Mercedes sorriu, mas, por dentro, seu pensamento estava longe dali. O champanhe começava a fazer efeito, e a lembrança do que dissera a Victor há pouco a fez sentir um pequeno arrependimento. Havia provocado demais? Talvez tivesse exagerado ao cutucar seu cunhado daquele jeito.
Mas, antes que pudesse se perder em suas próprias preocupações, seus olhos captaram um movimento ao longe.
Victor caminhava pelo salão com sua expressão fechada, os ombros tensos, mas, de repente, ele parou no meio do caminho.
Mercedes seguiu seu olhar e entendeu o motivo.
Isabelle se aproximava da mesa com um sorriso no rosto. Mas ela não estava sozinha. Luiz, o assessor de Victor, caminhava ao seu lado, um pouco perto demais, e falava algo que a fazia rir baixinho.
Victor cerrou a mandíbula, e sua postura ficou ainda mais rígida.
Mercedes segurou o riso e pegou outra taça de champanhe da mesa.
- Bem feito - murmurou para si mesma, se divertindo ao ver o poderoso Victor Mendonça sendo atormentado por um sentimento que ele provavelmente nem queria admitir.
Enquanto isso, Isabelle e Luiz chegaram à mesa.
- As crianças estavam falando de você, Isabelle - Mercedes comentou com um sorriso sugestivo. - Parece que fez sucesso na pista de dança.
Isabelle corou um pouco e deu de ombros.
- Ah... Foi só uma dança. Luiz foi muito gentil em me acompanhar.
- Sempre à disposição - Luiz acrescentou, piscando de maneira descontraída.
Foi o suficiente para Victor dar mais um passo à frente, dessa vez determinado a encerrar aquela interação de uma vez por todas.
Victor respirou fundo, tentando conter o incômodo crescente dentro de si. Mas antes que pudesse cometer alguma loucura, como interromper a conversa de Isabelle e Luiz com uma desculpa qualquer, ele sentiu uma mão firme pousar em seu ombro.
- Victor! Justamente quem eu queria ver. - A voz grave de um dos empresários que assinara contrato com ele no dia anterior o fez se virar.
- Senhores - cumprimentou, forçando um tom neutro.
- Venha conosco, estamos indo para a área externa. Um bom charuto e uma conversa sobre negócios são sempre bem-vindos, não acha? - O homem riu, e os outros ao redor o acompanharam.
Victor hesitou por um instante. Mas sabia que recusar o convite poderia ser visto como descortesia. Além disso, qualquer coisa era melhor do que ficar ali, remoendo um incômodo que ele próprio se recusava a nomear.
- Claro - respondeu, ajustando os punhos da camisa.
Os empresários seguiram para a área reservada, e Victor os acompanhou, embora sua mente estivesse longe.
- O contrato exclusivo que fechamos ontem foi um grande passo para ambos os lados - um deles começou, acendendo o charuto e tragando lentamente.
- Sem dúvida - Victor assentiu, aceitando o charuto que lhe ofereceram.
- Seu grupo é um dos mais sólidos do mercado. Sabíamos que não haveria opção melhor para essa parceria.
Victor agradeceu com um aceno de cabeça e levou o charuto aos lábios, mas, enquanto os homens falavam sobre projeções e estratégias, sua mente continuava inquieta.
Seus olhos se voltaram instintivamente para dentro do salão, onde, através da ampla vidraça, ele ainda podia ver Isabelle e Luiz sentados à mesa, conversando.
Ele tragou o charuto devagar, tentando ignorar a sensação de que, naquele momento, não estava tão no controle quanto gostava de estar.
Duas horas depois...
Victor estreitou os olhos ao ver Isabelle sair do salão com as crianças... e Luiz. A visão do assessor caminhando ao lado dela, com aquele sorriso confiante, o irritou mais do que deveria. Ele levou o charuto aos lábios, mas percebeu que já estava apagado, tinha passado os últimos minutos segurando-o sem perceber.
