Tempo de mudanças
img img Tempo de mudanças img Capítulo 9 O desafio do jantar
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Capítulo 6 Relembrando o começo de tudo img
Capítulo 7 Pedido especial img
Capítulo 8 Conhecendo o terreno inimigo img
Capítulo 10 Ironia do destino img
Capítulo 11 Na volta para casa img
Capítulo 12 12. Hora de dormir img
Capítulo 13 Outro golpe duro img
Capítulo 14 Correndo contra o tempo img
Capítulo 15 A carta img
Capítulo 16 Desafio proposto img
Capítulo 17 Voltando à velha rotina img
Capítulo 18 O fim de um ciclo img
Capítulo 19 Amigos servem para isso img
Capítulo 20 O dia não acabou img
Capítulo 21 A despedida img
Capítulo 22 A festa img
Capítulo 23 O convite img
Capítulo 24 Mundo Novo img
Capítulo 25 Duas quadras muito compridas img
Capítulo 26 A entrevista img
Capítulo 27 O resultado img
Capítulo 28 Descuidada img
Capítulo 29 Noite de paixão img
Capítulo 30 Mensagem perdida img
Capítulo 31 Equilíbrio img
Capítulo 32 A substituta img
Capítulo 33 Almoço em família img
Capítulo 34 Uma tarde muito longa img
Capítulo 35 A declaração img
Capítulo 36 Alguém não está sendo honesto img
Capítulo 37 Ciúmes img
Capítulo 38 Depois da briga img
Capítulo 39 Primeiro dia em Wall Street img
Capítulo 40 A foto img
Capítulo 41 Em sintonia img
Capítulo 42 Impasse img
Capítulo 43 A viagem img
Capítulo 44 Ao trabalho img
Capítulo 45 O mundo não gira ao seu redor img
Capítulo 46 Velhos conhecidos img
Capítulo 47 A festa acabou img
Capítulo 48 Caos no lobby img
Capítulo 49 Alberto e Juliano img
Capítulo 50 Hora de acabar com as dúvidas img
Capítulo 51 Uma nova decisão img
Capítulo 52 Outro ciclo se encerra img
Capítulo 53 Uma caminhada para passar o tempo img
Capítulo 54 Um passeio indesejado img
Capítulo 55 Despedida no parque img
Capítulo 56 Retorno à Nova York img
Capítulo 57 Luto img
Capítulo 58 O pedido img
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Capítulo 9 O desafio do jantar

O evento era um desafio, isso Ana já sabia quando aceitou a proposta, mas o desfio mesmo era manter sua cabeça focada no trabalho, depois de sair da mansão, seu estômago estava inquieto, algo em seu interior estava insatisfeito, uma ansiedade desmedida se acometeu sobre ela, o coração apertado, não fazia sentido, ela não gostava daquele homem, ele era rico e lindo, mas era um cretino sem coração.

Não conhecia muito da vida pessoal, além da biografia profissional, pouco se sabia se já havia sido casado, tivesse namoradas, como elas eram, sua vida pessoal era um mistério, procurou em seu laptop a noite antes de dormir se ele tinha alguma rede social, se sentiu uma adolescente, não fazia sentido ela ficar vasculhando a vida do homem, essa curiosidade repentina era fruto de um sussurro em pé de ouvido, aquelas palavras nem faziam sentido, ele era um devasso, provavelmente queria dizer que teria um caso com ela e ninguém jamais ficaria sabendo, como se ela fosse algo a ser escondido.

Ela era discreta com seus poucos relacionamentos, mas eles sempre foram públicos, nunca escondeu nada de ninguém, nem enganou, apesar de ter sido enganada diversas vezes, tinha vontade de sair sem rumo e perder a linha, mas lembrava que jamais ia ficar bem com ela mesma se fizesse isso, ela não tinha esse perfil, não condenava quem saía com vários caras, apenas não era do seu feitio, ela era mulher de um homem só, uma romântica iludida.

Dormiu aquela noite com o laptop no travesseiro ao lado aberto no Google o nome de Juliano estampava a barra de pesquisa e uma foto dele numa premiação estava logo abaixo. Ela estava de volta ao corredor da escadaria que dava à adega, mas ao invés de luzes de led, eram tochas que iluminavam o caminho, segurava na parede de pedra e por um momento escorregou e caiu, foi percorrendo a escadaria abaixo chegando ao piso inferior, lá uma mesa com velas e rosas a esperava, ela se levantou da queda, percebeu que estava com um vestido vermelho sangue, olhou para baixo e viu que estava descalça, se sentindo desfalcada, ficou a um passo da mesa quando um vulto surgiu do fundo da adega mal iluminada, ele trazia uma garrafa de espumante na mão e duas taças na outra, ela passou das mãos para o rosto do homem, mas quando chegou no colarinho um barulho enorme e um clarão a acordou.

Levantou da cama, seu laptop junto com almofada havia caído no tapete, por sorte não quebrou, olhou a foto de Juliano que estampava a página de pesquisa, o sonho ainda em mente e suspirou, precisava tomar um rumo na vida, mas agora era na vida pessoal, não profissional.

