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Mark tinha embarcado no voo das dez da noite. Acomodou-se na sua cadeira junto a janela do avião, viu muitas mulheres bonitas a passarem por si e nenhuma ocupava o lugar que estava vago no meio entre ele e um senhor idoso. Quando deixou de pensar nisso, chega um indivíduo jovem entre vinte cinco e trinta anos a ajustar a sua bagagem de mão com sorriso simpático e acolhedor, saudou os dois e se esgueirou no assento do meio. Mark reparou que o homem tinha a gola clerical e riu consigo mesmo em seus pensamentos "tanta mulher bonita e eu tinha de estar ao lado de um pastor!"
O pastor foi simpático a viagem toda, abordou com os seus companheiros de viagem muitas ideias do mundo actual, levando sempre a perspectiva religiosa. Era perfeito demais para Mark, que fingiu dormir para evitar continuar a conversa com ele.
Mark ficou com a sensação que também tinha visto o pastor no comboio para Queensville. Mas adormeceu até o fim da viagem. O seu desembarque foi mais demorado porque tinha que retirar a sua motorizada dos vagões das mercadorias e preencher muita papelada. As seis da manhã tinha concluído o processo. Arrumou a sua sacola desportiva que trazia algumas mudas de roupa e calçados, o resto estava arrumado nas duas bagageiras da sua motorizada.
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Fez-se à estrada, apreciava a vista toda da natureza, há muito que não respirava um ar tão puro. O caminho não tinha mudado muito da estação até a vila. Passou por algumas casas isoladas no início da vila, viu a sua antiga escola primária, que parecia intacta, desde a última vez que lá esteve. Cada lugar que via, despertava em si um misto de emoções, pois as recordações o invadiam, eram boas recordações. Passou pelo desvio que o levava a casa dos pais, para chegar no centro da vila a procura de alojamento, lembrou-se da pousada que existia ali.
Queensville parecia adormecida no tempo, algumas estruturas foram requalificadas, mas sem alterar o estilo victoriano, as moradias eram na maioria de dois pisos, com alpendre e quintais traseiros, as casas não tinham muros, eram pequenas cercas ou jardins que separavam umas das outras.
Chegou na pousada e notou que estava mais moderna, pareceria a estrutura mais actualizada da vila. Dirigiu-se à recepção, onde foi atendido por uma rapariga totalmente entusiasmada por vê-lo, reconheceu a grande estrela. O seu colega ao lado revirava os olhos pelo seu comportamento, umas vezes tossia para que ela voltasse à si.
− Bom dia! – disse Mark pousou o capacete no balcão, endireitou os cabelos empurrando-os para a trás e a menina quase delirava − Preciso de um quarto!
− B-bom dia, senhor! ... Precisa para já? ... Estamos sem quartos disponíveis, fez alguma reserva?
− Não, não fiz!
− Lamento, teríamos muito gosto em tê-lo no nosso estabelecimento, mas estamos sem quartos.
− Oh merda, sério?! – o recepcionista ao lado levantou os olhos para ver Mark, que não tinha decoro nenhum no seu falar. – Tem a certeza, querida, que não tem mais um quarto para mim...a última vez que eu me lembro esta hospedaria não tinham clientes...
− Estamos lotados senhor! – respondeu o jovem aborrecido com a petulância de Mark – Somos a única no ramo em Queensville, e com a morte do Pastor Principal estamos lotados! Sugerimos a outra hospedaria à saída da estação, ... que não oferece a nossa qualidade nos serviços, mas é a solução para o senhor.
− Ok... vou levar o vosso cartão... talvez tenham uma desistência.
− Por favor, pode dar-me um autógrafo, Sr. Dune? – a rapariga estendeu-lhe uma caderneta cheia de autocolantes e desenhos de corações ao mesmo tempo que fazia olhinhos. Mark riu-se e assinou.
− Oh! Conhece-me?
− Gosto muito das suas músicas, são muito fixes. É pena que não tocam muito por aqui...− sem poder terminar os recepcionistas corrigiram a sua postura, a rapariga puxou a caderneta e escondeu numa gaveta, pois parecia que o chefe tinha chegado. Mark saiu.