Alessandro
O cheiro de sangue ainda impregnava minhas mãos quando entrei na sede da máfia.
O casarão de pedra, com janelas fechadas e corredores escuros, era o coração podre do poder. Meu império. Meu legado.
Vesti o paletó preto enquanto subia as escadas e entrava na sala principal de reuniões. Giovanni, meu conselheiro mais velho, me esperava com a pasta do dia.
- Notícias? - perguntei sem sequer sentar.
Ele olhou por cima dos óculos e fez sinal para um dos homens.
- Uma queixa de estupro, capo. A mulher era protegida da Casa Vitale.
Meus olhos se estreitaram.
- O homem?
- Foi pego. Está no andar de baixo.
Trinquei os dentes. Soltei o paletó com raiva e desci os degraus de pedra.
A porta da sala de tortura se abriu com um rangido seco.
Lá estava ele: amarrado, sujo, com sangue no canto da boca e olhos arregalados de medo. Um lixo.
Fechei a porta atrás de mim.
- Você sabe por que está aqui? - perguntei, aproximando devagar.
Ele começou a balbuciar. Negou. Choramingou.
- Por favor... eu não...
CRACK.
Meu punho quebrou o nariz dele com um único golpe.
Ele gritou. Mas eu não parei.
Dois. Três. Quatro socos.
Chutei o estômago. Pisei na perna até ouvir o osso estalar.
O sangue jorrava, mas o desgraçado ainda resistia.
Agarrei o cabelo dele e puxei até nossos rostos ficarem colados.
- Você estuprou. Fala. Agora.
- Eu... eu só... só uma vez... - ele murmurou, entre dentes quebrados.
Soltei. Cuspi no chão.
- Castração.
Dois dos meus homens entraram sem dizer uma palavra. Um segurou as pernas. O outro tirou a faca.
O grito dele ecoou nos corredores.
Mas ali, ninguém se comove com dor.
Depois, levei o pedaço de carne mutilado até a máquina de moer carne. Liguei.
Os ossos triturados saíram do outro lado.
- Dê os restos aos porcos.
Eles têm fome hoje.
Subi de volta. Entrei no meu banheiro privado. Tirei a camisa ensanguentada.
Tomei um banho quente, vesti um novo terno, arrumei o cabelo. A máscara de civilidade precisava estar firme para a próxima parte do dia.
Voltei à sala de reuniões. Os homens do conselho estavam reunidos.
- Precisamos conversar, Alessandro - disse Giovanni, com cautela. - Sobre o futuro da família.
- Fale.
- Agora só restam você e seu irmão. Com a morte de Lorenzo, a linha de sucessão está ameaçada. A máfia precisa de um herdeiro. É tradição. É estabilidade.
Cruzei os braços, encarando todos.
- Me casei ontem.
- Sabemos. E respeitamos.
- Ele limpou a garganta. -
Mas é preciso começar a pensar... no próximo passo. No sangue novo. No legado.
Fiquei em silêncio por alguns segundos. Depois, me levantei devagar.
- Vou pensar.
Saí da sala. Atravessei o corredor e entrei no salão de jantar da mansão. A mesa estava posta, a comida servida com perfeição.
Mas a cadeira dela estava vazia.
Esperei alguns minutos. O relógio passou.
Nada.
Virei para a governanta que passava com uma bandeja.
- Onde está minha esposa?
Ela hesitou, nervosa.
- A... a senhora está indisposta, senhor. Pediu para não descer.
Sorri.
- Sirva o jantar.
- Abaixei o tom, mas fiz questão que todos ouvissem: -
A partir de agora, nenhum dos empregados tem autorização para servir nada a ela. Nem café. Nem água. Nada.
A mulher arregalou os olhos.
- Mas, senhor...
- Ela quer se isolar? Vai sentir o gosto da fome.
Ou ela desce... ou apodrece no próprio orgulho.
Sentei à mesa. Servi meu prato com calma.
O silêncio da casa agora era meu favorito.
Porque ali, eu estava no controle de tudo.
Inclusive dela.