Maddox tirou o capacete e afastou o cabelo loiro do rosto. Ele parecia um membro do MC, mesmo que não estivesse mais usando o colete e estivesse trabalhando para a Famiglia há algum tempo. Caramba, ele até era casado com a filha de Luca, Marcella, mas isso não o tornava um Homem Feito. O motociclista estava enraizado nele, me provocando como nunca antes. Eu não tinha sido uma das pessoas bravas com Luca por permitir que ele trabalhasse para nós ou fizesse parte do nosso mundo. Sabia que as pessoas podiam mudar e formar novas lealdades. Eu não estaria aqui hoje se Luca não tivesse se arriscado com o papai.
Maddox me olhou de seu lugar na moto como se soubesse o que eu estava pensando. Ele finalmente desmontou e veio em minha direção. Nós tínhamos trabalhado juntos em algumas ocasiões quando ele nos ajudou a capturar motociclistas, mas dessa vez, nosso encontro pareceu diferente, carregado por sentimentos que nem faziam sentido.
Ele levantou as sobrancelhas. - Parece que você quer me dar um soco. - Ele deu de ombros. - Se isso te ajudar a superar a merda pela qual passou, fique à vontade. - Ele levantou o queixo em convite. Porra, eu deveria ser grato pela ajuda dele. Ele era bom em encontrar pessoas que não queriam ser encontradas, motociclistas, soldados da Bratva, simplesmente todo mundo.
- Eu quero torturar e matar. Socos nem vão começar a satisfazer minha necessidade de vingança, - resmunguei. Porra, eu precisava me controlar. Não era culpa de Maddox.
Ele estava aqui para ajudar.
Ele enfiou as mãos na calça jeans preta e olhou para o céu nublado. - Eu me arrependo de muitas coisas. Mas nunca vou me arrepender de ter sequestrado Marcella. Porque se não tivesse cometido o maior erro da minha vida, ela não seria minha esposa hoje, e isso seria uma pena.
- Você teve sorte que seu sequestro teve um final tão feliz, - murmurei amargamente.
- Talvez possa haver um final feliz para você também.
Algo estalou dentro de mim, e eu agarrei sua garganta. - Um final feliz depois do que eu fiz? Você acha que Marcella teria se tornado sua esposa se você a tivesse estuprado?
Seus dedos se fecharam em volta do meu pulso, mas ele não tentou me afastar. Ele olhou direto nos meus olhos. A compreensão neles me frustrou ainda mais. Eu queria que minha raiva fosse recebida com raiva. Queria uma razão para matar o homem diante de mim.
- Pelo que eu vi, nenhum de vocês teve escolha.
Eu o soltei, fazendo uma careta. Alguém não viu aquele vídeo de merda?
- Você está aqui para me ajudar a encontrar os homens responsáveis pela nossa captura, não para ser o juiz dos meus pecados. Somente Sara e Deus podem fazer isso.
***
Eu estava escovando o pelo branco do meu cachorro Bacon na varanda dos meus pais quando meu telefone tocou. Ele soltou um rosnado quando larguei a escova. Seu pelo curto não precisava ser penteado, mas ele adorava ser acariciado assim, então eu tentava escová-lo a cada duas noites. Apesar de sua criação em uma fábrica de filhotes, ele era um Dogo Argentino muito gentil.
Quando vi o nome na tela, minha breve sensação de calma evaporou. Era Romero. Ele tinha novas informações sobre os russos? As investigações de Maddox e minhas não tinham chegado à localização deles até agora.
- Você pode vir aqui? - Romero perguntou.
- Para sua casa? - perguntei, atordoado. Eu nunca tinha estado lá, e depois do que aconteceu, não esperava que isso mudasse. Não tinha visto Sara nas últimas duas semanas, nem ninguém da família dela, exceto Romero. Flavio me evitava, assim como as mulheres da família, naturalmente.
- Sim. Precisamos discutir algo.
- Claro. - Levantei-me e me sacudi. - Posso chegar aí em quarenta minutos.
- Ótimo. - Romero desligou.
- O que foi? - Primo perguntou enquanto vinha atrás
de mim. Ele estava esticado no balanço.
- Romero quer que eu vá até a casa dele.
O rosto de Primo refletia minha própria confusão. Tínhamos a mesma cor de cabelo, mas seus olhos eram azuis como os da nossa mãe. Mas não tão gentis.
