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O baile rolava pesado, mas eles estavam em outra frequência. Enquanto a galera dançava no ritmo do tamborzão, Kaíque e Melissa se encaravam como se estivessem num duelo silencioso.
- Você não tem cara de quem cola em baile de favela - ele falou, se aproximando devagar, o copo de gin na mão.
- E você não tem cara de quem conversa antes de puxar pela cintura - ela rebateu, o olhar firme, desafiador.
Kaíque riu. Um riso rouco, daqueles que arrepiam.
- Gosta de perigo, princesa?
- Gosto do que é real. E você... parece real demais.
A música trocou. Um batidão mais lento, mais pesado. Daqueles que fazem o corpo se mover sem pedir permissão.
Melissa não esperou convite. Se aproximou.
- Vai me mostrar como se dança aqui... ou só sabe falar bonito?
Kaíque deu um passo pra trás, estendeu a mão e ela aceitou. Os dois se encaixaram no meio da pista como se o mundo tivesse guardado aquele momento há anos.
Ela sentia o calor do corpo dele, o cheiro da pele com perfume barato e suor. Ele sentia o toque da pele dela - macia, cheirosa, perigosa.
Ela descia devagar, rebolando com controle e ousadia. Ele acompanhava, firme, mas sem invadir. Ainda.
Os olhares diziam tudo que as bocas não podiam gritar ali no meio do povo.
- Como é seu nome? - ela perguntou no meio do som.
- Kaíque. E o seu, patricinha corajosa?
- Melissa.
- Melissa - ele repetiu como quem prova um doce raro.
Um cara se aproximou, bêbado, e puxou Melissa pelo braço.
- E aí, bonequinha, dança comigo?
Kaíque virou na hora.
- Tá maluco, irmão? Some daqui.
O bêbado recuou, resmungando. Melissa olhou surpresa.
- Cê não gosta de dividir, é isso?
- Não com qualquer um.
Ela sorriu.
E naquele momento, entre o calor do baile, a fumaça no ar e o cheiro de adrenalina, Kaíque entendeu:
Aquela garota ia ser seu maior problema.
E o melhor também.