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Eu segurava Gabriel com cuidado enquanto caminhávamos pela escuridão da caverna. Seus ferimentos ainda pareciam profundos, mas algo dentro de mim, uma força inexplicável, me dizia que eu poderia curá-lo. Com cada passo, o calor de sua pele contra a minha me dava força. Eu sabia que ele precisava de mim, e eu não poderia falhar. Não dessa vez.
Quando finalmente conseguimos sair da caverna e eu mentalizei voltar ao meu quarto, senti um alívio momentâneo. Gabriel estava tão vulnerável, tão quebrado, mas ao mesmo tempo, uma chama ainda brilhava nos seus olhos, mesmo que ele estivesse inconsciente. Levei-o cuidadosamente para o meu quarto, sentindo cada movimento com uma tensão crescente.
Quando passamos pela porta, no entanto, o ambiente mudou. Búzios estava lá. Eu o vi, sentado em uma das cadeiras próximas à janela, como se soubesse exatamente quando nós voltaríamos. O olhar dele era intenso, e sua presença parecia dominar o quarto. Ele se levantou rapidamente, seus passos elegantes e silenciosos.
- Você trouxe ele aqui? - Búzios perguntou, sua voz suave, mas carregada de uma preocupação que não podia ser ignorada. - Você não sabe o que ele fez, Dara. Ele só vai te trazer dor, problemas. Você não precisa disso agora. Você tem mais dentro de si do que ficar se envolvendo com ele.
Eu parei, hesitando. Gabriel estava tão frágil, mas algo na voz de Búzios me fez questionar tudo. Ele parecia... ele parecia tão certo. Eu sabia que Gabriel tinha algo dentro dele, algo de que eu não compreendia ainda, mas a dúvida começou a se infiltrar em meu coração. Eu não queria mais sofrer, não queria mais ver as pessoas que amava se machucando. Será que Búzios estava certo?
Búzios se aproximou, com uma gentileza que eu não esperava dele. Ele tocou minha mão com um cuidado que me fez arrepiar. O contato foi quente, reconfortante, e eu senti meu corpo relaxar com a suavidade daquele gesto.
- Eu só quero o melhor para você, Dara - disse ele, os olhos fixos nos meus. - Você merece mais do que uma vida cheia de incertezas. Eu vou te mostrar algo. Uma pessoa que pode te ajudar, que pode te guiar. Alguém que cuida da sua mãe.
Eu fiquei paralisada por um momento. O que ele queria me mostrar? Eu tinha tantas perguntas, tantas dúvidas. Mas, ao mesmo tempo, algo no jeito dele me fazia sentir segura, quase como se ele fosse a resposta para a bagunça que se tornara minha vida.
Sem dizer nada, eu dei um passo atrás, sentindo a dúvida e a curiosidade se misturarem dentro de mim. Eu olhei para Gabriel, ainda imóvel na cama, e senti um aperto no peito. Mas, mesmo assim, segui Búzios. Fui com ele, sem entender completamente o que estava fazendo, mas era como se ele tivesse uma força sobre mim, uma presença que me atraía cada vez mais.
Ele me conduziu até um lugar isolado dentro da casa, onde a brisa suave passava pelas janelas abertas. O ambiente era tranquilo, sereno, e havia algo de misterioso no ar. Lá, encontrei uma mulher idosa, com os cabelos brancos e uma expressão serena, como se o tempo não tivesse poder sobre ela. Ela era a mocinha que cuidava de minha mãe, ou pelo menos era assim que Búzios me disse.
- Ela pode te ajudar a entender mais sobre o que aconteceu com a sua mãe, e sobre o que você pode fazer com seus poderes - explicou Búzios com uma suavidade que me fazia querer acreditar em tudo o que ele dizia.