- Você acha que é uma armadilha? Quer que eu vá com você como reforço?
Esse pensamento nem passou pela minha cabeça. Eu estava muito envolvido no pensamento de que poderia ver Sara novamente, e, porra, essa possibilidade me assustava mais do que uma possível armadilha. Eu poderia lidar com tortura, mas não tinha certeza se conseguiria encará-la.
- Esse não é o estilo de Romero.
- Algumas coisas mudam as pessoas.
Para quem ele estava dizendo? Eu não era a mesma pessoa que era antes. Não queria pensar em como Romero deve ter se sentido assistindo à gravação. Porra. Se ele mudasse de ideia e quisesse me matar na frente de Sara, eu poderia realmente culpá-lo? Eu deveria mesmo impedi-lo?
- Nem pense nisso, - Primo alertou. - Sua morte não mudará nada. Você não pode desfazer isso. Você fez o que tinha que ser feito. Todos concordam.
- Duvido que Sara concorde, - rosnei.
- Ela disse que está tudo bem, Max. Você se matar de culpa não fará diferença. Mas matar todos os soldados da Bratva o mais brutalmente que puder fará.
Dei um tapinha na cabeça de Bacon, que percebeu minha agitação e se pressionou contra minha perna.
- Preciso sair agora se quiser chegar a tempo neste trânsito.
- Tem certeza de que não quer que eu vá? - Primo perguntou com os braços cruzados.
- Com certeza.
Entrei na minha caminhonete e saí. Eu podia ver Primo no espelho retrovisor com Bacon ao seu lado, me observando sair. Me perguntei se essa seria a última vez que eu veria meu irmão. Deveria ter abraçado minha mãe mais uma vez?
Balancei a cabeça. Aumentei o volume da música, abafando meus pensamentos.
***
Depois de estacionar no meio-fio em frente à casa dos Cancio, uma casa de arenito marrom em Greenwich Village, fiquei sentado por um tempo. Não que eu estivesse com medo de uma possível retaliação. Soltei um suspiro e saí, então fui em direção à porta.
Ela abriu antes que eu pudesse bater. Flavio estava na porta. Ele tinha apenas dezessete anos, mas nas últimas duas semanas desde o sequestro, se tornou um homem de verdade. Ele não era tão alto quanto eu, muito poucos eram, e não era tão largo, mas pela tensão em seu corpo, podia dizer que isso não o impediria de lutar. - Você demorou muito para sair do seu carro.
Romero apareceu atrás do filho e me deu um sorriso tenso. Eles tinham a mesma altura e eram notavelmente parecidos, com cabelos castanhos, olhos castanhos e características faciais semelhantes.
- Maximus, entre. - Ele abriu mais a porta e lançou um olhar severo para Flavio que o fez recuar para que eu tivesse espaço para entrar.
- Devo tirar meus sapatos? - perguntei. Minhas botas provavelmente deixariam marcas no carpete bege.
- Liliana arrancaria sua cabeça se você não fizesse isso, - disse Romero com um sorriso forçado.
Eu tinha a sensação de que ela faria isso com ou sem sapatos. Tirei os sapatos e os deixei em um capacho perto da porta.
Era estranho estar dentro da casa deles, como se eu estivesse me intrometendo, mesmo que eles tivessem me pedido para vir. Passos soaram no andar de cima, então Liliana desceu correndo a escada de madeira e invadiu meu caminho. Ela me deu um tapa forte. Eu não me mexi, esperando que mais de sua raiva se manifestasse em violência, mas ela simplesmente respirou com força, olhando para meu peito. Sara compartilhava características faciais semelhantes às de sua mãe, e apenas esse lembrete foi o suficiente para me fazer suportar qualquer violência que ela quisesse desencadear. Ela era uma mulher pequena, mas seu tapa teria feito até mesmo alguns homens notarem.
- Eu não deveria ter feito isso, - ela sussurrou, com a voz trêmula.
- Não, eu entendo. - Eu esperava algo assim quando a família de Sara pediu para me ver.
Romero chegou por trás da esposa e colocou as mãos nos ombros dela. Ela relaxou visivelmente sob seu toque. Ele me deu um aceno.
- Vamos para a sala de jantar. - Ele guiou a esposa em direção à porta à nossa direita.
