- A senhorita tem um namorado muito dedicado a fazer suas vontades, querida. - Inês, a senhora de meia-idade, minha enfermeira, declara do banco de trás do carro.
Pela minha visão periférica, vejo Tyler ficar com as bochechas coradas e abrir um leve sorriso enquanto dirige pelas ruas de Manhattan.
- Não somos um casal. - Declaro. - Eu... - Olho para a minha aliança. - Sou viúva, ele é um amigo da família.
- Oh, me desculpe. - Ela afirma, claramente envergonhada. - É que pouco se vê um homem sendo tão gentil e estando tão presente e, pelas alianças nos dedos...
Deus, já vi que terei de ouvi-la falar o dia todo... Inês fala demais, isso está bem claro.
- Tyler é uma boa pessoa. - Constato e o encaro novamente.
As desconfianças de Liam parecem pequenas agora. Está ficando cada vez mais claro que Liam sempre foi o errado da história. É óbvio que ele não gostaria de alguém tão bom.
- Mas ela está certa... E essa aliança, Tyler?
- Longa história... - Ele diz, sem tirar os olhos da pista, ainda com um sorriso brincando em seus lábios rosados.
- Temos quinze minutos até chegarmos na minha casa. - Digo ao conferir a hora no meu relógio de pulso.
- Vai mesmo insistir? Não é importante. - Dá de ombros.
- Se você é casado, é claro que é importante. Deveria estar em casa, com a sua mulher, e não aqui... comigo.
- Eu não sou casado. Ainda. - Responde, parando em um sinal e olhando para mim rapidamente. - Essa aliança é como uma promessa. - Ele diz. - Uso em respeito à pessoa que amo há anos, uma promessa a mim mesmo de que estou esperando por ela. - Seus olhos fixam nos meus ao mesmo tempo em que ele declara suas palavras com sinceridade. - Eu a amo desde que estava na faculdade, mas ela nunca teve olhos para mim, sabe? Então, eu fiz uma promessa. - Ele diz.
Nosso contato visual é quebrado quando buzinas são ouvidas e Tyler precisa voltar sua atenção ao trânsito.
- Então, essa sua promessa é para a moça? - Inês pergunta, ainda curiosa.
- Sim, Inês. Meu primeiro e único amor. - Ele declara.
- E por que não fala logo com ela? Está esperando há muito tempo?
- Ela, infelizmente, não está aberta para um relacionamento no momento.
- Por quê? - Inês continua.
- Se ela não está aberta para você, deveria procurar outra. O amor deve ser correspondido, não implorado. Se não é recíproco, você deveria cair fora. - Respondo de forma sincera, mas minhas palavras parecem gélidas o suficiente.
Percebo isso, pois consigo ver a careta que Inês fez pelo retrovisor.
- Ela só não teve a oportunidade de me conhecer direito ainda. - Ele diz, me olhando de relance. - Talvez algum dia ela veja que eu não sou viciado em trabalho, mas que tudo o que eu faço é por ela.
Estranho...
- Já tentou falar para ela o que sente? Se abrir? - Inês insiste, já me irritando.
- Não adianta, Inês. Não tivemos o nosso momento ainda, mas eu acredito que esteja perto. - Neste momento, Tyler adentra o meu prédio com o carro.
- Mais rápido do que eu pensei. - Penso alto.
- Você é lindo, gentil e um homem incrível. Louca é a mulher que ainda não te percebeu aos pés dela. - Diz Inês quando o carro para, e ele abre a porta, dando a volta para abrir a minha porta e segurar minha mão. Como um perfeito cavalheiro.
- Eu acho que a mulher ainda não percebe porque, ao invés de ele estar com ela, ele está aqui. - Digo.
- Pode acreditar, apenas não chegou o momento. - Ele diz, me olhando com seus olhos azuis tão intensos que os sinto gelando a minha alma. - Um dia, ela vai olhar para o lado e me perceber. Então, ela saberá que todos os outros amores foram irrelevantes, pois apenas o meu sempre foi verdadeiro.
Inês não fala mais nada diante de uma frase tão poética, e eu também prefiro me calar. Inês traz para mim uma cadeira de rodas que me faz revirar os olhos.
- Estou grávida, não doente. - Dispenso a cadeira. - Posso andar até o elevador e depois até o apartamento, sem problemas.
Dito isso, tomo a frente e começo a andar, sendo seguida por Tyler, que carrega minha bolsa e as malas de Inês.
- Uma psicóloga fará seu acompanhamento toda semana. Sem trabalho, sem estresse. Aliás, precisamos sentar e conversar sobre como eu achei melhor a gente prosseguir nos próximos meses. - O advogado fala ao adentrarmos o elevador, e eu o olho com as sobrancelhas arqueadas.
- Como assim? - Pergunto, mas já chegamos ao meu andar e saímos do elevador antes mesmo que Tyler se esforce para me responder.
Eu não preciso pensar em fazer nada, pois Tyler toma a frente de tudo. Inclusive, quando entro no apartamento, tenho uma surpresa.
- Levou a noite toda arrumando isso?
- Contratei um serviço de arrumação, sabe? Isso precisava ter cara de lar para te receber. - Diz, deixando as malas de Inês no canto da sala e a minha bolsa sobre o sofá.
Eu ainda contemplo tudo ao meu redor, surpresa com a diferença referente ao caos anterior causado pela montoeira de caixas da mudança.
- Inês, o seu quarto é no final do corredor, caso queira se acomodar. Preciso de uns minutinhos a sós com a Di...
- Ok, senhor. Obrigada. - A senhora pega as malas medianas e some em direção ao pequeno corredor.
- Tyler, você precisa parar com isso. - Digo com os olhos cheios de lágrimas. - Eu não sou nada sua, todo esse meu caos não é problema seu. - Declaro, sentando-me no sofá. - Você tem uma vida e uma mulher que precisa ser conquistada, em algum lugar. - Eu já derramo lágrimas enquanto falo.
- Tá ok, vamos ignorar a parte que você briga comigo por eu querer fazer o bem? - Ele ri e senta à minha frente. - Sem drama, Di... - Seu polegar vai ao encontro do meu rosto e desliza pela minha pele, enxugando as lágrimas que teimam em cair. - Eu preciso falar algumas coisas que acho que vão te fazer bem daqui pra frente...
Seus olhos começam a funcionar como imãs para os meus. Sua voz também parece calma o suficiente para que eu queira prender a minha atenção a tudo o que seus lábios rosados se movimentam para me dizer. De repente, sinto como se eu tivesse apenas que repousar e deixar ele cuidar de tudo, como se a sua paz fosse tentadora o suficiente para que eu desejasse recostar minha cabeça em seu peito e simplesmente me permitir ouvir as suas batidas do coração e adormecer ali.
Mas algo nos atrapalha. A campainha toca e Tyler levanta rapidamente, encaminhando-se até a porta. Despertada de uma forma de hipnose, coço meus olhos com as mãos, a fim de voltar à realidade.
- Oi, eu fiquei sabendo que a Sra. Campbell receberia alta hoje pela manhã e decidi vir até aqui me desculpar e... trazer essas flores em um gesto de desculpa.
Ninguém menos que Ethan Stevens adentra a minha casa com lírios amarelos e balões flutuantes da mesma cor, trazendo consigo um sorriso sincero, um olhar sem graça e um incrível cheiro floral que apenas os lírios são capazes de difundir.
- Gostaria de conversar a sós com ela, também. - Diz para completar.
O que traria Ethan Stevens até a minha casa?