A mulher me olhou com um sorriso calmo, mas seus olhos estavam carregados de uma sabedoria que eu não sabia como lidar. Ela me ofereceu um chá, que eu aceitei, e o momento parecia suspenso, como se tudo o que estava acontecendo fosse parte de um plano maior. Eu me senti leve, como se estivesse entrando em um mundo onde tudo fazia sentido.
Búzios, ao meu lado, não disse mais nada. Ele simplesmente se manteve ali, sua presença reconfortante, os olhos fixos em mim com uma intensidade que eu nunca tinha notado antes. Ele era gentil, muito mais do que eu imaginava. Seus gestos, suas palavras, tudo parecia fazer parte de um cuidado silencioso. Ele me ajudou a me sentar e até me ajustou o cobertor, como se eu fosse a coisa mais importante naquele lugar.
Eu sentia minha visão se embaçar, como se tudo estivesse em um sonho. E, por um momento, os pensamentos sobre Gabriel, sobre o que acontecia com ele, começaram a desaparecer, substituídos por uma paz que eu não sabia que precisava. Búzios me guiava, me mostrava o caminho, e eu comecei a pensar que talvez ele fosse a resposta para os meus medos, para as minhas inseguranças.
No entanto, uma parte de mim ainda se perguntava se eu estava fazendo a escolha certa. Por que Gabriel tinha ficado em segundo plano? O que realmente estava acontecendo com ele? E por que, então, Búzios parecia ser a pessoa que eu mais confiava agora?
Enquanto ele continuava a me olhar com carinho, senti uma necessidade crescente de estar perto dele. Ele parecia me entender de uma maneira que Gabriel, por mais que me amasse, não conseguia. Eu estava perdida, mas Búzios parecia ser o farol em meio à tempestade.
Eu não sabia até onde essa gentileza me levaria. Nem sabia se ele realmente tinha boas intenções. Mas, por enquanto, eu estava disposta a seguir o que o destino me reservava. E, por algum motivo, tudo isso parecia estar acontecendo por uma razão.
Quando ele se aproximou ainda mais, a tensão entre nós parecia eletricamente carregada. Eu estava paralisada, minha mente ainda tentando processar tudo o que estava acontecendo. Lucius estava perto, muito perto, e algo no olhar dele me fez sentir como se o tempo tivesse desacelerado. Ele sussurrou, sua voz suave e cheia de um desejo contido:
- Mas, se você preferir viver o amor... Não tenha dúvidas, eu escolheria você também.
Seu sussurro foi como uma onda quente que me envolveu, e naquele instante, todos os meus sentidos foram dominados por ele. Um arrepio percorreu minha espinha, e o calor do seu corpo parecia me envolver de uma forma que eu nunca tinha experimentado. Eu nunca havia olhado para Lucius dessa maneira. A maneira como ele falou, o olhar profundo e cheio de significado, tudo isso me fez questionar o que eu realmente sentia.
Eu fiquei paralisada por um momento, sem saber como reagir. Mas, antes que eu pudesse processar tudo, ele se aproximou ainda mais, e seus braços envolveram meu corpo com uma suavidade inesperada, mas com uma firmeza que fez meu coração bater mais rápido. Ele me olhou profundamente, e antes que eu pudesse dizer algo, ele me beijou.
Não foi um beijo qualquer. Foi um beijo cheio de intensidade, de paixão reprimida, de um sentimento profundo que nem eu mesma sabia que existia dentro de mim. Ele segurou minha cintura com uma mão, a outra se apoiando nas minhas costas, e a sensação de ser tocada por ele me fez sentir como se o mundo lá fora não existisse mais. Eu estava perdida naquele momento, completamente envolvida pela presença dele.
Enquanto o beijo se aprofundava, eu me deixava levar, esquecendo por um segundo o que estava acontecendo ao meu redor. Era como se todo o peso do universo tivesse desaparecido, e, por um instante, eu não pensava em mais nada além dele. Eu me sentia quente, viva, como se estivesse finalmente entendendo o que ele queria dizer com aquelas palavras sobre o amor e o poder.
