontecer entre nós. - Você tem. Não sabia disso, mas tem. Seus poderes estão aí, e a reação ao toque... é uma confirmação disso.
Eu olhei para ele, agora mais confusa do que nunca. Eu não sentia nada diferente em mim. Eu não tinha feito nada que pudesse ser chamado de poder, nada que fosse visível ou perceptível, mas... algo estava errado, eu sabia. Algo estava mudando, e eu não sabia como lidar com isso.
- Eu... - tentei falar, mas as palavras me falharam. - Como... como isso aconteceu? Eu não... eu nunca senti nada assim antes.
Ele respirou fundo, como se estivesse tentando se acalmar também, como se tivesse que reunir coragem para me contar algo que ele temia.
- Quando a energia da Força começa a despertar em alguém, não é algo que acontece de uma hora para outra, Dara. Pode ser gradual, mas, de alguma forma, você... tocou nela. E quando você fez isso... sua energia reagiu. Isso significa que seus poderes estão se manifestando, talvez mais rápido do que você imagina.
Eu engoli em seco. Não sabia se sentia medo ou fascinação. Eu nunca soubera que tinha poderes, nunca imaginei que seria capaz de algo assim. O que ele queria dizer com "energia"? E se eu tinha realmente esses poderes, o que eu deveria fazer com eles?
- Mas... o que isso significa para mim? - Eu perguntei, minha voz falhando. - O que eu faço com isso? Como eu controlo isso? Eu nem sei o que é isso.
Ele me olhou, agora com um brilho de preocupação nos olhos.
- A manifestação da Força é imprevisível. Algumas pessoas nascem com ela mais forte, outras com ela mais latente. Você tem que aprender a controlá-la antes que ela comece a controlar você. E não se engane, Dara. Essa energia pode ser tanto sua aliada quanto sua inimiga, dependendo de como você a usa.
Eu senti um arrepio na espinha. Ele estava falando de algo muito grande, algo que estava além do que eu poderia controlar. Eu não sabia o que fazer com isso. Eu era uma pessoa comum, até pouco tempo atrás. Eu não sabia nada sobre esse poder, e agora... agora ele estava se manifestando em mim de uma forma que eu não conseguia entender. E, pior, ele estava se manifestando de uma forma que eu não sabia como impedir.
- Então... como eu começo a aprender a controlar? - Perguntei, minha voz cheia de incerteza. - Como eu posso me preparar para isso?
Ele me observou por mais um momento, como se estivesse decidindo se deveria me contar mais ou não. Mas, antes que ele pudesse responder, um som vindo de fora interrompeu nosso momento de tensão. Algo estava prestes a acontecer, algo que nós dois sabíamos que não podíamos controlar.
No instante seguinte, uma energia cortante e elétrica preencheu o ar ao nosso redor. Eu não tive tempo de reagir. Ivy apareceu, quase como uma sombra, com uma bola de energia pulsante na mão. Ela parecia tão distante, tão diferente da garota com quem eu sonhei e brinquei em minha infância. Seus olhos estavam vermelhos, quase inumanos, e uma aura de raiva e desespero a envolvia. Antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, ela atirou a bola de energia na nossa direção, e tudo ao redor se iluminou com uma explosão de luz.
Eu fiquei paralisada, o medo gelando minhas veias, mas antes que a energia me atingisse, Lucius se lançou na frente de mim. Ele me segurou nos braços com uma força imensa, e senti a tensão da luta dentro de mim. Seus músculos estavam tensos, e eu quase pude ouvir a luta interna dele. Ele estava me protegendo, mas algo nele parecia estar se despedaçando enquanto fazia isso.
A bola de energia passou perto de nós, mas não nos atingiu. Eu senti a pressão de sua energia vibrando ao redor, como se estivesse tentando me consumir. E enquanto tudo isso acontecia, Lucius não tirava os olhos de Ivy, que estava avançando, sua energia cada vez mais intensa. Quando ela se aproximou ainda mais, Lucius nos afastou com um movimento brusco, e num piscar de olhos, estávamos em Nebulos.
