Passei a mão pelos lençóis, sentindo o vazio. O cheiro dele ainda estava ali - amadeirado, forte, sufocante.
Fechei os olhos e respirei fundo.
"Você é forte, Bianca. Você sempre foi."
Mas naquele momento, eu me sentia quebrada.
Como se ele tivesse arrancado algo de mim.
E o pior?
Eu deixei.
Me levantei devagar, sentindo o calor escorrer pelas pernas. A lembrança viva do que ele fez comigo.
Do jeito que falou. Do jeito que me tomou.
Sem carinho. Sem escolha. Sem me perguntar nada.
A primeira lágrima escorreu quando olhei no espelho.
Estava ali, minha imagem.
A mesma boca debochada.
Os olhos ainda brilhando.
Mas havia algo diferente. Algo mais apagado.
Tentei engolir o choro, mas minha garganta estava apertada demais.
Entrei no banheiro, liguei o chuveiro no mais quente que suportei e deixei a água cair por longos minutos.
Lavei meu corpo como se pudesse tirar a sensação dele da minha pele.
Mas não saía.
Ele ainda estava ali.
Cada toque, cada comando, cada movimento bruto... tudo estava marcado.
Não em roxos, mas na carne invisível da minha dignidade.
Depois do banho, vesti uma camisola de seda branca que encontrei no closet.
Escolha dele, com certeza.
Curta, fina, praticamente inútil.
Desci as escadas em silêncio. A mansão era gigante, fria, luxuosa - uma prisão revestida de mármore.
Quando cheguei na sala, ele estava sentado à mesa, tomando café como se nada tivesse acontecido.
Terno impecável. Relógio no pulso. Cabelo arrumado. Um rei no próprio castelo.
E eu?
Eu era só a rainha feita refém.
- Dormiu bem? - ele perguntou sem olhar pra mim, virando mais uma página do jornal.
- Claro - respondi seca, me sentando de frente. - Dormir com dor é sempre uma delícia.
Ele abaixou o jornal. Me olhou.
Aquele olhar.
Frio. Calculado. Letal.
- Vai precisar se acostumar. Isso foi só o começo.
Revirei os olhos, pegando uma torrada. Mas minhas mãos tremiam.
- Você tem um jeito encantador de começar um casamento. Aposto que vai virar moda.
- Eu não casei por amor, Bianca.
- Ele apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos. -
E você não está aqui pra ter carinho. Está aqui pra pagar a dívida do seu pai. Só isso.
- Que ótimo. Assim ninguém cria expectativa.
- Sorri. Mas meu sorriso estava fraco. -
E quando essa dívida for paga?
Ele se inclinou levemente.
- Você vai continuar sendo minha. Porque agora você carrega meu nome.
E porque ontem... eu te marquei.
Engoli em seco. O estômago revirando.
- Eu não sou sua.
- Você é.
- A voz dele desceu como lâmina. -
Seu corpo, sua boca, sua alma. Tudo que é você agora me pertence.
Por um segundo, meus olhos se encheram de lágrimas.
Mas eu pisquei rápido.
Não na frente dele. Nunca na frente dele.
Levantei da mesa sem comer nada.
- Vai aonde? - ele perguntou, sem se levantar.
- Andar. Pensar. Respirar, se você permitir.
Ele não respondeu.
Mas eu senti os olhos dele em mim até eu sumir da sala.
E naquele instante, entendi.
Ou eu encontrava um jeito de sobreviver naquele inferno... ou ele ia me engolir viva.