Quando o beijo finalmente terminou, nossos rostos ainda estavam próximos, respirando pesadamente, e eu podia ver a intensidade no olhar dele. Ele parecia satisfeito, mas também preocupado, como se soubesse que aquele momento não poderia durar muito.
- Dara... - ele disse, a voz baixa e quase um sussurro. - Eu nunca quis que você fosse forçada a escolher. Mas você tem o direito de decidir seu caminho.
Eu olhei para ele, ainda meio atordoada, tentando encontrar palavras para expressar tudo o que estava sentindo. Mas, naquele instante, as palavras pareciam desnecessárias. Tudo o que eu queria era continuar ali, naquele abraço, onde me sentia segura e protegida, sem a necessidade de tomar decisões precipitadas.
Mas o que eu não sabia ainda, era que esse beijo marcaria uma virada em nossa história, e que minha relação com Lucius, assim como o que estava por vir, mudaria para sempre.
Enquanto eu olhava para Gabriel, algo em mim despertava um amor profundo, mas eu sabia que não era meu. Era da Eve. O que me consumia era o amor dela por ele, algo tão forte que parecia ter se enraizado em mim de uma forma que eu não conseguia explicar. Eu podia sentir a presença de Eve, dentro de mim, quase como uma sombra, sempre me observando, sempre interferindo em meus sentimentos.
Eu sabia que Eve não podia estar perto de Gabriel, não de verdade. Ela não podia entrar na minha casa por causa da proteção que existia contra os poderes dela. Isso era algo que eu não entendia completamente, mas sabia que era real. Ela falava comigo, sua voz ecoando na minha mente. "Dara, eu não posso entrar aí. Cuide dele. Por favor."
Ela pedia, como se não houvesse outra opção. E eu não podia deixar de atender ao seu pedido. Durante os dias que se seguiram, fui cuidando de Gabriel. Fomos criando uma rotina, conversando muito, falando sobre tudo, tentando entender o que estava acontecendo entre nós, entre a minha mente e a dela, entre os sentimentos confusos que eu não conseguia processar.
Lúcius, como sempre, aparecia de vez em quando. Eu podia ver que ele não concordava com tudo isso, mas também sabia que não podia me forçar a mudar. Minha casa era o meu espaço, e, naquele momento, era o único lugar onde eu me sentia no controle.
Gabriel, ao ver meu esforço, começou a me ensinar a controlar minha energia. Com o tempo, consegui aprender a criar bolas de energia, uma habilidade que me empolgava e ao mesmo tempo me assustava. A sensação de poder em minhas mãos era algo novo, algo que eu nunca imaginei que poderia sentir. No entanto, junto com esse poder, eu comecei a perceber algo mais... um ciúmes, algo que parecia vir de Eve. Ela não estava feliz por eu estar tão próxima de Gabriel, e eu podia sentir isso, como um peso no ar.
Foi quando me lembrei. Eve estava grávida. A gravidez dela, algo que ela nunca quis, algo que eu sabia que a tinha abalado. Eu precisava conversar com Gabriel, precisava entender o que estava acontecendo entre eles, por que ele a tinha abandonado, por que ele parecia tão distante dela.
Foi uma conversa difícil, muito difícil. Gabriel me explicou tudo. Ele me contou sobre o vício de Eve em drogas, sobre como ela havia se perdido para esse mundo e como, apesar de tudo, ele tentou cuidar dela, tentou mantê-la segura. Mas a situação tinha se tornado insustentável. Ela o drogou, o deixou fora de si, e no meio disso tudo, ela engravidou dele. Eu senti meu coração apertar ao ouvir aquilo. Eu sabia que Gabriel estava me dizendo a verdade, mas não sabia como lidar com tudo isso. A dor de Eve, as escolhas que ela fez, tudo isso estava ligado a ele, e isso o tinha mudado de uma maneira que eu não sabia como entender.
