A tarde se estendia lentamente, e Isabela não conseguia tirar os olhos de Evelyn, que agora caminhava pela sala com uma calma impressionante. Cada passo dela parecia pesar no ar, como se carregasse o fardo de uma verdade que há muito tempo esperava para ser revelada.
"Você ainda não entende, Isabela. Eu sei," disse Evelyn, interrompendo os pensamentos de Isabela. Ela parou diante de uma grande mesa de jantar, sobre a qual havia uma carta antiga, aberta, e uma vela apagada que tinha marcas de uso. "Mas você precisa entender que os fios do destino não são fáceis de se desfazer. Arthur e eu... nossa história nunca será esquecida."
Isabela, sentindo o peso daquelas palavras, se aproximou da mesa, onde a carta estava cuidadosamente estendida. Ela olhou para Evelyn, que agora tinha os olhos cheios de uma tristeza profunda.
"O que aconteceu com vocês? O que foi tão grave que ainda os mantém presos ao passado?" Isabela perguntou, sua voz mais suave, como se temesse a resposta.
Evelyn suspirou e se sentou, seus dedos acariciando a superfície da mesa. Ela parecia distante, como se estivesse voltando a um tempo que só ela podia acessar. Os olhos de Isabela seguiram os movimentos de Evelyn, como se a própria história estivesse se desenrolando diante dela, revelando aos poucos o que estava oculto.
"Arthur e eu..." Evelyn começou, sua voz tremendo ligeiramente. "Nos apaixonamos de uma forma que foi além do que poderíamos controlar. Eu sabia que ele era o homem com quem eu deveria estar, mas as circunstâncias não permitiram que ficássemos juntos. Havia uma guerra, uma divisão entre nossas famílias, e o amor que compartilhávamos não era permitido. E quando o destino nos separou... eu fui obrigada a seguir um caminho diferente."
Isabela sentiu uma dor repentina, como se estivesse sendo arrastada para dentro daquela história, como se, de alguma forma, o amor de Arthur e Evelyn fosse uma dor que ela também carregava. A atmosfera da sala parecia se tornar mais densa, como se o tempo estivesse comprimido ali, em um único ponto, esperando por algo para se revelar.
"Mas por que você não foi atrás dele?" Isabela perguntou, a curiosidade misturada com a compaixão. "Por que deixou tudo isso acontecer?"
Evelyn fechou os olhos, como se as lembranças fossem difíceis de suportar. "Porque, Isabela, o que você não entende é que o destino nunca nos oferece apenas um caminho. Eu não era a única que tinha a escolher entre o amor e o dever. Quando a guerra chegou, Arthur e eu fomos separados, não por nossa escolha, mas pela escolha dos outros. Eu fui forçada a casar com alguém que não amava, e Arthur foi levado para a batalha. Mas o pior... o pior foi saber que ele nunca voltaria."
Isabela ficou em silêncio, absorvendo cada palavra. Ela queria saber mais, queria entender como o amor de Evelyn e Arthur poderia ter sido interrompido tão brutalmente. Mas a sensação de que o tempo estava brincando com ela, como se estivesse desfiando um fio delicado, a fazia hesitar.
"E depois disso, o que aconteceu?" Isabela perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
Evelyn se levantou e andou até a janela novamente, seus olhos perdidos no horizonte. "Eu fiz o que me foi pedido. Casei-me, tive filhos, vivi a minha vida. Mas Arthur... ele nunca deixou meu coração. Ele nunca deixou meu espírito. E você, Isabela, você é a chave para que tudo isso faça sentido novamente."
Isabela franziu o cenho. "A chave? Eu... como posso ser a chave?"
Evelyn olhou para ela com um sorriso enigmático, e suas palavras foram suaves, mas cheias de um poder inexplicável. "Porque você tem algo que nem eu nem Arthur tivemos: a capacidade de reescrever a história. O que você encontrou no diário, o que você está vivendo agora, não é uma coincidência. O passado está gritando para ser ouvido, e o amor entre Arthur e eu... ele ainda vive, esperando para ser cumprido."
O que Evelyn estava dizendo era absurdo, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de Isabela sabia que havia verdade nisso. Como ela poderia ser a chave? O que ela tinha em comum com aqueles dois amantes do passado?
O som do vento que balançava as árvores lá fora parecia aumentar, e a casa parecia se envolver em um silêncio profundo, como se o tempo estivesse paralisado. Isabela se aproximou de Evelyn, com o coração acelerado, sentindo que, a cada palavra que ouvia, uma parte dela estava sendo transportada para aquele outro tempo, para aquela outra vida.
"Mas o que devo fazer? Como posso ajudar?" Isabela perguntou, seu olhar fixo nos olhos de Evelyn.
Evelyn sorriu levemente, uma expressão triste, mas cheia de esperança. "Você já está ajudando, Isabela. Só o fato de estar aqui, de ouvir a nossa história... você está quebrando as barreiras do tempo. O amor entre Arthur e eu nunca será esquecido, mas, para que ele seja finalmente vivido, alguém precisa trazer de volta o que foi perdido."
Isabela não sabia o que fazer com aquelas palavras. O que isso significava? Ela estava sendo chamada para algo muito maior do que ela poderia compreender. A sala parecia estar se fechando ao redor dela, e o tempo parecia se esticar, como se estivesse aguardando sua decisão, esperando por ela.
Evelyn se afastou da janela e deu um passo em direção a Isabela, seus olhos brilhando com uma intensidade sobrenatural. "Mas lembre-se, Isabela. O amor que você carrega, o amor que você também está descobrindo, é uma força poderosa. Ele não é algo que pode ser controlado. O que aconteceu no passado... ele precisa ser liberado, para que o futuro seja completo."
As palavras de Evelyn ressoaram em Isabela, como um sussurro perdido entre as sombras do tempo. Ela olhou para a jovem, seus olhos agora cheios de uma tristeza profunda, como se ela estivesse fazendo o impossível para reunir as peças de um quebra-cabeça que jamais poderia ser montado.
Mas, mesmo assim, Isabela sentiu algo inabalável dentro de si, algo que a conectava com aquelas memórias perdidas. Algo que a fazia saber que, de alguma forma, ela já fazia parte daquela história. E talvez, apenas talvez, ela pudesse reescrever o destino.