Capítulo 5 5

O tempo parecia arrastar-se lentamente na pequena cabana. Fora das paredes de madeira, a noite havia caído sobre o mundo, escura e silenciosa, como um manto pesado que envolvia tudo. Dentro da cabana, o ar estava carregado de tensão, como se as próprias paredes estivessem prestes a explodir. Valeria não conseguia parar de pensar nas palavras de Alexander. Cada frase ressoava em sua mente, como um alarme que não parava de tocar. "Não há volta atrás..."

Levantou-se da cadeira onde estivera sentada por horas, tentando organizar seus pensamentos. A imagem de sua vida anterior, tranquila e previsível, agora se desvanecia cada vez mais, como um miragem que se dissolve sob o calor do sol. A mulher que havia sido, a jornalista comprometida com a verdade, estava sendo substituída por outra pessoa, alguém que nem ela mesma reconhecia.

Voltou a olhar para Alexander, que estava de pé perto da janela, observando o exterior com intensidade. O silêncio entre eles era denso, cheio de perguntas não feitas, de desconfianças compartilhadas. Cada movimento dele a inquietava, mas havia algo em sua postura, algo na maneira como se comportava, que a fazia duvidar. Poderia confiar nele? Ele poderia ser um assassino, um homem que já havia matado antes, mas o que ele dissera, as pequenas rachaduras de sua humanidade, diziam o contrário. Ou era apenas uma fachada?

Aproximou-se da mesa onde estava a pasta que Alexander havia trazido do posto de gasolina. Apesar de suas dúvidas, precisava saber mais. Abriu o envelope, que fora cuidadosamente lacrado, e retirou as folhas. O que encontrou ali foi ainda mais desconcertante do que imaginava.

Os documentos falavam de uma rede de corrupção internacional, muito maior e mais complexa do que poderia ter acreditado possível. As informações estavam ligadas a grandes corporações, políticos de alto escalão e até mesmo agências governamentais. No entanto, havia algo mais que a deixou gelada: seu nome aparecia ali, em várias páginas, vinculado a uma série de investigações que indicavam que alguém vinha monitorando seu trabalho há anos. Por quê?, pensou, confusa.

Passos leves a tiraram de seus pensamentos. Alexander havia começado a se mover pelo cômodo. Seus olhos brilhavam com determinação, uma urgência palpável.

- Está na hora de você saber de tudo, Valeria - disse ele, sem olhá-la diretamente, como se estivesse evitando encará-la.

Valeria largou os papéis sobre a mesa e virou-se para enfrentá-lo.

- O que é tudo isso, Alexander? Por que meu nome está aqui? - perguntou, sua voz firme, mas com um tom de medo que não conseguiu esconder.

Ele respirou fundo e, finalmente, voltou-se para ela. Seus olhos eram escuros, carregados de segredos e de algo mais, algo que Valeria não conseguia definir.

- Porque você é o alvo final. Não apenas você, mas tudo o que descobriu. O que começou a investigar, a fraude que começou a desvendar, está ligada a um grupo que movimenta os fios de tudo. Eles são os verdadeiros poderes que controlam o jogo. Não são políticos, nem empresários; são sombras, aqueles que estão acima de todos, além do alcance da lei. As pessoas que te seguem, as pessoas que tentam destruir tudo o que você fez, não vão parar. E você é a última peça que falta para completar o círculo.

Valeria sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Ela havia tocado em algo profundo demais, algo muito maior do que qualquer reportagem que já fizera antes.

- E você? Qual é o seu papel nisso tudo? - perguntou, com a voz trêmula, incapaz de manter a calma.

- Sou a peça que mantém todos sob controle - respondeu Alexander, sem hesitar. - Meu trabalho não é apenas te proteger. Estou atrás deles há muito tempo. Vi pessoas morrerem por saberem demais. E você... se meteu em um território perigoso. Você se tornou uma ameaça.

Valeria deu um passo para trás, sentindo o medo tomar conta dela. No entanto, algo em suas palavras ressoava dentro de si, algo em seu olhar a mantinha presa a ele. Podia senti-lo, sua preocupação, seu medo e, ao mesmo tempo, sua determinação. Ele não era apenas um assassino sem escrúpulos; era alguém que lutava por algo, embora Valeria não entendesse exatamente o quê.

- Então, o que fazemos agora? - perguntou ela, sua voz quase um sussurro, como se as próprias palavras pudessem ser ouvidas por mais alguém.

- Agora, saímos daqui. - Alexander se aproximou dela, seu olhar fixo. - Eles estão nos procurando, e se quisermos sobreviver, precisamos agir rápido.

Um ruído surdo veio do lado de fora. Ambos ficaram em silêncio, tensos, esperando. Os olhos de Alexander se estreitaram, avaliando o som. Foi então que o barulho de um motor arrancando à distância chegou aos seus ouvidos.

- Estão perto! - disse ele rapidamente. Dirigiu-se até a janela e observou por um instante. Valeria, com o coração disparado, olhou ao redor, procurando uma saída, qualquer rota de fuga.

- O que está acontecendo? Quem são eles? - perguntou ela, sua voz trêmula.

Alexander não respondeu de imediato, apenas começou a juntar suas coisas rapidamente, certificando-se de que tudo estivesse pronto. Então, virou-se para ela, com uma seriedade que a deixou sem fôlego.

- Os homens lá fora são deles. Trabalham para os que vivem nas sombras. Eles virão atrás de nós e, se não agirmos agora, não haverá segunda chance.

Valeria engoliu em seco, seus pensamentos girando a mil por hora. Estava realmente envolvida em algo tão grande, tão perigoso? O medo a invadiu, mas também uma sensação de impotência. Como poderia escapar de algo que nem sequer entendia completamente?

- Para onde vamos? - perguntou, tentando manter a calma.

- Para um lugar seguro. - A resposta de Alexander foi breve, mas seu tom era grave, como se tudo dependesse dos próximos minutos.

Antes que ela pudesse protestar, Alexander segurou sua mão e a conduziu para fora da cabana. O ar frio da noite a atingiu de imediato, e os sons dos motores se aproximavam. Correram para o carro sem dizer mais nada e, quando Alexander ligou o motor, Valeria mal conseguia ouvir sua própria respiração.

A viagem não foi longa, mas cada segundo parecia uma eternidade. As luzes dos carros que os seguiam tornaram-se mais evidentes no retrovisor, um sinal inconfundível de que não estavam a salvo, de que o perigo estava mais próximo do que nunca.

- Para onde estamos indo? - perguntou Valeria, olhando ao redor enquanto o carro acelerava.

- Para um lugar onde finalmente poderemos enfrentá-los e ver seus rostos. A guerra que começou com você não terminará até que fiquemos cara a cara com eles.

Valeria sentiu como se o chão desaparecesse sob seus pés. O que havia começado como uma investigação rotineira estava se tornando um pesadelo sem fim. Mas agora não havia mais volta. A guerra, enfim, havia começado.

                         

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