O cenário mudou tão rapidamente que eu mal pude entender o que estava acontecendo. A paisagem ao nosso redor era completamente diferente. O ar estava mais denso, a energia mais pesada. Nebulos... tudo ao meu redor era sombrio e, ao mesmo tempo, repleto de uma beleza distorcida, quase assustadora. A cidade era como um reflexo de tudo o que eu ainda não entendia sobre minha origem. Tudo parecia girar ao meu redor enquanto a tensão entre nós três crescia.
Lucius gritou com Ivy, sua voz cheia de uma autoridade que eu não sabia que ele possuía. Ele parecia furioso, mas também... preocupado. Era como se ele estivesse lutando contra algo mais profundo, algo pessoal entre ele e Ivy.
- O que você está fazendo aqui, Ivy? - Ele gritou, a raiva em sua voz reverberando em cada palavra. - Você não pode fazer isso. Não pode sair de controle assim!
Mas Ivy não parecia se importar com suas palavras. Seus olhos estavam ainda mais vermelhos, mais intensos, como se ela estivesse fora de si. Ela olhou para Lucius com um ódio profundo.
- Você feriu o Gabriel, não foi? - A voz dela estava carregada de raiva. - Aonde ele está, Lucius? O que você fez com ele?
Eu senti meu coração apertar no peito ao ouvir o nome de Gabriel. A preocupação me tomou de surpresa, uma onda avassaladora de medo e insegurança. Eu não sabia o que ele estava fazendo ali ou onde estava, mas a simples menção dele me fez querer correr até ele, sem pensar nas consequências. Aonde ele estava? Por que ele teria sido ferido?
Meus pensamentos estavam tão confusos, minha mente uma tempestade de perguntas, mas antes que eu pudesse processar tudo, os olhos de Ivy se fixaram em mim. Ela parecia estar buscando algo em minha expressão, e isso só aumentou a sensação de estranheza no ar.
- O que aconteceu com ele, Dara? - Ela sibilou, como se me desafiando. - O que você sabe?
Eu tentei ignorar o pânico crescente em meu peito e olhei para Lucius, esperando que ele tivesse uma resposta. Mas ele apenas afastou Ivy de nós, como se ela fosse uma ameaça direta. E foi aí que ele disse, com um tom que não deixava espaço para dúvidas:
- Você sabe que eu não posso te tocar, Ivy. Você sabe que eu não posso te ferir. Não podemos mais fazer isso.
Mas Ivy não parecia se importar. Ela estava descontrolada, seus gritos ecoando pelo ambiente, uma mistura de dor e raiva pura.
- E eu não ligo para essa criança que estou gerando! - Ela gritou, os olhos cheios de uma loucura que me fez estremecer. - Afinal, do que adianta, se o Gabriel nem olha pra mim? O que importa se ela está aqui? Se tudo isso é em vão?
Suas palavras me cortaram como uma lâmina afiada. Ela estava completamente transtornada. A raiva e a dor em sua voz eram tão intensas que eu não sabia como reagir. Como ela podia estar tão perdida? E o que isso significava para nós? Para mim?
Lucius, aparentemente ainda tentando manter a calma, fez um movimento brusco, como se estivesse tentando controlar a situação. Ele olhou para Ivy com uma expressão dura, mas no fundo, eu podia ver o quanto ele estava sofrendo com tudo aquilo. Talvez ele estivesse preso entre a necessidade de protegê-la e o peso da dor que ela estava carregando.
- Isso não é sobre você, Ivy! - Ele gritou, sua voz grave. - Isso nunca foi sobre você e Gabriel. Isso é maior que todos nós. Não adianta você tentar lutar contra isso!
Mas as palavras de Ivy estavam tão descontroladas, tão carregadas de dor, que eu não sabia como isso acabaria. E, no fundo, eu sabia que, de algum jeito, tudo o que estava acontecendo entre nós três estava apenas começando.