Tempo de mudanças
img img Tempo de mudanças img Capítulo 5 Se esforçando no novo projeto
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Capítulo 6 Relembrando o começo de tudo img
Capítulo 7 Pedido especial img
Capítulo 8 Conhecendo o terreno inimigo img
Capítulo 10 Ironia do destino img
Capítulo 11 Na volta para casa img
Capítulo 12 12. Hora de dormir img
Capítulo 13 Outro golpe duro img
Capítulo 14 Correndo contra o tempo img
Capítulo 15 A carta img
Capítulo 16 Desafio proposto img
Capítulo 17 Voltando à velha rotina img
Capítulo 18 O fim de um ciclo img
Capítulo 19 Amigos servem para isso img
Capítulo 20 O dia não acabou img
Capítulo 21 A despedida img
Capítulo 22 A festa img
Capítulo 23 O convite img
Capítulo 24 Mundo Novo img
Capítulo 25 Duas quadras muito compridas img
Capítulo 26 A entrevista img
Capítulo 27 O resultado img
Capítulo 28 Descuidada img
Capítulo 29 Noite de paixão img
Capítulo 30 Mensagem perdida img
Capítulo 31 Equilíbrio img
Capítulo 32 A substituta img
Capítulo 33 Almoço em família img
Capítulo 34 Uma tarde muito longa img
Capítulo 35 A declaração img
Capítulo 36 Alguém não está sendo honesto img
Capítulo 37 Ciúmes img
Capítulo 38 Depois da briga img
Capítulo 39 Primeiro dia em Wall Street img
Capítulo 40 A foto img
Capítulo 41 Em sintonia img
Capítulo 42 Impasse img
Capítulo 43 A viagem img
Capítulo 44 Ao trabalho img
Capítulo 45 O mundo não gira ao seu redor img
Capítulo 46 Velhos conhecidos img
Capítulo 47 A festa acabou img
Capítulo 48 Caos no lobby img
Capítulo 49 Alberto e Juliano img
Capítulo 50 Hora de acabar com as dúvidas img
Capítulo 51 Uma nova decisão img
Capítulo 52 Outro ciclo se encerra img
Capítulo 53 Uma caminhada para passar o tempo img
Capítulo 54 Um passeio indesejado img
Capítulo 55 Despedida no parque img
Capítulo 56 Retorno à Nova York img
Capítulo 57 Luto img
Capítulo 58 O pedido img
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Capítulo 5 Se esforçando no novo projeto

Continuou vendendo informalmente, mesmo sabendo que era errado, o dinheiro era mais para cobrir pequenos gastos, seu foco era cozinhar para ganhar experiência. A vida de empreendedora não era fácil, sabia que ainda teria que batalhar muito para ter algum rendimento considerável com o seu trabalho.

Começou com bolos e pequenos doces, aos poucos foi ganhando mais confiança e também habilidade para se aventurar em salgados, sempre gostou de cozinhar, manteve contato com Dona Olga que inclusive lhe dava ótimas dicas, o curso de culinária terminou, mas a prática na cozinha era constante.

Começou a pesquisar novos cursos, para se aprofundar, lhe parecia que o caminho da gastronomia estava lhe sendo muito mais agradável, até parou de mandar currículo para empresas, a ideia de ter o próprio negócio era tentadora e lhe mostrava que ela podia fazer as coisas do seu jeito.

Claro que seus pais não gostaram nada da ideia, não tinham se esforçado para que ela se formasse na faculdade para a filha terminar sendo uma cozinheira, apesar da mãe dela concordar que ela estava cozinhando muito bem, não era visto com bons olhos essa guinada profissional.

Ela ponderou com os pais que o mercado de trabalho estava muito difícil, que estava num beco sem saída, para se recolocar no mercado ela precisava se qualificar melhor e a tentativa de se qualificar foi em vão, para não ficar ociosa a culinária lhe pareceu uma boa ideia.

Não tinha planos de cozinhar para sempre, mas pelo menos ia lhe ajudar a passar essa crise, depois da última visita dos pais e de mais uma rodada de críticas ela novamente voltou a mandar vários currículos para as empresas, apesar de ser uma pessoa que pensa positivo, tinha plena consciência da realidade do mercado de trabalho.

Era um período de retração financeira, as empresas estavam receosas e as poucas oportunidades de trabalho exigiam cada vez mais qualificação e experiência, a dela era limitada à uma única empresa e pouco aprimoramento acadêmico ao longo dos anos.

Enquanto a recolocação não ocorria precisava de um plano B, voltou a se informar sobre a abertura da empresa de alimentação, procurou um contador amigo da família e deu entrada nos papéis, também tirou dinheiro de sua poupança para investir na sua cozinha, tornar mais profissional, inclusive depois de saber que precisava fazer alterações devido a segurança alimentar.

