- Eu precisava de um tempo, irmão. Só isso. Não saberiam lidar com minhas razões de forma sensata. E você me conhece... despedidas nunca foram o meu forte. - Suspirei, apoiando o braço na balaustrada.
- Promete que vai se cuidar?
- Prometo. E fica tranquilo, continuo cuidando da parte que me cabe na empresa. De onde estiver, continuo operando. Se precisar, faço algumas viagens aqui por perto. Você sabe que não abandono o que construímos.
Lorenzo ficou em silêncio por um momento, então respondeu com a voz mais branda:
- Só quero que você não se perca. Você tem esse hábito de desaparecer quando está ferido.
- E você tem o hábito irritante de me conhecer demais. - Sorri, mais leve. - Vai ficar tudo bem. Cuide de si aí, eu cuido de mim aqui.
- Estou cobrando isso.
- Eu sei. E agradeço. Boa noite, fratello.
- Boa noite, Luciano.
Desliguei e guardei o celular no bolso da calça. Foi quando senti mãos femininas envolvendo minha cintura por trás. Sorri, convencido de que era Nikita - a ruiva que eu beijara no início da noite. Inclinei a cabeça para trás e murmurei:
- Nikita, você realmente não perde tempo...
Mas quando me virei, encontrei o olhar ferido da morena com quem eu havia começado a noite. Os olhos dela diziam mais do que qualquer palavra conseguiria. A expectativa não atendida, a decepção nítida.
- Achei que estivesse comigo - murmurou.
- Me desculpe... - puxei o ar, procurando uma desculpa que soasse menos cruel do que a verdade. - Eu... estava distraído.
Ela balançou a cabeça, virou as costas e sumiu por entre os convidados. Eu permaneci ali por um instante, sentindo o tédio colar na pele feito o sal do mar. Não era sobre ela. Nem sobre Nikita. Era sobre mim. Sobre a incapacidade de querer mais do que uma noite, mais do que corpos que se esbarravam tentando encontrar calor onde não havia mais chama.
Desci as escadas e cruzei o terraço até encontrar Ares cercado por amigos e mulheres rindo alto. Ele me viu, ergueu uma taça e me chamou:
- Finalmente, Moretti! Achei que tinha se perdido em alguma varanda.
- Não era má ideia - respondi com um meio sorriso, pegando uma taça de vinho de uma bandeja ao passar por um garçom.
Nos misturamos ao grupo. Ríamos, bebíamos, trocávamos provocações sem peso. A casa estava lotada, a música vibrando no jardim transformado em pista de dança. Corpos se moviam sob a iluminação âmbar, perfumes se misturavam no ar quente da noite.
Foi quando eu a vi.
A mulher do café. A do olhar distante. O corte channel. O rosto que não me olhou antes - e que agora dançava sob a luz tênue, como se nada ao redor a tocasse. Um vestido leve, branco, movendo-se com ela como se fosse extensão de sua pele. Os cabelos emolduravam o rosto delicado com precisão quase cruel. Ela dançava devagar, sozinha, com um ar de quem não precisava de companhia para existir - e aquilo, por algum motivo, me desarmou. Havia uma serenidade magnética na maneira como seus pés deslizavam pelo chão, como se os ruídos do mundo não ousassem alcançá-la.
E pela primeira vez naquela noite, algo dentro de mim não apenas silenciou.
Prendeu a respiração.
Minha taça congelou entre os dedos. Ela ainda não me viu. E mesmo assim, foi como se tivesse me atravessado com aquele simples não olhar.
Isabelle Alice Ravelli
- Isso não parece uma boa ideia. - A voz saiu hesitante, quase engolida pelo som distante da festa que já ecoava pelas colunas brancas da mansão. - É uma festa particular, Sophie. Não temos convite, não conhecemos ninguém...
- E é por isso mesmo que é perfeito - retrucou ela, com um brilho malicioso nos olhos. - Belle, a ideia foi sua. Foi você quem perguntou ao garçom se havia alguma festa animada por aqui. Ele disse que o dono adora ver mulheres bonitas circulando pela casa. E, amiga, sejamos honestas... - ela ajeitou o vestido e piscou. - Bonitas nós somos.
Suspirei, relutante. A fachada impecável da mansão parecia me julgar.
- Eu só queria distrair a cabeça, não invadir propriedades privadas.
- Estamos na Grécia. Aqui tudo soa como liberdade - disse ela, me puxando pelo braço com determinação. - E, convenhamos, se não for agora... quando?
Entramos. E fomos engolidas pelo som, pelas luzes, pela atmosfera quase cinematográfica da festa. O jardim parecia ter saído de um editorial de revista: tochas, pista de dança ao ar livre, música que vibrava no peito e taças de vinho que se multiplicavam entre sorrisos e passos ousados.
Sophie não demorou a se perder entre dois homens que claramente a estavam disputando com olhares e drinks improvisados. Ela sorriu, girou, e logo já dançava como se não houvesse passado, nem futuro. Apenas o agora.
Eu permaneci perto do bar, observando. Ainda me sentia um pouco deslocada. Como se estivesse em uma história que não me pertencia. Foi quando o vi.
O homem do café.
Ele estava encostado no balcão, conversando com uma mulher loira que sorria demais. Mas ele não parecia envolvido. Era como se estivesse ali por estar. E, de repente, seus olhos encontraram os meus. Por um segundo que durou demais, ele me olhou. Me viu.
Desviei o olhar imediatamente, mas meu corpo já havia reagido. Como se aquele homem tivesse me tocado sem levantar um dedo.
Senti alguém se aproximar.
- Você parece deslocada demais para alguém tão bonita - disse uma voz masculina e baixa em italiano.
Sorri educadamente, mas o incômodo veio rápido. O homem não esperou resposta. Continuou falando, elogiando, insistindo. Dei um passo atrás, prestes a cortar o papo, quando senti uma mão firme na minha cintura.
- Amore scusa per la attesa.- A voz grave e morna me fez congelar.
* Amor, desculpa a demora.*
O homem parou, avaliou a situação, e se afastou murmurando um pedido de desculpas.
Virei para encarar o dono da voz.
- "Amor"? Sério? - arqueei a sobrancelha, entre surpresa e divertimento, respondendo em italiano.
- Foi o que me ocorreu no momento. Achei que podia ajudar - respondeu ele, com um sorriso contido.
- Eu podia ter resolvido.
- Eu sei. Mas também queria uma desculpa para me aproximar. - Os olhos dele estavam fixos nos meus, e por um instante, eu esqueci onde estávamos.
- Missão cumprida. Agora você pode voltar para a loira que sorria para você como se fosse um deus grego reencarnado.
- Prefiro boas conversas. São mais raras que uma foda sem sentido. - Ele deu de ombros, como se falasse do tempo.
Tive que rir. Baixo, mas foi inevitável.
- E você diz isso para todas?
- Só para as que fingem que não me viram.
Sorri. Dessa vez, sem defesas. E, pela primeira vez desde que cheguei à Grécia, algo dentro de mim relaxou.
E se permitiu ficar.