Mercedes, por sua vez, assistia à cena de longe, um sorriso divertido brincando em seus lábios. Pegou mais uma taça de champanhe e bebeu lentamente, deliciando-se com a situação.
- Querido cunhado, você está ficando distraído - murmurou para si mesma, rindo.
Ela sabia que Victor não gostava de se sentir fora de controle, e ver Isabelle saindo acompanhada por outro homem certamente estava mexendo com ele.
Victor virou-se para os empresários, forçando-se a manter a compostura.
- Com licença, senhores - disse em tom polido.
Deixou o grupo e seguiu até a saída do salão, observando a silhueta de Isabelle se afastar na calçada.
O motorista já estava esperando com o carro parado na frente do evento. As crianças entraram primeiro, seguidas por Isabelle e Luiz, que se despediram. O que mais incomodou Victor foi ver Luiz anotando algo no próprio celular, e ele não pôde evitar acreditar que era o número de Isabelle.
Victor fechou as mãos em punho, sentindo uma irritação crescente tomar conta de si.
Mercedes, que se aproximava casualmente, sorriu ao vê-lo parado ali, claramente incomodado.
- Algo errado, querido cunhado? - perguntou, fingindo inocência.
Victor não respondeu de imediato. Apenas observou enquanto o carro partia.
Então, sem olhar para Mercedes, ele respondeu em tom seco:
- Nada que não possa ser resolvido.
Luiz voltou para dentro do evento, e ao avistar Victor, se aproximou com um sorriso amigável.
- Boa noite, senhor Victor! - disse ele, cumprimentando-o com um aperto de mão.
Victor, ainda visivelmente tenso, correspondeu ao aperto de mão, mas seu olhar estava frio e distante.
- Boa noite, Luiz. - respondeu Victor, mantendo um tom neutro.
Victor, com a mente ainda a mil, viu Luiz se afastar para se juntar a um grupo de empresários no canto da sala. Seu olhar procurava por Mercedes, mas ela parecia ter desaparecido, o que só aumentava sua ansiedade.
Olhou para o relógio. Meia-noite.
Um longo suspiro escapou de seus lábios enquanto ele se dirigia até a mesa do buffet, tentando encontrar algo para comer. No entanto, com a tensão que sentia, sabia que o mais provável era terminar a noite com uma indigestão.
Victor, já exausto, saiu da pequena reunião que havia se estendido até as três da manhã. A noite estava mais do que longa, e ele sentia o cansaço em seus ombros. O pior de tudo era que, após a reunião, ele procurava por Mercedes. Ela parecia ter desaparecido da face da Terra.
Ele a procurou por toda a área, perguntando aos poucos conhecidos que ainda estavam no evento, mas ninguém parecia saber onde ela estava. Seu desconforto aumentava, e sua impaciência também. A noite que já havia sido difícil, agora se tornava uma verdadeira provação.
Victor saiu, observou de longe, perplexo, enquanto Mercedes tropeçava e o motorista a segurava para evitar que caísse. Ela, visivelmente alterada, tentou se soltar da ajuda dele com um empurrão impetuoso.
- Tire as mãos de mim! - ela gritou, sua voz cheia de raiva e desespero, claramente alterada pela bebida.
Victor, surpreso e irritado com a cena, caminhou rapidamente até eles. Ele não conseguia acreditar no que via. Sua cunhada estava claramente fora de controle, e o motorista, tentando ser cortês, parecia sem saber o que fazer.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou Victor, sua voz firme e carregada de frieza, enquanto ele se aproximava.
Mercedes virou-se para ele, e por um momento, seus olhos se encontraram. Ela estava desorientada, os olhos turvos, e sua expressão misturava raiva com vergonha.
- Não preciso da sua ajuda, Victor! - ela respondeu, tentando esconder sua vulnerabilidade.
Victor olhou para o motorista, que estava visivelmente desconfortável e tentou se afastar discretamente.
- Vamos para casa - ele disse, mantendo a voz calma.