Eu os segui até a aconchegante sala de jantar. Velas lançavam uma luz quente sobre o ambiente, e o aroma de flores frescas enchia o ambiente. Um grande buquê de flores silvestres sobre a mesa rústica de madeira explicava por que meu nariz captou a nota floral. Não era um cômodo usado para representação. Era um cômodo onde uma família morava. Eu me senti lembrado de casa, mesmo sabendo que não era bemvindo aqui. Não tinha certeza do porquê eles queriam me ver. Fiquei no meio do cômodo, sem saber se eles queriam que eu me sentasse. Flavio entrou no cômodo. Ele tinha mais dificuldade em olhar para mim sem acusação. Seu pai escondia melhor seus sentimentos se os tivesse.
Romero gesticulou para uma das cadeiras. Eu afundei e olhei para a citação na parede à minha frente: A felicidade é caseira.
Esperei que os outros também se sentassem, mas, em vez disso, eles trocaram olhares.
Romero soltou um suspiro silencioso.
- As últimas semanas foram difíceis para nossa família. Em particular para Sara, é claro. Ontem, recebemos notícias que se somaram a isso.
Liliana encontrou meu olhar. Ela cruzou as mãos, os nós dos dedos ficando brancos.
Seja qual fosse a notícia, era horrível.
- Sara está grávida.
Eu congelei. Levei vários momentos para perceber por que eles estavam me dizendo isso - eu era o pai. Sara estava grávida por causa do que tinha acontecido entre nós, por causa do que eu tinha feito. Eu duvidava que tivesse gozado, mas estava tão profundamente na minha cabeça, na minha fantasia, tentando usar as técnicas de hipnose que descobri que não podia ter cem por cento de certeza.
Eu não disse nada. Meus pensamentos estavam uma bagunça confusa.
Liliana e Romero trocaram um olhar que falava de confiança compartilhada e entendimento sem palavras, algo que eu às vezes testemunhei entre meus pais e sempre admirei.
- Sara cancelou o casamento com Paolo. Ela não queria trazer uma criança para o casamento deles, - Liliana continuou. O timbre de sua voz mudou na segunda frase, me dizendo que não era verdade.
- E ele não me queria mais.
Meus olhos dispararam para Sara, que pairava na porta. Ela usava jeans e um suéter que escondia sua barriga, não que houvesse uma barriga a essa altura, mas eu ainda não conseguia parar de encarar.
- Não foi isso que ele disse, - sua mãe disse gentilmente. Nas últimas duas semanas, eu tinha esperado que Paolo me confrontasse de alguma forma. Se alguém tivesse machucado minha noiva, eu teria ido até ele e provavelmente o teria matado.
Sara soltou um suspiro. - Não com essas palavras, mas os olhos dele disseram tudo. Não quero que alguém se case comigo por pena.
Ela entrou lentamente na sala, parecendo exausta e pálida, com olheiras sob seus grandes olhos.
Eu tive dificuldade em acompanhar todas as revelações, mas meus instintos me disseram o que fazer.
- Quero assumir a responsabilidade e ajuda-la a criar a criança. Sei que não é algo que você vai querer, mas poderíamos nos casar para dar uma família ao bebê.
A expressão de Sara me fez sentir um idiota. Como eu poderia sugerir que ela se casasse comigo depois do que tinha feito?
Limpei a garganta e me levantei. - Eu ganho dinheiro suficiente para sustenta-la e a criança sem um casamento.
- Não quero um casamento por pena, - ela disse calmamente. Ela evitou olhar para meu rosto, seu olhar sempre pairando em algum lugar na minha garganta.
- Não sinto pena. - Era verdade em grande parte. Eu geralmente não sentia pena, e meus sentimentos em relação a Sara eram dominados por uma culpa ardente.
- Posso atestar sua natureza implacável, - disse Flavio amargamente.
Meu estômago apertou, mas meu rosto permaneceu impassível.
Eu sabia o que era e quais eram meus talentos.
- Nós discutimos isso com Sara, e ela acha que um casamento entre vocês dois seria a melhor solução nessa situação difícil, - disse Romero. Seu tom tenso me disse que ele não concordava.
Eu procurei no rosto de Sara. Estava controlado, mas seus olhos estavam cheios de mágoa.
