Meu coração dá um salto. Eu já havia visto algumas fotos dele no perfil da Mel, mas, pessoalmente, a diferença era gritante. Ele tirou os óculos, ganhou ainda mais músculos - não que antes não tivesse, mas agora estavam ainda mais definidos. O cabelo, que antes caía até os ombros, foi cortado curto, e uma barba rala delineava seu rosto. Embora eu adorasse seus cabelos longos, preciso admitir: ele continua perfeito. Seus olhos cor de avelã me encaram em silêncio, e, por um momento, me pergunto se ainda estou sonhando. Sou arrancada desse devaneio quando meu despertador começa a tocar.
- Desculpa, não queria te acordar - diz ele, com um sorriso sem jeito que faz meu coração derreter por dentro.
- Na verdade, eu já ia acordar... Seriam só alguns segundos depois, mas ia - brinco, tentando amenizar seu constrangimento.
- Mais uma vez, desculpa.
- Está tudo bem - respondo, pegando o controle e desligando a TV. - Afinal, o que você faz aqui?
Acabo sendo direta demais, mas a curiosidade me domina.
- Melyssa me pediu para levar seu vestido; ela vai se arrumar no restaurante.
- Entendi. Pode ficar à vontade. - Já planejo ir para o quarto. Quanto menos tempo perto dele, melhor.
- Ela não mencionou que você estaria aqui. Quando retornou?
Sua pergunta me detém antes que eu possa fugir.
Um ano antes de viajar, comecei a namorar Matteo. Estávamos juntos em segredo. Estudávamos na mesma universidade. Eu já o tinha visto algumas vezes na casa de Mel, mas nunca havíamos conversado de fato, nem éramos próximos. Como me formei cedo e ingressei na faculdade de Direito aos 16 anos, Mel pediu que ele cuidasse de mim e me acompanhasse nos almoços para que eu não ficasse sozinha. Foi assim que tudo começou.
Matteo sempre foi distraído, e, em pouco tempo, eu já estava completamente apaixonada por ele. Mas levou quase um ano para que ele percebesse, já que só vivia para os estudos e o trabalho, além de ser incrivelmente tímido. Ele era doce, gentil e extremamente respeitoso. O tipo de pessoa que conquista qualquer um. Sua área de estudo sempre me interessou, pois eu sonhava em trabalhar no mesmo ramo, e isso nos aproximou ainda mais.
Eu não sabia como ele se sentia em relação a mim, já que era mais velho. Apenas três anos, o que não era muita coisa, mas suficiente para ele criar barreiras. Quando o beijei pela primeira vez, ele meio que surtou. Disse que eu tinha apenas 17 anos e veio com um discurso sobre princípios, afirmando que não poderíamos ficar juntos por causa da minha idade. Além disso, mencionou que sua mãe era assistente do meu pai, o que, para mim, não fazia diferença alguma.
Tive que insistir bastante até que ele finalmente aceitasse e começássemos a namorar.
Pedi um tempo para contar ao meu pai, já que nossa relação era complicada. Eu sabia que ele usaria minha idade contra mim, então queria esperar até completar 18 anos. Mas ele descobriu exatamente no dia do meu aniversário.
Ele me proibiu de ver Matteo. Disse que demitiria a senhora Ashley se eu não terminasse imediatamente e fecharia todas as portas de emprego para ela. Afirmou também que garantiria a expulsão de Matteo da universidade e que nenhuma outra o aceitaria. Meu pai é um homem extremamente poderoso, e eu não duvidei por um segundo de que ele cumpriria suas ameaças.
Somente por esse motivo me afastei de Matteo. Eu sabia o quanto sua mãe havia se esforçado para criar os filhos sozinha. Melyssa já havia me contado a história deles. Seu pai os abandonou ainda jovens para ficar com outra mulher. Ele nunca manteve contato, nunca se preocupou com o bem-estar dos filhos nem ajudou financeiramente. Melyssa logo entraria na faculdade e precisaria do apoio da mãe. Matteo também trabalhava para ajudar com as despesas de casa e, apesar de ser bolsista, tinha gastos com livros e outras necessidades acadêmicas.
Quando terminamos, não contei a ele o verdadeiro motivo. Mas logo os tabloides começaram a publicar matérias falsas sobre meu suposto noivado com Pablo. Para piorar, ele confirmou que estávamos juntos há meses, o que não era verdade.
Matteo acreditou que eu o havia traído, que o deixei por dinheiro e por vergonha dele. Era ridículo. Se dependesse de mim, nunca o teria abandonado. Mas ele não quis me ouvir.
Engulo em seco antes de responder:
- Cheguei hoje de viagem.
- Ah, sim. Estranho não ter ido matar a saudade do seu noivo - diz ele, com um tom ácido que me irrita.
Ignoro a provocação.
- Preciso me arrumar agora. Como já disse antes, fique à vontade. - Estou prestes a me retirar quando sua voz me interrompe.
- Eu... posso te levar para o restaurante, se quiser.
O convite me pega de surpresa.
- Não quero te incomodar, e você deve ir buscar Catarina - respondo friamente.
Ele hesita.
- Nós... é... terminamos - solta inesperadamente. Não nego que fico feliz em saber disso, mas ele não precisa saber.
- Sinto muito - minto, mantendo minha expressão impassível.
Ele me encara por um instante, mas não diz nada. Apenas desvia o olhar e segue em frente.
- Vou esperar você se arrumar - diz Matteo, dirigindo-se ao quarto de Mel.
Engulo em seco.
- Já disse que não precisa. A Wendy ficou de me buscar - respondo, tentando esconder minha frustração.
- Isso não é uma opção. Melyssa vai precisar da sua ajuda, e, conhecendo a Wendy, sei que ela só vai te atrasar - afirma, pouco antes de desaparecer dentro do quarto.
Fico parada por alguns segundos, absorvendo suas palavras.
No início do nosso relacionamento, passávamos a maior parte do tempo neste apartamento. Matteo foi meu primeiro tudo. Meu primeiro beijo. O primeiro homem a quem me entreguei por completo.
Desde o término, não fiquei com mais ninguém. Wendy tentou me convencer a sair, a dar uma chance para novos encontros, mas eu simplesmente não conseguia. Não estava disposta a reviver a mesma decepção, a passar pela dor de me apegar a alguém apenas para acabar machucada outra vez. Então, decidi focar nos estudos e na carreira.
Mel não sabe sobre o nosso relacionamento fracassado. Apenas Wendy e Ashley - sua mãe, que acabou descobrindo de uma forma vergonhosa, em um incidente que prefiro não comentar.
Solto um suspiro resignado.
- Ok - murmuro, sem outra opção. Sei que, se continuar inventando desculpas para evitá-lo, ficará mais do que evidente que ainda tenho sentimentos por ele.
Sem dizer mais nada, sigo para o quarto, determinada a me arrumar.