Os meses foram passando, de pequenas encomendas ela já começava a fazer doces e salgados para festas, convidou Dona Olga para ser sua parceira comercial, inclusive o nome da empresa que abriu batizou de Quitutes da Dona Olga, em homenagem a mulher que lhe ajudou no caminho da cozinha.

Dona Olga tinha uma sobrinha que também sabia cozinhar e chamou para trabalhar, a moça trabalhava mais na entrega e também na administração dos pedidos junto com Ana, adaptou todo o primeiro piso da casa para virar a cozinha industrial.

Não tinha mais como manter seu carro, foi numa quarta-feira chuvosa que fez sua última viagem até a concessionária para se despedir de seu querido amigo, as prestações estavam além de seus ganhos no momento, tinha que ter um carro compatível com seu rendimento e também que fosse mais prático para as entregas, seu novo carro agora teria o logotipo da sua empresa colado nas portas, apesar da tristeza de se despedir do antigo SUV que tanto amava, um orgulho por estar fazendo algo realmente desafiador estava agora estampado na porta de seu carro popular, que diga-se de passagem era muito bonito também.

Usou parte do dinheiro da venda do carro e fez um empréstimo para comprar mais máquinas e começou a vender por aplicativo de entrega pequenos pedidos, os lucros começaram a aparecer aos poucos, era justa com as duas sócias, dividam o serviço e os lucros de forma proporcional.

Enquanto isso, sua vida pessoal se viu mais uma vez totalmente inundada pela vida profissional, agora sua casa era seu trabalho, seu carro era objeto do trabalho, suas reservas por conta da abertura da empresa estavam perigosamente escassas.

Quando não estava trabalhando, procurava algo para ocupar sua mente e também diversificar, começou a pintar pequenos quadros, toda vez que terminava ela postava em sua rede social, seus amigos eram sinceros ao elogiar, ela tinha algum talento com aquilo também, mas não queria monetizar mais um hobby de sua vida, por isso pintava realmente apenas para aliviar o stress do dia a dia.

Também sabia tocar piano o que fazia sozinha à noite, mas suas noites também eram ocupadas por jantares, começou a dar jantares na sua casa regularmente para os amigos, que apreciavam sua habilidade na cozinha, mesmo cansada de cozinhar para a empresa ela ainda tinha forças para preparar alguns pratos criativos para os amigos em sua casa.

Uma amiga lhe sugeriu cozinhar jantares em forma de cozinheira delivery, ela ia até a casa da pessoa e cozinhava um menu escolhido pelo anfitrião, isso tinha virado moda no exterior, jantares intimistas preparados por um Chef itinerante.

Como ela precisava ganhar dinheiro, até para repor com mais rapidez a sua poupança, começou a fazer esses jantares, mas ali ela viu a vida pessoal sumir de vez, passava o tempo todo trabalhando, de dia, de tarde, de noite, nos finais de semana principalmente estava sempre ocupada com esses jantares, o valor que cobrava era considerável, mas ainda era iniciante então não era capaz de monetizar tanto assim a experiência gastronômica que proporcionava.

Cozinhar profissionalmente não era fácil, a vida de empreendedora também não, muitos problemas batiam à porta, escolher fornecedores, preservar os alimentos frescos, entregar no horário combinado, administrar o tempo de execução das encomendas, tudo isso era um quebra-cabeça diário.

Aos poucos ela foi esquecendo do tempo que trabalhava na empresa, mas também sentia saudade, ter hora para chegar e partir lhe parecia um sonho distante, agora chegava altas horas em casa e já era inundada com cheiro de comida nas primeiras horas da manhã, ainda tinha prazer em cozinhar mas estava ficando exausta.

Como ela pouco saía, ela pouco gastava também, suas reservas foram sendo repostas com maior rapidez, não comprava roupas novas, nem viajava, reservava um final de semana para visitar os pais ou ir na casa do irmão, os finais de semana lhe eram preciosos agora, os pais lhe criticavam cada vez mais, a sobrinha chegou a lhe cobrar que ela estava vindo pouco brincar.

Sua família estava cada vez mais lhe criticando, seu irmão ofereceu um empréstimo para que ela pudesse pisar no freio, ele estava realmente preocupado com seu ritmo de trabalho, ela garantia que não tinha desistido da profissão de engenheira, apenas estava em um ano sabático, o normal seria pegar uma mochila e rodar o mundo sem destino, no caso dela era pegar a panela e rodar as casas pela cidade.

O boca a boca era a alma do seu negócio, ela fez um bom plano de negócio e ajustou a margem de lucro para se manter atrativa e não baixar a qualidade dos produtos, ela incentivou a sobrinha de Dona Olga a também fazer cursos de culinária, em especial confeitaria, assim ela poderia delegar mais essa parte, que consumia todo o dia dela, Dona Olga era especialista em massas e recheios, nem precisava de curso.

