Dois homens enormes desceram do carro, ternos pretos, óculos escuros, a cara de quem mata antes do café da manhã. Um deles fez um gesto seco com a cabeça, e meu pai assentiu. Como um cachorro treinado.
Engoli o gosto amargo da traição e me levantei.
- Me dá cinco minutos. Quero pelo menos ir bonita pro abate.
Subi as escadas de cabeça erguida, mas por dentro... por dentro, eu estava tremendo. A mão suava, o coração batia descompassado. Eu sabia quem era ele. Todo mundo sabia. Alessandro Vitale. O Monstro da Calábria. O homem que transformava dívidas em sentenças de morte.
Mas eu não ia chorar. Não ia me ajoelhar. Se era pra entrar no inferno, que fosse com salto alto e rímel borrado de raiva, não de medo.
Coloquei meu vestido preto mais justo. Nada vulgar, mas suficiente pra lembrar que eu ainda tinha algum controle. Batom vermelho. Brincos pequenos. E o cabelo solto, como eu gostava.
Se ele quisesse uma esposa submissa, teria que me matar primeiro.
Quando desci, os capangas só me encararam por dois segundos antes de abrirem a porta do carro.
Entrei sem dizer nada.
A viagem até a mansão dele foi feita em silêncio. Mas o medo... o medo falava comigo o tempo todo. Sussurrava. Gritava. Me lembrava de cada história que já ouvi sobre aquele homem.
Dizem que ele matou o próprio irmão por desrespeitá-lo. Que fez um juiz comer a sentença falsa que assinou. Que enterra traidores vivos.
E era com ele que eu ia me casar.
A casa - ou melhor, o castelo - surgiu no topo de uma colina. Muros altos, câmeras por todo lado, portões de ferro com o brasão da família Vitale. Me senti entrando em uma prisão de luxo.
Ou num cemitério de sonhos.
Quando desci do carro, os degraus que levavam até a porta principal pareciam infinitos. E ele estava lá.
Alessandro.
Alto, ombros largos, barba bem feita, olhos tão negros que pareciam feitos de pecado. Um terno cinza escuro impecável. E um olhar... Deus, aquele olhar.
Era como ser dissecada por dentro. Como se ele pudesse ver cada medo meu, cada fraqueza, cada segredo.
- Bianca De Angelis. - A voz dele era grave, firme. - Bem-vinda à sua nova vida.
Cruzei os braços, mantendo a cabeça erguida.
- E você deve ser o monstro. Esperava algo mais... peludo.
O silêncio ao redor congelou. Os capangas se entreolharam. Um deles até engasgou com a própria saliva. Mas Alessandro não se moveu. Não piscou. Só sorriu.
Um sorriso frio. Cruel. Sem um pingo de humor.
- Eu gosto de mulheres com língua afiada - ele disse, se aproximando até que estivéssemos a poucos centímetros. - Só não garanto que vá continuar gostando depois da primeira noite.
Senti meu estômago revirar. Mas não recuei.
- Que bom. Porque eu sou insuportável.
Ele segurou meu queixo com força, os dedos duros contra minha pele.
- Você vai aprender, Bianca. Aqui, quem dita as regras sou eu.
- Pode até ditar. Mas eu sou péssima em seguir.
Ele soltou meu rosto com um leve empurrão e virou as costas.
- Temos um casamento amanhã. Vista algo decente. Ou eu rasgo o vestido no altar.
Eu ri, amarga.
- Mal posso esperar pelo beijo de "felizes para sempre".
Ele não respondeu. Apenas entrou na casa, e as portas se fecharam com um estrondo atrás dele.
Ali, eu soube.
Eu não era uma esposa.
Era uma prisioneira.
Mas ele que se prepare. Porque se o monstro pensa que vai me domar fácil, vai descobrir que a garota debochada que ele comprou...
É um inferno que sabe sorrir.