Domingo era seu dia de folga, ela havia combinado almoçar na casa do irmão, naquele dia foi particularmente ruim estar com sua família, apesar de amar seus sobrinhos, ver a felicidade do irmão com a cunhada a deixava inquieta, quando ela teria essa sorte, quando ela poderia também formar uma família, era triste pensar que sua vida se resumia ao trabalho e eventuais encontros com as amigas em pubs e barzinhos pela cidade, com conversas superficiais com caras que só querem uma noite de aventura, ela queria mais da vida, alguém para chamar de amor.

Durante a semana teve seus testes de paciência no trabalho, problemas com fornecedores, pedido que não foi devidamente anotado, um erro na entrega, cliente devolvendo pedido por erro no envio de item, sempre foram cuidadosas, mas a semana estava sendo desafiadora, a Lei de Murphy a estava testando, tudo que podia dar errado dava, ela chegou a ficar sem combustível levando uma encomenda para um bairro mais afastado numa zona rural.

Teve um pneu furado acertando o meio fio quando foi visitar um cliente, era um teste atrás do outro e prejuízos sendo contabilizados, a festa tinha que dar muito certo porque o dinheiro precisava entrar e não sair. A contratação da equipe para o buffet também foi um teste de resistência, como era sua primeira experiência com contratação de mão de obra externa teve que batalhar muito para encontrar uma empresa que oferecesse um preço razoável, agendou várias visitas e também foi num evento que uma das empresas estaria trabalhando para ver como eles se saíam, no fim se convenceu por uma empresa que apesar de cobrar um pouco mais garantir um contrato com mais segurança.

Encaminhou a planilha de custos finais para o cliente em questão, Juliano, estava realmente constrangida de ligar para ele, então tratou dos detalhes finais do jantar por email, ele foi muito solícito e respondia prontamente cada um que ela enviava.

Ela achou estranho quando na quinta-feira recebeu um email de Juliano solicitando que ela comparecesse a noite em sua casa para um menu degustação, ele explicou no email que estava preocupado com alguns pratos que havia escolhido e queria que ela demonstrasse a qualidade que seria executado, falou que pagaria pelo jantar sem problemas.

Ela ficou irritada, a primeira reação era responder e dizer poucas e boas, afinal se ele não confiava em sua capacidade de elaborar os pratos porque fez a contratação afinal? Mas respirou fundo, o ramo da alimentação gera muita expectativa nos clientes, ponderou que o cliente, diante de um evento daqueles tinha direito de se preocupar, respondeu concordando com o jantar.

Seu carro estava na oficina para arrumar o aro que além do pneu furado também ficou avariado, pegou um uber com seus equipamentos de cozinha numa mala, normalmente carregava eles no carro numa caixa, mas devido a estar desfalcada pegou uma mala de viagem e colocou seus pertences.

Quando chegou na portaria da mansão interfonou, curiosamente ele mesmo atendeu, o carro foi autorizado a subir pela entrada da casa, desceu do Uber e pegou sua mala do porta-malas, Juliano estava na entrada da casa para recepcioná-la, ele olhou com espanto quando ela retirou a mala, ela riu da cara que ele fazia, olhando da mala para ela, pensou que ele estaria imaginando que ela havia vindo para passar uma temporada na sua casa, o pensamento a fez soltar sem querer uma gargalhada.

Ela o cumprimentou apertando sua mão, deu umas palmadinhas na mala e disse "meus equipamentos de cozinha", ele ficou claramente aliviado, a vontade de rir novamente foi quase impossível de se conter. Mas lembrou que não podia fraquejar na frente desse homem, ele era perigo imediato, fechou a cara e entrou na casa acompanhada por Juliano.

Estava vestida com uma roupa confortável, apenas um salto que colocou mais por capricho não soube bem porque, pois não costumava usar aquele tipo de calçado no trabalho, a cozinha exigia horas em pé o que não era indicado para um salto, geralmente usava um tênis confortável.

Logo pediu licença e foi ao banheiro colocar seu domo, roupa característica dos chefs, queria parecer realmente profissional naquele ambiente, assim deixaria bem claro sua posição ali. Saiu do banheiro e Juliano a esperava sentado no sofá com duas taças de vinho na mesa de centro.

Ia ser uma noite difícil, ela se posicionou ao lado de uma poltrona em pé, perguntando se poderia já começar a preparar as entradas ou ele queria esperar mais seus convidados, ele a olhou surpreso, "não virá ninguém", ela olhou para a taça de vinho e perguntou "para quantas pessoas devo cozinhar?", "para nós dois apenas", ela tinha esperança que uma terceira pessoa aparecesse naquele momento, não esperava estar a sós com aquele homem em sua casa, era como estar no covil de um lobo.

Ficou vermelha, mas era uma profissional, explicou que não costumava jantar com seus clientes, apenas preparar o jantar, era mentira, quando cozinhava para clientes amigos sempre sentava-se à mesa, era até uma forma de controle de qualidade.

