- E agora voltei! Achei que podíamos retomar de onde paramos - disse, cruzando os braços, claramente ofendida.
Victor soltou uma risada curta, sem humor.
- Retomar? Helena, eu nunca te prometi nada. Sempre deixamos claro que era algo casual.
Ela estreitou os olhos, o tom de voz ganhando um leve toque de indignação.
- Não acredito que está me dispensando assim.
Ele enfiou as mãos nos bolsos do paletó, encarando-a com seriedade.
- Eu não estou te dispensando, Helena. Estou apenas sendo honesto. Você sabe bem como as coisas entre nós sempre foram. Eu nunca fui um homem para compromissos, e você nunca parecia se importar com isso.
- Não parecia, mas agora me importo.
Ela se aproximou, tentando tocar o rosto dele, mas Victor desviou.
- Pois então é melhor parar por aqui - disse ele, categórico. - Eu não vou mudar.
O silêncio se instalou por alguns segundos, apenas o som distante da festa e o vento leve balançando as folhas das árvores ao redor.
Helena bufou, cruzando os braços.
- Muito bem, Victor. Você está dispensado também.
Ela girou nos calcanhares e voltou para dentro do evento, a expressão carregada de frustração.
Victor ficou ali por um instante, encarando o chão, sentindo um incômodo que não sabia explicar. Bufou, passando uma mão pelos cabelos, antes de decidir voltar para o salão.
Mas, ao entrar, seus olhos foram direto para a mesa onde Isabelle estava sentada. E o incômodo aumentou.
Victor ficou boquiaberto ao ver Luiz esticar a mão para Isabelle, claramente a convidando para a dança que estava começando. Era uma valsa.
***
Isabelle hesitou por um instante.
- Eu não posso aceitar. Estou trabalhando.
- Ah, mas é só uma dança, senhorita Isabelle - Luiz insistiu com um sorriso cortês. - E tenho certeza de que as crianças adorariam assistir.
- Sim! Dança, Isa! - a voz animada de Letícia soou, fazendo Isabelle virar o rosto na direção delas.
Os pequenos estavam com os olhos brilhando de expectativa, claramente animados com a ideia.
- Por favor! - disse, Henrique.
Isabelle suspirou. Como poderia recusar diante daqueles olhinhos implorando? Olhou para Luiz, que ainda esperava por sua resposta, e por fim assentiu devagar.
- Tudo bem, mas só uma dança.
Luiz sorriu satisfeito e estendeu a mão para ela.
- Será uma honra.
Ela hesitou por um segundo antes de pousar a mão sobre a dele.
***
Por um segundo, ele se perguntou se ela sabia dançar, mas assim que viu sua mão tocar a de Luiz e ela se levantar com naturalidade, sua dúvida se confirmou. Isabelle não apenas sabia dançar, mas parecia à vontade com o convite.
Seus lábios se comprimiram em uma linha rígida enquanto observava Luiz conduzi-la até a pista de dança. Os dois se posicionaram entre os outros casais e, quando a música começou, Victor sentiu algo estranho revirar dentro dele.
Isabelle deslizou suavemente pelo salão, seguindo os movimentos de Luiz com graça e leveza. O vestido dela girava levemente a cada passo, e seu sorriso tranquilo indicava que estava confortável.
Victor cerrou os punhos. Ele sabia que não tinha o direito de se incomodar, mas, droga, por que aquela cena o irritava tanto?
- Está interessado na babá, Victor? - A voz provocativa de Mercedes soou ao seu lado.
Ele nem percebeu quando a cunhada se aproximou. Sem desviar os olhos da dança, respondeu com frieza:
- Não diga besteiras.
- Besteira? - Ela riu baixo. - Então por que parece que está prestes a atravessar esse salão e arrancar a pobre Isabelle dos braços de Luiz?
Victor virou o rosto para encará-la com um olhar severo, mas Mercedes apenas ergueu a taça de champanhe com um sorriso divertido.
- Relaxa, cunhado. Se quiser dançar com ela, é só esperar sua vez.
Ele não respondeu, apenas desviou o olhar de volta para a pista, onde Luiz murmurava algo para Isabelle, fazendo-a rir baixinho.
Victor sentiu os músculos do maxilar tensionarem.
- Ridículo - murmurou para si mesmo, pegando um whisky na bandeja do garçom que passava.
Mas, por mais que tentasse se convencer de que aquilo não o afetava, ele sabia a verdade: estava odiando ver Isabelle nos braços de outro homem.
Victor ainda observava a pista de dança quando ouviu a voz provocativa de Mercedes novamente.
- Ah, antes de pedir para dançar com ela, limpe a mancha de batom nos seus lábios.
Ele virou o rosto para encará-la, sem paciência para seus joguinhos.
- O que está dizendo?
Mercedes sorriu de canto e inclinou-se levemente para ele.
- Helena te marcou, querido. - Ela apontou sutilmente para o canto da boca dele. - Seria um desperdício estragar seu momento com a babá por causa de um detalhe tão pequeno.
Victor pegou um lenço no bolso interno do paletó e passou rapidamente sobre os lábios, sem desviar o olhar dela.
- Está se divertindo, não é?
- Muito. - Mercedes riu e deu um gole no champanhe. - Você sempre tão contido, tão racional... E agora está aqui, remoendo ciúmes que nem deveria sentir.
- Não seja ridícula.
- Ah, claro. - Ela fingiu concordar, mas os olhos brilhavam com malícia. - Você não está nem um pouco incomodado com o jeito que Luiz segura a cintura dela... Ou como ela sorri para ele...
Victor expirou devagar, tentando conter a irritação.
- Cuide da sua vida, Mercedes.
- Estou cuidando, cunhado. - Ela inclinou a cabeça, olhando novamente para a pista de dança. - E, sinceramente? Luiz pode não ser milionário, mas é jovem, charmoso e parece um cavalheiro. Talvez Isabelle não esteja interessada em homens que se prendem a amantes do passado.
Victor estreitou os olhos para ela.
- E você não se cansa de envenenar tudo ao seu redor?
- Apenas dizendo a verdade.
Ele bufou, desviando o olhar novamente para Isabelle. A dança estava chegando ao fim, e Luiz se inclinou ligeiramente, dizendo algo no ouvido dela. Ela sorriu, parecendo lisonjeada.
Victor sentiu um gosto amargo na boca.
Sem dizer mais nada para Mercedes, ele colocou o copo vazio na bandeja de um garçom e começou a atravessar o salão com passos firmes.
Dessa vez, não deixaria que outro homem monopolizasse a atenção dela.