Capítulo 4 4

O som do motor do carro zumbia de forma constante enquanto avançavam pela estrada vazia. Valeria não conseguia parar de pensar no que havia acontecido nas últimas horas. Desde que saiu da cidade, cada passo que dava ao lado de Alexander a levava cada vez mais longe da vida que conhecia. A jornalista que era, a mulher que tinha uma vida organizada e controlada, parecia desaparecer pouco a pouco, sendo substituída por uma fugitiva que já não sabia em quem podia confiar.

Alexander dirigia com uma destreza impressionante, suas mãos firmes no volante, sua expressão séria, como se estivesse focado em algo muito maior do que eles. Mas Valeria não conseguia se livrar da sensação de que havia algo que ele não estava lhe contando, algo que escondia e que, de alguma forma, vinha tentando protegê-la. No entanto, suas intenções pareciam contraditórias: ele a havia salvado, mas... de quê exatamente?

De repente, o carro fez uma curva brusca e entrou em uma estrada secundária, estreita e esburacada. A estrada estava cercada por árvores altas, criando uma espécie de túnel natural que parecia isolado do resto do mundo. Valeria olhou pela janela, procurando algo, qualquer coisa que indicasse que a situação não era tão perigosa quanto parecia, mas tudo o que viu foi a paisagem desolada, com sombras profundas se estendendo à medida que o sol começava a se pôr no horizonte.

- Onde estamos? - perguntou, elevando a voz para ser ouvida sobre o ronco do motor.

- Um lugar seguro - respondeu Alexander, sem se virar. Seu tom era firme, quase cortante.

- Seguro? Seguro de quê? - Valeria sentiu a frustração subir em seu peito. - Pode parar de me tratar como se eu fosse uma idiota? Não posso continuar sem respostas.

Alexander permaneceu em silêncio por alguns segundos, com o olhar fixo na estrada à frente. Finalmente, parou o carro ao lado de uma pequena cabana escondida entre as árvores. O lugar parecia abandonado, mas Valeria reconheceu sinais de que alguém estivera ali recentemente: a madeira da porta era nova, e as janelas estavam ligeiramente abertas, como se o lugar estivesse sendo ventilado.

- Desça. - Seu tom de comando não deixava espaço para dúvidas.

Valeria o encarou fixamente. Podia ver a tensão em seus músculos, a forma como ele se preparava para o pior. Estava claro que sua relação com ele ainda era instável, e embora sua vida dependesse dele, ela não podia seguir sem obter mais respostas.

- Eu vou, mas preciso saber a verdade - disse ela, forçando uma calma que não sentia.

Alexander suspirou e virou-se para ela com uma expressão séria.

- Certo. Ouça com atenção, Valeria. O que você está prestes a ouvir não será fácil de aceitar e, talvez, você nem queira saber. Mas vou te contar porque, neste momento, somos tudo o que temos um ao outro.

Valeria permaneceu em silêncio, esperando que suas palavras finalmente lançassem alguma luz sobre a escuridão que a cercava.

- Você é um peão em uma guerra muito maior do que imagina. Aquele artigo que escreveu sobre corrupção não foi apenas mais um relatório. Foi a fagulha que acendeu um incêndio que esteve latente por anos. O que você descobriu não envolve apenas o governo. Há algo muito mais profundo, mais sinistro. E as pessoas que estão te procurando... não vão parar por nada até conseguirem o que querem.

Valeria engoliu em seco, sua mente começando a conectar as peças, mas ainda cheia de dúvidas.

- Quem são eles? O que querem de mim?

- Querem que você se cale. Querem que pare de investigar. E quando não conseguirem te silenciar, vão querer destruir tudo o que você construiu. Sua vida, sua reputação, tudo. E, se for necessário, sua morte.

Valeria sentiu como se o ar escapasse de seus pulmões.

- E você? O que você é? - perguntou, sua voz frágil pela tensão.

Alexander a encarou. Não havia resposta imediata. Apenas os olhos de um homem que parecia ter vivido demais.

- Sou um homem contratado para resolver problemas. É a única coisa que sei fazer. Alguns problemas exigem uma abordagem mais... direta. Outros, como o seu, exigem discrição. Mas tudo se resume a uma coisa: eu te protejo porque essa é a minha missão.

Valeria o olhou com ceticismo. Não conseguia entender por que ele a protegia. Tudo em sua natureza lhe dizia para desconfiar dele e, ainda assim, ali estava ela, disposta a ouvir.

- E se eu tivesse sido morta? Por que não fizeram isso?

Alexander hesitou por um instante antes de voltar a olhar para a cabana.

- Porque, naquele momento, não era a hora certa. Nem para eles, nem para mim. Mas eles decidirão mais tarde. Eles sempre decidem.

Valeria sentiu o medo se espalhar por seu corpo. Tudo o que acreditava sobre sua vida havia desmoronado em questão de dias. Ela já não sabia em quem confiar. E Alexander, o homem que a havia salvado de uma morte certa, poderia ser o mesmo que a estivera perseguindo o tempo todo.

- Por que não me deixou em paz? Por que não me deixaram em paz? - perguntou, sua voz quebrada pelo desespero.

Alexander não respondeu de imediato. Permaneceu em silêncio por alguns segundos, observando-a. Finalmente, saiu do carro e abriu a porta para que ela descesse.

- Porque eu não tenho outra escolha, Valeria. Nenhum de nós tem.

Ela o encarou com firmeza, mas, no final, aceitou a realidade. Estava presa em um jogo perigoso, e não havia como escapar. Pelo menos, não ainda.

Quando ambos entraram na cabana, o ar era pesado, mas, ao mesmo tempo, algo naquele pequeno refúgio a fez se sentir um pouco mais segura. Ao longe, as luzes de Paris já não podiam alcançá-la, mas o eco dos homens que a perseguiam ainda ressoava em sua mente.

Alexander fechou a porta com um clique suave, certificando-se de que ninguém os havia seguido.

- Temos pouco tempo. É questão de horas. Precisamos agir rápido. - Seu tom havia mudado, tornando-se mais grave.

Valeria o olhou com determinação. Embora não entendesse tudo o que estava acontecendo, sabia que, se quisesse continuar viva, teria que confiar nele, pelo menos por enquanto.

- Para onde vamos? - perguntou, sua voz firme.

- Para um lugar onde finalmente poderemos enfrentar aqueles que estão por trás de tudo isso. Não quero que ninguém mais te machuque. Mas não haverá volta.

Valeria assentiu lentamente, aceitando seu destino, embora não fizesse ideia do que a esperava. A única coisa que sabia era que estava andando na corda bamba, e a queda poderia ser mais dolorosa do que jamais imaginara.

            
            

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