"Gostaria que você degustasse comigo para sabermos como ficará a harmonização dos pratos se não houver problema", ele estava apelando para seu lado profissional, não conseguiu resistir e aquiesceu, ia ser uma noite difícil, cozinhar para ele a deixava ainda mais nervosa de quando começou esse negócio há um ano atrás.

Pegou a taça de vinho da mesa e tomou um pequeno gole, era maravilhoso, nem em seus sonhos tinha experimentado algo tão bom, perguntou logo qual era a vinícola que produzia tal vinho, ele disse que era uma reserva pessoal de uma fazenda que ele possuía na Toscana, engoliu em seco com a informação, só veio a sua cabeça a mensagem: podre de rico.

Avisou que iria começar a preparar as entradas se ele não se importasse, se dirigindo imediatamente à cozinha com sua mala, abriu e ia começar a tirar seus utensílios quando observou que na bancada daquela maravilhosa cozinha já possuía todos os instrumentos que precisava, as facas eram de primeira qualidade, melhores que as suas, pegou apenas os ingredientes de alguns pratos que trouxe em pequenas bolsas térmicas acompanhadas de gelo na sua mala, havia escolhido a dedo os ingredientes, esperava que tudo estivesse fresco para a degustação.

Notou que na janela da cozinha havia vários vasos com pequenas plantas de temperos, experimentou alguns, iam dar um toque especial ao jantar. Começou a cortar os ingredientes, colheu algumas folhas dos vasos, quando retornou à bancada a figura de Juliano estava encostada na porta de entrada da cozinha com as duas taças de vinho nas mãos.

"Acho que você esqueceu seu vinho na sala", lhe entregando a taça, ela pegou a taça e colocou sob a bancada de mármore, notou que o homem fez uma cara feia quando viu que ela não sorveu outro gole.

"Estou guardando para experimentar com a entrada", "tem muito mais de onde veio esse", "não acredito que eu tenha condições de cozinhar se tomar uma garrafa".

E com isso continuou a preparar a comida, mas percebeu de canto de olho que ele não abandonou a cozinha, pelo contrário, pelo barulho ele arrastou uma banqueta e sentou na ponta da bancada para assistir a preparação dos pratos, ela ficou sem graça, mas a cozinha era dele seria indelicado mandá-lo embora.

Ele ficou ali observando seus preparos, ela aproveitou e pediu que ele provasse alguns alimentos, preparou uma tábua rápida de frios, umas bruchettas, que consistiam em torradas com cobertura variadas ao estilo italiano, ele comeu tudo elogiando cada preparo.

Ele se levantou de repente e saiu da cozinha sem falar nada, ela achou estranho, sumindo por uns trinta minutos, voltou com outra garrafa de vinho em mãos, ela notou que a taça que ele tinha deixado na bancada estava vazia, era óbvio que ele havia saído para buscar o vinho mas achou estranho a demora.

Nisso, o prato principal já estava quase ficando pronto, antes dela aparecer novamente ela começou a ficar preocupada se havia acontecido algo com ele. Quando ele voltou ela tratou de perguntar se estava tudo bem, ele parecia um pouco pálido.

Ele sorveu da taça recém preenchida, logo recobrando a cor natural, ela aproveitou para beber outro gole de sua taça, comendo uma última bruschetta, a combinação foi excelente, perguntou antes claro se ele desejava mais bruschettas de entrada, ele negou, disse que preferia esperar o prato principal, ela estava aguardando a finalização no forno de sua criação.

Enquanto isso, um silêncio perturbador se formou, ele parecia incomodado com algo desde que havia saído para buscar a nova garrafa de vinho, ela não tinha intimidade para perguntar o que seria que afligia esse homem, mas logo ele novamente levantou-se e saiu da sala, agora a taça ainda estava cheia, não acreditou que ele fosse buscar outra garrafa de vinho.

O prato estava finalizado e pronto para servir mas seu cliente havia desaparecido, ela aguardou alguns minutos, mas se esperasse mais o ponto da carne iria acabar se perdendo, desligou o assado e tirou do forno e foi atrás de seu anfitrião para saber se poderia servir a comida.

Ao chegar a sala não o encontrou, foi até a porta da escada que estava fechada, abriu, chamou por ele, mas nem sinal de vida. Começou a ficar preocupada, talvez ele estivesse no banheiro, não queria ser indiscreta, mas realmente estava preocupada, não sabia ao certo onde era o banheiro mas a parte inferior era um cômodo amplo que era a sala imensa, tirando a porta da cozinha, e da escadaria que dava à adega identificou mais duas portas, bateu na porta seguida da escadaria, ela se abriu com a batida, era um escritório com estantes forradas de livros, um deleite aos olhos.

No centro havia uma mesa de madeira com uma cadeira em estilo francês, uma obra prima da marcenaria, um laptop de última geração, ainda da porta olhava tudo isso embevecida, mas não era indiscreta, não iria entrar no escritório sem autorização, então tratou de chamar por Juliano e ao não ter resposta fechou a porta.

                         

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