O monstro da Calabria
img img O monstro da Calabria img Capítulo 1 1
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O monstro da Calabria

Mi souza
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Capítulo 1 1

Bianca

Existem lugares onde o silêncio grita mais alto que qualquer explosão. E o carro preto que parou na frente da minha casa trouxe exatamente isso: um silêncio pesado, sufocante, quase fúnebre.

Meu pai estava na sala, camisa aberta, suor escorrendo pela testa. Ele sabia. Eu sabia. E mesmo assim, ele não disse uma palavra. Apenas me olhou com olhos desesperados, como se pedisse perdão com o olhar.

Covarde.

- Vai me vender, é isso? - cuspi com desprezo, cruzando os braços. - Igual se vende um carro velho?

Ele não respondeu. Só baixou os olhos. Nem teve coragem de me encarar.

Dois homens enormes desceram do carro, ternos pretos, óculos escuros, a cara de quem mata antes do café da manhã. Um deles fez um gesto seco com a cabeça, e meu pai assentiu. Como um cachorro treinado.

Engoli o gosto amargo da traição e me levantei.

- Me dá cinco minutos. Quero pelo menos ir bonita pro abate.

Subi as escadas de cabeça erguida, mas por dentro... por dentro, eu estava tremendo. A mão suava, o coração batia descompassado. Eu sabia quem era ele. Todo mundo sabia. Alessandro Vitale. O Monstro da Calábria. O homem que transformava dívidas em sentenças de morte.

Mas eu não ia chorar. Não ia me ajoelhar. Se era pra entrar no inferno, que fosse com salto alto e rímel borrado de raiva, não de medo.

Coloquei meu vestido preto mais justo. Nada vulgar, mas suficiente pra lembrar que eu ainda tinha algum controle. Batom vermelho. Brincos pequenos. E o cabelo solto, como eu gostava.

Se ele quisesse uma esposa submissa, teria que me matar primeiro.

Quando desci, os capangas só me encararam por dois segundos antes de abrirem a porta do carro.

Entrei sem dizer nada.

A viagem até a mansão dele foi feita em silêncio. Mas o medo... o medo falava comigo o tempo todo. Sussurrava. Gritava. Me lembrava de cada história que já ouvi sobre aquele homem.

Dizem que ele matou o próprio irmão por desrespeitá-lo. Que fez um juiz comer a sentença falsa que assinou. Que enterra traidores vivos.

E era com ele que eu ia me casar.

A casa - ou melhor, o castelo - surgiu no topo de uma colina. Muros altos, câmeras por todo lado, portões de ferro com o brasão da família Vitale. Me senti entrando em uma prisão de luxo.

Ou num cemitério de sonhos.

Quando desci do carro, os degraus que levavam até a porta principal pareciam infinitos. E ele estava lá.

Alessandro.

Alto, ombros largos, barba bem feita, olhos tão negros que pareciam feitos de pecado. Um terno cinza escuro impecável. E um olhar... Deus, aquele olhar.

Era como ser dissecada por dentro. Como se ele pudesse ver cada medo meu, cada fraqueza, cada segredo.

- Bianca De Angelis. - A voz dele era grave, firme. - Bem-vinda à sua nova vida.

Cruzei os braços, mantendo a cabeça erguida.

- E você deve ser o monstro. Esperava algo mais... peludo.

O silêncio ao redor congelou. Os capangas se entreolharam. Um deles até engasgou com a própria saliva. Mas Alessandro não se moveu. Não piscou. Só sorriu.

Um sorriso frio. Cruel. Sem um pingo de humor.

- Eu gosto de mulheres com língua afiada - ele disse, se aproximando até que estivéssemos a poucos centímetros. - Só não garanto que vá continuar gostando depois da primeira noite.

Senti meu estômago revirar. Mas não recuei.

- Que bom. Porque eu sou insuportável.

Ele segurou meu queixo com força, os dedos duros contra minha pele.

- Você vai aprender, Bianca. Aqui, quem dita as regras sou eu.

- Pode até ditar. Mas eu sou péssima em seguir.

Ele soltou meu rosto com um leve empurrão e virou as costas.

- Temos um casamento amanhã. Vista algo decente. Ou eu rasgo o vestido no altar.

Eu ri, amarga.

- Mal posso esperar pelo beijo de "felizes para sempre".

Ele não respondeu. Apenas entrou na casa, e as portas se fecharam com um estrondo atrás dele.

Ali, eu soube.

Eu não era uma esposa.

Era uma prisioneira.

Mas ele que se prepare. Porque se o monstro pensa que vai me domar fácil, vai descobrir que a garota debochada que ele comprou...

É um inferno que sabe sorrir.

            
            

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