Eu não tinha considerado me casar tão cedo, muito menos me tornar pai, mas tinha que me redimir de qualquer maneira que pudesse. Em circunstâncias diferentes, casar com uma mulher bonita e respeitada como Sara teria sido uma loteria. Agora, nosso casamento seria um lembrete constante do meu pecado, que era exatamente o que eu merecia.
- Farei o que achar melhor para você e para o bebê, Sara. - Eu não sei o que é melhor. Eu nem quero esse bebê. Quero dizer... - O desespero encheu seu rosto. Ela balançou a cabeça, ódio de si mesma distorcendo suas feições. O que quer que ela sentisse era válido. Eu queria ter palavras para dizer isso a ela, mas eu não era de falar. - Com licença. - Ela se virou e foi embora.
Entendi. Carregar meu filho deve ser difícil para ela, um lembrete constante do que aconteceu. Eu admirava sua força e temia o quanto mais ela teria que reunir para passar por uma gravidez e anos criando a criança.
- Ela quer ficar com ele. É muita coisa para assimilar, - explicou Liliana, e então seguiu a filha.
Eu não sabia bem o que fazer. Eu queria ir atrás dela, mas sabia que minha presença não era bem-vinda. Sara não precisava do meu consolo.
- O que você tem em mente? O que vem depois? - perguntei em vez disso.
- Está tudo planejado para o casamento de Sara com Paolo em seis semanas. Gostaríamos de manter a data.
- E só trocar o noivo, - eu disse.
Romero assentiu. - Não é o ideal.
- Porra, é uma merda. Tudo o que aconteceu. Mas se isso ajudar Sara, eu até usarei o terno de Paolo. Não me importo. Meus sentimentos não serão feridos por isso.
- O terno de Paolo seria três tamanhos menor para você, - Flavio murmurou.
- Muitas pessoas sabem o que aconteceu, embora Luca tenha deixado muito bem claro que desaprova fofocas circulando, - Romero disse.
- As pessoas fofocam não importa o que aconteça. Eventualmente, elas seguirão em frente, - eu disse. - Vou calar a boca de qualquer um que eu ouvir dizendo alguma coisa.
- Ótimo.
- Sei que não sou o genro que você queria, mas farei tudo o que puder para ser um bom marido para Sara.
Flavio zombou, mas não disse nada.
Ele achava que eu não sabia que era o homem errado para Sara por mais motivos do que gostaria de admitir?
- Não é você, são as circunstâncias. - Romero se aproximou de mim e tocou meu ombro, me surpreendendo com o movimento. - Acho que Sara quer proteger sua honra e o filho que ainda não nasceu. Ela não quer realmente um marido.
Sorri amargamente. - Sei que esse casamento será apenas no papel. Não espero que Sara aja como uma esposa.
Se Romero se preocupava que eu pudesse querer consumar o casamento, ele não precisava. Eu nunca mais tocaria em Sara a menos que ela quisesse, e as chances de isso acontecer eram nulas.
- Isso é bom. Devemos fazer o anúncio o mais rápido possível.
- Deixe-me falar com meus pais primeiro, para que eles não descubram através de fofocas, e então você pode escolher um horário e local onde deseja anunciar.
Saí sem falar com Sara novamente. Tudo parecia surreal. Minha vida tinha virado de cabeça para baixo. Eu precisava falar com alguém. Primo tinha partido para uma missão logo depois que saí de casa, e esse não era um assunto que queria discutir por telefone. Pensei em ir até Amo, mas ele tinha muito que fazer com Cressida.
Quando estacionei na entrada da casa dos meus pais, senti uma sensação de alívio. Estacionei na entrada e fui imediatamente recebido por Bacon. Ele era quase surdo, um destino que muitos cães brancos compartilhavam. Quando eu tinha que trabalhar muito, meus pais cuidavam dele, e eu nunca o levava para a cidade comigo. Eu raramente dormia lá de qualquer maneira, e se dormisse, dormia em um dos quartos que a Famiglia tinha para soldados de fora da cidade. O que aconteceria agora que ia me casar com Sara? Eu teria que procurar um lugar para nós, mas não tinha certeza se poderia levar Bacon comigo. Ele precisava de companhia, e aqui, ele sempre tinha bastante. Depois de acariciá-lo e aos quatro cães pertencentes aos meus pais que tinham permissão para andar livremente, caminhei em direção à porta da frente. Mamãe já estava esperando na porta. Ela estava com roupas de ginástica, e seu cabelo suado estava em um coque bagunçado no topo da cabeça.
