Londres me acolheu exatamente como eu esperava. Longe da sombra do meu pai, pude, enfim, seguir meu próprio caminho. Formei-me em Engenharia de Software e Hardware, um campo que sempre me fascinou. Conquistar esse diploma por mérito próprio me proporcionou uma satisfação indescritível.
Agora, anos depois, estou de volta a Nova York.
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O som abafado das rodinhas da minha mala deslizando pelo piso do aeroporto quase se perde em meio ao burburinho ao redor. Anúncios ecoam pelos alto-falantes, convocando passageiros para seus voos. O aroma de café recém-passado se mistura ao cheiro artificial do ambiente, enquanto pessoas passam apressadas - algumas sorrindo em reencontros calorosos, outras se despedindo com olhos marejados.
Meu coração acelera ao reconhecer uma silhueta familiar à minha espera. Wendy.
Ela está próxima à saída, segurando um copo de café em uma das mãos e acenando freneticamente com a outra. Seu sorriso radiante ilumina seu rosto delicado, destacando seus olhos amendoados e os fios negros e lisos que caem elegantemente sobre seus ombros. Sua pele clara parece ainda mais luminosa sob as luzes artificiais do aeroporto.
Assim que me aproximo, ela abandona o copo no primeiro balcão que encontra e praticamente se joga em mim, envolvendo-me em um abraço apertado.
- Não acredito que você está de volta! - exclama, apertando-me contra si.
Wendy é minha melhor amiga desde a infância. Crescemos juntas, unidas pela amizade de nossas mães, que se conheceram ainda no ensino fundamental. A senhora Meiying Yujin imigrou da Coreia do Sul para os Estados Unidos na juventude e construiu um verdadeiro império no ramo jornalístico. Inspirada por essa trajetória, Wendy seguiu seus passos e se tornou uma jornalista brilhante.
- Eu também senti saudades - respondo, rindo ao me afastar ligeiramente para encará-la.
Ela me analisa dos pés à cabeça, como se quisesse se certificar de que sou real.
- Olha só para você! Senhorita Londres, toda chique. Mas cadê o sotaque britânico?
Reviro os olhos e lhe dou um leve empurrão.
- Nem vem!
Ela ri e pega minha mala, puxando-a enquanto caminhamos para fora do aeroporto.
- Antes que pergunte, Melyssa está ocupada com a inauguração do restaurante - diz Wendy, como se adivinhasse minha próxima pergunta.
- Imaginei. Ainda bem que consegui chegar a tempo.
- Ainda bem mesmo, porque ela teria te matado se perdesse esse momento.
- Sei bem.
Wendy balança a cabeça, divertida, e logo muda de assunto.
- Ela deixou a chave do apartamento comigo, já que você me traiu indo morar com ela.
Arqueio uma sobrancelha, cruzando os braços.
- Eu te traí indo morar com ela? O apartamento é uma das poucas coisas que minha mãe me deixou, e confiei a Melyssa o cuidado dele enquanto estive fora. Além disso, eu não queria ser vela para você e Vini, já que agora vocês moram juntos.
Wendy suspira e ergue as mãos em rendição.
- Ok, você tem razão.
- E muita - provoco.
Ela revira os olhos, soltando um suspiro teatral.
- Amiga, eu não acreditei quando você me contou que ia estudar em Londres. Eu jamais teria essa coragem! Ainda mais sem dinheiro, já que seu pai bloqueou todos os seus cartões e aquele seu salário da cafeteria mal dava para comprar uma bolsa da Gucci.
Dou uma risada baixa e sacudo a cabeça.
- Eu precisava provar a mim mesma que conseguiria alcançar meus objetivos sem depender dele. E consegui. Meu foco era me formar, e eu fiz isso.
Wendy assente, mas seus olhos brilham com aquela expressão típica de quem está prestes a soltar uma fofoca.
- Ele ficou uma fera na sua ausência. E os Oliveira também, já que fugir significava recusar o casamento.
Solto um suspiro.
- Eu não ia me casar com Pablo, e meu pai sabia disso muito bem.
- Valesca não perdeu tempo depois da sua partida. Fontes me disseram que os dois estão saindo, mas Pablo não quer nada sério com ela.
Deixo escapar um riso irônico.
- Era de se esperar. Aquele lá não é do tipo que se prende a alguém. O que eu não entendo é por que ele aceitou essa ideia absurda de casamento.
Wendy me lança um olhar sugestivo.
- Você realmente não sabe?
- Não me venha novamente com esse papo ridículo de que aquele idiota é apaixonado por mim.
- Você sabe que é verdade. Enquanto todas caíam aos pés dele, você sempre foi indiferente. Acho que foi isso que fez com que ele se apaixonasse. E, convenhamos, você é gata.
Reviro os olhos.
- Menos. Muito menos. Tudo o que ele queria era me adicionar à sua lista infinita de ficantes. Por isso se prestava a fazer aquele teatro absurdo de noivado.
Wendy estreita os olhos, pensativa.
- Eu não sei, não...
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