Capítulo 5 Chama que arde

O baile continuava fervendo, mas pra eles o tempo parecia dobrado. Kaíque segurava Melissa pela cintura com firmeza, mas sem pressa. Era o toque de quem sabe o poder que tem nas mãos.

Ela se deixava levar, mas com controle. Sabia provocar com o olhar, sabia que cada movimento seu fazia ele perder a razão um pouco mais.

- Aqui não é lugar pra você - ele disse no ouvido dela, a voz baixa, quente.

- Então por que eu me sinto mais viva aqui do que em qualquer lugar? - ela respondeu, olhando de baixo pra cima, com aquele brilho debochado nos olhos.

Kaíque pegou a mão dela.

- Vem comigo.

Ela nem hesitou.

Subiram por uma viela lateral, por entre corredores estreitos com luzes piscando, paredes com grafites e o som do baile ecoando ao fundo. Subiram até uma laje onde dava pra ver a favela inteira iluminada, viva.

- Aqui é onde eu respiro - ele disse, soltando a mão dela. - Onde ninguém manda em mim.

Melissa olhou em volta, depois pra ele.

- E agora? Vai me mostrar quem você é de verdade?

Kaíque se aproximou, o rosto a centímetros do dela.

- Cê tem certeza que quer saber?

Ela não respondeu com palavras. Apenas encostou a boca na dele, de leve. Primeiro um selinho, quase inocente. Depois, outro. Mais demorado. E então... fogo.

O beijo veio urgente, faminto. Como se os dois estivessem se contendo desde sempre.

As mãos dele deslizaram pela cintura dela, firmes, mas respeitando o tempo. Ela puxou ele pela camisa, grudando o corpo no dele, sentindo o abdômen rígido, o calor, a tensão.

- Cê me provoca, Melissa - ele murmurou entre os beijos.

- E você me tira do eixo.

Ela subiu a mão pela nuca dele, puxando o cabelo curto, enquanto ele encostava as costas dela na parede de concreto da laje. Beijos molhados, respiração entrecortada, corpos se descobrindo ali mesmo, sob a lua da favela.

Não houve pressa. Mas também não houve freio.

Ali, naquele pedaço de céu, duas realidades colidiram. Não era só luxúria. Era fome de sentir. Fome de vida.

E a chama... começou a arder de verdade.