No momento em que ela viu meu rosto, saiu para me encontrar. Ela tocou minha bochecha e inclinou a cabeça para trás para olhar para mim.
- O que aconteceu?
- Estou bem, - disse automaticamente. Eu não queria que ela se preocupasse comigo. Poderia cuidar de mim mesmo.
- Só com fome.
Entrei, seguido pela mamãe. Ela ainda me olhava com preocupação enquanto colocava tudo para um sanduíche na mesa. Sentei no banco e peguei duas fatias de pão.
Ela me observou preparar e comer dois sanduíches em silêncio, mas não tirou os olhos de mim enquanto se encostava na ilha da cozinha.
- Eu vou me casar com Sara, - disse depois de tomar um gole de água.
Os olhos da mamãe se arregalaram, e ela afundou na cadeira na minha frente.
- É por isso que eles queriam te ver?
- Eles não me convenceram a me casar. Fui eu quem sugeriu quando descobri que Sara está grávida.
Mamãe se recostou na cadeira. Seus lábios se separaram, mas nenhuma palavra saiu de sua boca por pelo menos um minuto.
- Okay. - Ela piscou. - Uau. Não era isso que eu esperava.
Ela se levantou e começou a andar de um lado para o outro na cozinha, esfregando a testa como se pudesse sentir uma dor de cabeça chegando.
- Isso é muita coisa para assimilar para vocês dois.
Como Sara está lidando com isso?
- Não tive a chance de falar com ela a sós. Mas ela está... - Soltei um suspiro, sem saber o que dizer.
Mamãe assentiu. - E você? - A compaixão nos olhos dela me irritou. Eu não era a vítima aqui.
- Estou fazendo o que é necessário para compensar meu pecado.
- Max...
Levantei minha palma. - Não. Você é minha mãe. Você encontraria uma desculpa para cada crime que eu cometesse.
- Não, eu não faria isso, - ela fervia, seus olhos brilhando de raiva. - Mas você e Sara foram vítimas nisso.
Levantei-me, frustrado. - Eu não sou a vítima. Não fui ferido.
- Sim, você foi! Você foi forçado a fazer algo sexual que não queria fazer. Você é uma vítima.
Ela estava cega para a porra da verdade?
- Não sou uma porra de vítima, então pare de me chamar de uma. Eu sou a porra de um estuprador.
Mamãe empalideceu. - Você não é! Essa é a coisa mais estúpida que já ouvi, e você não é estúpido, Maximus, então pare de dizer isso. Tenho certeza de que se você falar com Sara, verá que ela não te vê dessa forma.
- Ela nem consegue olhar para mim.
- Isso não significa que ela te culpe. Ela tem muito com o que lidar.
- Não quero mais discutir isso. Vou me casar com ela em seis semanas, então é nisso que preciso focar.
***
Eu não dormi a noite toda. Minha vida deu uma reviravolta drástica nas últimas semanas. De repente, estava noivo, prestes a me casar e ser pai. Porra, eu ainda morava em casa. A casa dos meus pais era grande o suficiente e, dessa forma, sempre pude ajudar com o abrigo. Agora que eu ia me casar, precisava do meu próprio lugar -precisava de um lugar para uma família. Eu sabia de alguns apartamentos de propriedade da Famiglia no mercado, mas sempre sonhei em morar em uma casa fora da cidade, como meus pais.
O que Sara queria? Eu mal sabia alguma coisa sobre ela. Se tivéssemos sido prometidos da maneira usual, teria perguntado o que ela queria, mas falar com ela não era tão fácil assim.
Mas eu precisava agir rápido. O casamento seria em breve. Isso não deixava muito tempo para minha busca por uma casa.
Quando desci para a cozinha, mamãe, papai e Primo estavam reunidos em volta da mesa.
- Conselho de guerra? - perguntei sarcasticamente. Um olhar para seus rostos me disse que eles estavam falando de mim.
- Você está pulando para o noivo descartado, hmm? - Primo perguntou.
- Não é problema seu. - Ele tinha boas intenções. Por algum motivo, ele parecia pensar que precisava me proteger. Eu não era a vítima aqui. - É a melhor solução para uma situação muito ruim.