Eu olhei para Gabriel, meus sentimentos estavam misturados entre a dor, a preocupação, e até uma certa raiva de tudo o que aconteceu. Mas, no fundo, eu sabia que ele não tinha culpa de nada. Ele estava perdido também, tentando lidar com um amor complicado, com uma responsabilidade que ele não havia pedido, com um destino que parecia ter sido escrito para ele. Eu queria ajudar Eve, eu queria que ela encontrasse a paz, mas, ao mesmo tempo, sabia que isso não dependia só de mim.
Eu me sentia presa, dividida entre o que deveria fazer por Gabriel e o que Eve precisava. Eu estava com o coração partido, mas também sabia que precisava seguir em frente, lidar com tudo isso da melhor maneira possível. E, no meio de tudo isso, as palavras de Eve continuavam a ecoar em minha mente. "Cuide dele." E eu sabia que, no fundo, eu faria isso. Eu faria o que fosse necessário para garantir que Gabriel estivesse bem, mesmo que isso significasse enfrentar meus próprios sentimentos, mesmo que isso significasse colocar tudo o que eu conhecia em risco.
Depois de convencer Gabriel a cuidar de Eve, tudo parecia estar seguindo seu curso. Eve estava com seis meses de gestação, e Gabriel estava tentando, do seu jeito, cuidar dela e da situação. Eu, por outro lado, tentei seguir minha vida, mas tudo parecia uma montanha-russa emocional, que nunca me permitia descer por completo.
Foi nesse período de distanciamento que Lúcius começou a aparecer com mais frequência. Ele começou a ter uma rotina de visitas, e aos poucos, as conversas com ele se tornaram mais frequentes. A princípio, eu relutava em aceitá-lo tanto em minha vida, mas com o tempo, fui percebendo que sua presença me trazia uma sensação de conforto que eu não podia ignorar.
Lúcius conversava comigo sobre tudo, sempre com aquele jeito sério e misterioso, mas, ao mesmo tempo, havia uma gentileza nas palavras dele, algo que me fazia me sentir segura. Ele sabia o que estava acontecendo com Gabriel e Eve, e de alguma forma, parecia tentar me ajudar a lidar com isso. Suas palavras, embora muitas vezes enigmáticas, me faziam pensar nas coisas de uma maneira diferente, talvez porque ele sempre conseguia me tirar das minhas dúvidas mais profundas, mesmo sem dizer tudo o que eu queria ouvir.
Nós começamos a passar mais tempo juntos. Às vezes, ele chegava pela manhã, tomava um café comigo e ficávamos conversando sobre os eventos do dia. Às vezes, só falávamos sobre coisas triviais, mas de alguma forma, aquelas pequenas conversas começaram a ser uma parte importante da minha rotina. Não era só sobre Gabriel, não era só sobre Eve; era mais sobre quem éramos agora, quem estávamos nos tornando. E eu comecei a perceber que a presença de Lúcius era um alicerce em meio ao meu turbilhão emocional.
Eu me senti confortável com ele, talvez até mais do que imaginava. Ele não me pressionava, não me forçava a falar sobre o que não queria. Mas sempre que eu precisava de algo, ele estava lá, sem hesitar, oferecendo apoio, sem julgamentos.
Eu não queria me apegar tanto, eu sabia que ele tinha seus próprios segredos, mas havia algo nele que me fazia sentir que talvez, só talvez, as coisas poderiam ser diferentes, que talvez eu pudesse encontrar uma solução para todas as perguntas que ainda ecoavam dentro de mim. Eu ainda não sabia o que ele queria de mim, nem o que estava esperando, mas sabia que, de alguma forma, ele estava se tornando uma parte importante da minha vida.
Aqueles momentos juntos começaram a me dar uma sensação de paz, algo que eu não sentia há muito tempo. No fundo, eu sabia que meu coração ainda estava dividido, mas, com Lúcius ali, parecia que as coisas estavam começando a se encaixar, pelo menos por enquanto.