-Eu já te disse. Alguém importante para mim morreu.
-Quem?
Alexander fechou os olhos por um segundo, como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado. Então, seu olhar voltou para ela, intenso e calculador.
-Meu irmão.
Isabella sentiu um golpe no peito.
-Seu irmão?
Ele assentiu lentamente.
-Se chamava Samuel. Tinha dezessete anos. Não éramos milionários naquela época. Mal sobrevivíamos. Minha mãe trabalhava dia e noite, e eu fazia o que podia para que não afundássemos. Mas Samuel... ele sempre quis algo melhor. Queria ajudar os outros. Por isso estava lá.
-Na comunidade? -Isabella estremeceu.
-Sim -respondeu com um tom amargo-. Ele tinha se juntado a um grupo de voluntários que ajudavam as pessoas do bairro. Passava mais tempo lá do que em casa. Eu não entendia isso naquela época... só achava que ele estava perdendo tempo em vez de se concentrar em sobreviver.
Sua voz ficou mais baixa.
-Naquela noite, quando o incêndio começou, alguém me ligou. Não sei como, mas alguém soube que ele estava lá e me avisou. Corri o mais rápido que pude. Vi as chamas, vi as pessoas tentando escapar, vi o caos... e o vi preso dentro de uma das casas.
Isabella mal conseguia respirar.
-Tentei entrar, juro que tentei -sussurrou Alexander, sua voz cheia de raiva contida-, mas já era tarde demais.
O silêncio que se seguiu foi esmagador.
-Depois disso, não me restou nada -continuou ele, com um olhar perdido-. Não tinha família, não tinha dinheiro, não tinha propósito. Só tinha raiva.
Isabella sentiu um nó na garganta.
-E o que fez com essa raiva?
Alexander a olhou de uma forma que mexeu com seu estômago.
-Eu usei.
A Transformação de um Homem
Isabella respirou fundo.
-Então você desapareceu.
Ele assentiu.
-Fui embora. Busquei respostas, busquei vingança. E quando voltei, não era mais o mesmo.
-Você se tornou o homem que é agora.
-Me tornei alguém que nunca mais seria vulnerável -confirmou, apoiando-se na mesa com os nós dos dedos brancos de tanto apertar os punhos-. Alguém que nunca mais perderia ninguém sem lutar.
Isabella sentiu um calafrio.
-E os responsáveis? -perguntou em voz baixa-. O que aconteceu com eles?
Alexander a olhou, e seu sorriso foi tão sombrio que gelou seu sangue.
-Digamos que pagaram pelo que fizeram.
Ela engoliu em seco.
-Fez justiça... ou se vingou?
Ele se inclinou um pouco mais em direção a ela.
-Às vezes, não há diferença.
Isabella sentiu uma estranha mistura de emoções. Alexander Blake não era apenas um magnata impiedoso. Ele fora um jovem quebrado pela tragédia. E agora... ele era um homem perigoso, mas não apenas porque tinha dinheiro e poder. E sim porque não tinha medo de usar ambos para fazer o que acreditava ser o certo.
E o pior era que, no fundo, ela não tinha certeza se isso o tornava um vilão ou alguém que, pela primeira vez, entendia muito bem.
Um Aviso e um Desafio
Alexander a observou em silêncio por um momento.
-Agora que sabe, o que fará com essa informação?
Isabella piscou.
-Publicá-la.
Ele sorriu, embora em sua expressão não houvesse nem um vestígio de surpresa.
-Claro que fará isso. Você é Isabella Ramírez, a jornalista que expõe a verdade.
-Exatamente.
Ele se aproximou ainda mais, e pela primeira vez, sua arrogância habitual desapareceu.
-Mas tenha cuidado com o que revela, Isabella. Às vezes, a verdade não destrói apenas quem a esconde... mas também quem a busca.
As palavras dele a atingiram mais forte do que ela esperava.
E, naquele momento, soube que essa história não era apenas sobre ele. Mas também sobre ela. E sobre o perigo em que estava prestes a se meter.