Primo deu de ombros. - Tenho certeza de que é para manter as ondas de fofoca baixas, mas um movimento como esse criará um tsunami.
- Nós vamos lidar com isso, - disse papai com firmeza.
Mamãe fez um gesto para a caçarola de café da manhã na mesa.
- Logo, as coisas vão se acalmar.
- Preciso encontrar um lugar para Sara e eu... e para o bebê quando ele nascer. - Mamãe assentiu solenemente.
- Eu sei. Você falou com Sara sobre isso?
- Ainda não. Não tivemos muito tempo ontem à noite. - Eu me perguntei como abordar o assunto. Eu temia quão estranhas as coisas seriam entre nós quando vivêssemos juntos. Eu daria a Sara todo o espaço que ela precisasse, mas ainda viveríamos sob o mesmo teto. As pessoas fofocariam ainda mais se não fizéssemos isso. Eu realmente não dava a mínima para a opinião de ninguém, mas Sara obviamente dava.
- Eu deveria comprar um anel para ela. Ela não pode
mais usar o antigo anel de noivado, - eu disse.
- Você quer que eu te ajude a escolher um? - perguntou mamãe, seu rosto iluminado de esperança. Ela provavelmente esperava poder me ajudar a organizar meu casamento, mas a mãe de Paolo e Liliana já tinham feito isso.
- Eu não sei do que Sara gosta. E você?
Mamãe mordeu o lábio. - Posso perguntar à Gianna. Ela a conhece melhor do que eu. Tudo bem para você?
- Você acha que Gianna já sabe sobre isso? - Primo perguntou duvidosamente.
- Romero não tomou essa decisão sem discutir com Luca, e se Luca sabe, Aria sabe, e então Gianna sabe, - mamãe disse com um olhar divertido.
Papai assentiu silenciosamente. - Sua mãe tem ótimo gosto. Deixe que ela te ajude.
- Eu sei, e farei isso, - eu disse, mais para deixar mamãe feliz.
A mãe ligou imediatamente para Gianna, que sugeriu que levássemos Isabella conosco.
Eu não tinha certeza de quão próximas Isabella e Sara eram. Elas eram melhores amigas?
Eu sempre achei que Valerio, Flavio e Isabella eram próximos, o que não me deixava muito à vontade. Flavio provavelmente tinha compartilhado sua antipatia por mim com seus amigos. Eu nunca tive problemas com pessoas não gostando de mim. Muitas das coisas que eu fazia diariamente me tornavam desagradável, mas o motivo da antipatia de Flavio não era algo de que eu me orgulhasse.
***
Mamãe e eu pegamos Isabella no prédio deles no começo da tarde. Isabella me deu um breve sorriso antes de subir no banco de trás. Parecia honesto. Fomos em direção à joalheria que Isabella sugeriu. Aparentemente, era o joalheiro de quem Aria, Gianna e Liliana compravam suas joias, o que significava que eu teria que usar uma grande parte do dinheiro que pretendia usar para comprar uma casa. Eu ganhava um bom dinheiro como um Executor, especialmente se fizesse um assassinato contratado ocasional, mas eu aproveitava a vida como uma pessoa solteira sem pensar muito no futuro. Se soubesse que me casaria tão cedo, teria guardado mais dinheiro.
Mamãe e Isabella imediatamente começaram a escanear as vitrines na loja enquanto eu ficava meio perdido no centro. A única vez que estive em uma joalheria foi quando comprei meu relógio dos sonhos, um Rolex Submariner.
- Esse parece lindo, - disse mamãe, enquanto apontava para algo no armário de vidro à sua frente.
Isabella se juntou a ela e examinou a exibição. Ela assentiu pensativamente.
- Sara não gosta de nada muito óbvio.
Finalmente me juntei a elas. O joalheiro tirou três peças que minha mãe e Isabella concordaram.
Isabella lançou um olhar sério para mim.
- Acho que é bom que você esteja mostrando a Sara que
está se esforçando. Não acho que ela espera que você lhe dê um anel. É um ótimo gesto. Mas as coisas ainda serão difíceis.
Nada sobre isso é ideal.
Dei a ela um sorriso sardônico. - Ah, eu sei. Sei que nada sobre isso será fácil, e sei que não será um casamento normal.
Fiquei imaginando o que Sara tinha dito a ela.
Isabella não parecia me odiar, então Sara não poderia ter falado muito.