A julgar pelas paredes claras, pela ótima iluminação e pelos aparelhos ligados a mim e à minha barriga, estou em um quarto de hospital. O que me leva a pensar sobre o que possivelmente me trouxe até aqui.
Reunião com Ethan e...
''Não sabemos nem se aquela criança é minha.'' Foi a última frase ouvida por mim.
Tal recordação é o suficiente para que meus batimentos acelerem e façam a máquina ao meu lado berrar ainda mais.
- Olha, você acordou! - Tyler se levanta, guardando o celular no bolso e vindo até mim imediatamente. - Você se sente melhor?
- Nem um pouco. - Fecho os olhos e levo minhas mãos às têmporas, massageando-as, tentando aliviar a dor aguda e crescente.
- Você desmaiou. Eu te trouxe às pressas. Sua pressão estava nas alturas, então a médica achou melhor você ficar aqui, pela bebê e por você.
- Eu quero a minha casa. - Digo, sem olhá-lo.
Na verdade, um apartamento cheio de caixas que ainda nem foram mexidas não pode ser chamado de lar, mas qualquer lugar é melhor do que estar aqui.
Aqui, com Tyler, sendo digna de sua pena.
- A pressão alta pode afetar o bebê, Di... - Tyler declara com a voz mansa.
Ainda não faço questão de encará-lo.
É demais pedir para ficar sozinha e poder chorar, pelo menos um pouco?
- Tyler, eu preciso ficar sozinha. - Peço, finalmente o encarando.
Quem sabe ele sinta a dor no meu olhar, se compadeça e me deixe em paz, pelo menos por alguns minutos.
- Estou preocupado. - Ele diz, com a voz trêmula. - Você quase... - Respira fundo. - Você caiu nos meus braços, Diana. Tão frágil, tão desesperada... Eu só queria poder te livrar de tudo isso e não te permitir se decepcionar com mais nenhuma atitude daquele babaca.
Suas palavras me emocionam.
Talvez porque eu realmente me identifique com sua visão. Estou fragilizada demais, realmente digna de pena de qualquer um. Ou... talvez seja por eu achar que Liam realmente tenha sido um babaca comigo.
- Como ele pôde desconfiar da paternidade? Você viveu para ele, Deus sabe o quanto sofreu para engravidar da...
- Tyler, eu preciso ficar sozinha. - Digo, quase não aguentando mais.
- Eu vou chamar a médica responsável pelo plantão para te ver. - Ele diz, de certa forma, obedecendo ao meu pedido.
Quando ele se vai e fecha a porta atrás de si, tudo o que consigo fazer é virar-me para o lado na cama, agarrar-me à minha barriga, ainda pequena, mas já visível, e começo a chorar, na posição fetal.
Cada passo que dou em busca de verdades, dou dois para trás, descobrindo mentiras ou gerando ainda mais dúvidas e questionamentos. Há uma parte de mim que se nega a acreditar que o homem em quem tanto confiei tenha sido capaz de fazer tanto para me prejudicar e me deixar sozinha com nossa filha no olho do furacão. Mas também há em mim aquela parte que sempre tenta me provar que tudo está começando a fazer mais sentido.
A máscara de Liam caiu.
Não tenho muito tempo para chorar, pois logo Tyler volta com a equipe médica.
- Diana, sua pressão está muito alta, isso pode prejudicar a sua filha. - A médica se aproxima de mim, tocando meu ombro.
A verdade é que não tenho mais forças nem para querer lutar por ela.
- Mas precisa ter, querida. Lembra do quanto lutamos para você engravidar? Dois anos de tratamento, duas inseminações, até que você e Liam finalmente conseguiram. Agora a Ayla está aí, em breve poderemos segurá-la. Mas para isso, você tem que ser forte.
- Eu não consigo. - Digo entre lágrimas.
Tyler se aproxima para me abraçar e, tão desesperada como estou, é nele que me refugio. Puxo seu blazer e me agarro ao seu tronco, ainda chorando. Seus braços fortes me envolvem e sinto seus lábios beijarem o topo da minha cabeça.
- Ela é tudo o que você sempre quis, Di. - Tyler diz com a voz suave e calma.
- Tudo o que nós dois queríamos. - Lembro de Liam. - Eu nunca quis ser mãe até ele aparecer e me fazer perceber que eu queria sim, ter muitos filhos com ele. - Digo. - Eu não esperava ser assim. Ele me abandonou, Tyler! - Grito.
- Você está muito ansiosa. - A médica constata. - Tyler, ela está te ouvindo. Vamos fazer um exercício de respiração com ela?
- Sim, doutora. - Ele responde.
A mulher começa a explicar a Tyler um exercício de respiração, que ele passa a me guiar. Aos poucos, o choro cessa e, com ele, a dor de cabeça vai embora. Tyler solta meu corpo e eu volto a deitar na cama.
Inspira... expira... é isso o que faço por incontáveis vezes, até que meus ombros relaxem e eu sinta meus olhos doloridos devido ao choro. O zumbido no meu ouvido diminuiu e a máquina que mede minha pressão parou de apitar freneticamente.
- Doutora, quando poderei ir para casa? - Pergunto. - Eu detesto hospitais, a última vez que vim foi para ver o corpo do meu marido. - Digo, já sentindo o choro voltar.
- Tem algo que possamos fazer para que ela vá para casa e se recupere melhor? - Tyler toma a minha frente, com preocupação e um certo anseio em ajudar. A mulher, baixinha e negra, de semblante sério e preocupado, encara Tyler e nega com a cabeça.
- Eu só liberaria caso tivesse uma enfermeira para cuidar dela em caso de emergência. Tyler, não estamos falando de uma mulher com hipertensão, estamos falando de uma grávida de quinze semanas, com hipertensão. O risco é fatal para a criança.
- Estamos falando de um trauma. - Tyler insiste, mas eu coloco minha mão em seu braço, como um pedido para ele parar. Ele puxa de mim, como se ninguém pudesse detê-lo. - Eu quero indicação de uma enfermeira e de tudo o que for necessário para transformar o quarto dela em um desses... - Ele se refere ao quarto de hospital.
- Tyler, vai ser uma fortuna. - Eu digo, já me desesperando.
- Eu cuido disso, não se preocupe. - Ele mal me olha.
Seu maxilar trincado e seus olhos firmes voltados para a doutora, me causam uma sensação de segurança, como se finalmente alguém estivesse ali por mim. Como se eu finalmente pudesse confiar em alguém e descansar, pois estão cuidando de mim. E, de todas as surpresas ruins do meu dia, talvez Tyler tenha sido a melhor, mesmo que ainda a mais inesperada.