Também começou a aumentar o preço das experiências gastronômicas, alinhando claro à qualidade dos ingredientes e quantidades executadas, se apresentava como chef profissional, após o término do curso de culinária tinha ganhado um domo, roupa própria dos chefs profissionais, e usava aquilo com muito orgulho, o seu era preto e tinha uma pequena bandeira da cozinha da qual ela era especialista, no caso do próprio país, apesar de que também preparava alguns pratos italianos e franceses, inclusive se aventurava alguns tradicionais alemães.

Costumava deixar o menu bem dinâmico, assim seus clientes podiam ter várias opções de combinações, sabia que alguns seriam desafiadores, mas antes de servir algo ela sempre preparava antes para testar, se estivesse insegura com algum preparo ela sugeria alteração, mesmo que isso tirasse um pouco a credibilidade dela como cozinheira, a segurança de entregar algo bem feito vinha em primeiro lugar.

Teve alguns contratempos também, uma antiga colega de faculdade a convidou para preparar um jantar em comemoração ao aniversário de casamento, o marido da colega era intolerante à lactose o que a colega aviou, mas uma das convidadas era vegana, isso ela não avisou, o menu escolhido pela anfitriã era italiano, ela pensou em preparar massa tradicional, que utilizava ovos, bolognesa e preparou queijo de cabra para servir junto pois não tem lactose, a sobremesa era um pudim de leite de amêndoas, a entrada uma caprese com salmão grelhado desfiado, algumas brusquetas com presunto de parma, tudo parecia impecável e estava muito saboroso ela tinha certeza.

A convidada não pode comer absolutamente nada do que foi servido, ela se ofereceu para fazer uma salada sem salmão e uma massa a putanesca, mas a moça irritada não quis, disse que não queria nada mesmo, a anfitriã ficou nervosa, mas sabia que aquilo não era culpa de Ana.

Depois que todos foram embora a colega de faculdade desabafou com ela, essa convidada era sua cunhada e sempre incomodava na hora de comer, vivia em regimes itinerantes, hora não comia carboidratos, hora era vegetariana, hora só comia proteína animal, a dieta do momento ela seguia e por isso ela não se preocupou em qualquer restrição alimentar que essa pessoa poderia ter, pediu para Ana não se culpar, estava tudo delicioso e todos os demais adoraram o menu, inclusive ligou dias depois para agradecer novamente, disse que o marido adorou, não teve qualquer desconforto depois de comer aquele jantar, normalmente as pessoas prometiam alimentos para pessoas com restrição à lactose mas falhavam.

Outra vez, porém a anfitriã não teve a mesma cortesia, era um jantar para comemorar o aniversário de uma adolescente, era para umas 15 meninas em torno de 17 anos, pré-universitárias, a mãe, que era anfitriã não falou em qualquer restrição alimentar e escolheu pratos variados, cozinha francesa, com carnes, queijos, massas e doces, parecia muito fácil, mas a noite virou um pesadelo, começou pela entrada, a salada que tinha alguns pães torrados picados já foi devolvida porque as meninas estavam numa dieta que não incluía glúten, ela chamou a anfitriã e explicou que nada disso tinha sido combinado previamente e que os alimentos que ela já tinha pré-preparado para facilitar e agilizar o jantar tinham glúten.

A anfitriã pediu para ela se virar, senão ia postar uma reclamação nas redes sociais, Ana se viu numa sinuca de bico, reinventou o menu, quando foi servida a carne, foi novamente reclamado que o ponto estava fora do que elas queriam, algumas não comiam "cru" e outras era veganas e nem carne comiam, a noite foi um desastre, ela deu graças a Deus quando terminou. Quanto ela estava juntando tudo a anfitriã veio reclamar, junto com o talão de cheques na mão, disse que pagar apenas o custo dos alimentos e que queria a nota fiscal deles, pois não achou que ela tinha cozinhado a contento.

O sangue lhe subiu ao rosto de raiva, naturalmente às lágrimas às portas dos olhos, não era fácil receber essa crítica tão injustificada, ela havia se esforçado e muito para entregar bons pratos, não tinha culpa se a anfitriã não tinha a menor noção do tipo de pessoa que ia comparecer e quais as preferências delas.

Ela bateu o pé no valor da sua mão de obra, explicou que era um conjunto, que ela dedicou seu tempo para cozinhar e ainda teve que adaptar o menu e que muitos ingredientes que já tinham sido utilizados no pré-preparo dos pratos foram inutilizados devido as mudanças de última hora.

A mulher retrucou que isso não era problema dela, no final Ana achou que não valia o esforço, aceitou o cheque da mulher no valor de apenas 50% do total gasto com ingredientes, quando chegasse em casa ia elaborar um contrato que incluísse alguma proteção, não ia ficar nesse prejuízo nunca mais.

Olhando o cheque quando chegou em casa ainda se admirou com a situação, ninguém mais utiliza cheques, ela nem sabia o que fazer para transformar aquela folha de papel em dinheiro de verdade, ainda tinha que torcer que a conta da megera tivesse fundos.

                         

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