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Pérola mal se lembrou de pegar o casaco, tamanha era a pressa e o desgosto que sentia. Agora, além de vê-lo na loja sem ter a opção de querer ou não, ainda teria que encontrá-lo para pegar a blusa. Ela não fez por mal, e definitivamente não era um pretexto para se verem novamente.
Depois daquela noite, Pérola teve a certeza de que não era para eles saírem juntos novamente. Klaus era um típico cafajeste prepotente, que não queria nada sério além de uma noite de pegação. Ela, virgem por escolha naquela idade, nunca quis se entregar assim para qualquer homem que se aproximasse. Esperou muito e queria que fosse especial, com alguém que realmente gostasse, que a tratasse bem, que tivesse cuidado com ela, e não a usasse e descartasse sem consideração.
No dia seguinte, foi trabalhar meio aérea, cansada da rotina puxada de duas ou três conduções todos os dias para ir e vir. Ficou decepcionada consigo mesma por ter dado abertura para um playboy. Deixou-se levar pela aparência, foi boba mesmo. Estava há meses sem ficar com ninguém e carente, e acabou caindo nessa besteira.
Então, enquanto atendia uma cliente padrão e chata na loja, viu Klaus lá fora olhando a vitrine como quem não queria nada. Quando a cliente foi para o caixa, ele entrou. Pérola foi discretamente para os fundos, no balcão. Sua patroa foi até ela e disse que o "cliente" dela estava lá, pedindo para que ela o atendesse porque ele era chato e havia gostado do seu atendimento. Pérola não teve como negar e foi, falando formalmente:
- Olá, boa tarde, em que posso ajudar?
Ele respondeu simpático:
- Boa tarde, vim te ver! Tudo bem, Pérola?
Ela respondeu, mostrando algumas peças de roupa no balcão:
- Klaus, aqui é meu ambiente de trabalho, não posso ficar de conversinha à toa. Já te falei que assim você pode me prejudicar.
Então ele disse, sorrindo com plena confiança:
- Posso vir te buscar no final do expediente para a gente ir à praia, conversar, dar uma volta?
Pérola falou sem muita abertura:
- Melhor não, Klaus. Outro dia nos encontramos e eu pego meu casaco. Estou ocupada essa semana!
Ele respondeu, insistindo:
- Vamos, por favor, eu não vou embora enquanto você não disser que sim. Tem tamanho maior dessa blusa?
Pérola respondeu baixinho:
- Tá bom, eu vou.
Ele falou com um sorriso de quem havia conseguido o que queria:
- Deixa a blusa. Hoje vou levar um perfume, é mais fácil. Qual você me indicaria?
Foram até os perfumes, e Pérola pegou um masculino que amava e mostrou, dizendo:
- Esse é o que eu mais gosto, vende super bem, é amadeirado. Tem alguma preferência?
Ele respondeu:
- Vou levar, já usei esse. E feminino, qual você gosta?
Ela mostrou alguns: Carolina Herrera, Coco Mademoiselle. Ele falou que adorou um, e era o mesmo que ela já usava, mas o dela era réplica. Pérola não mencionou que era igual ao seu, apenas disse:
- Que bom que gostou. Aposto que a pessoa que irá ganhar também vai adorar! Quer ver mais alguma coisa?
Ele respondeu com um sorrisinho bobo:
- Também acho. Por hoje é só. Que horas você sai?
Pérola falou o horário, o levou até o caixa e voltou para o seu posto. Ele agradeceu, saiu e disse tchau normalmente. Quando deu o seu horário, ela deu um talento no visual, retocou a maquiagem, escovou os dentes e passou perfume. Ele já estava mandando mensagem, e a esperou na rua de trás. Pérola o encontrou e entrou no carro meio sem jeito. Ele lhe deu um selinho e foi pegando na sua perna com intimidade, e ela ficou meio sem saber como reagir, porque não queria aquilo. Falou logo:
- Klaus, olha, eu curti sair com você aquela noite, mas foi só isso. Não gosto de misturar as coisas, não gostei do jeito que você veio agindo comigo, indo no meu trabalho falar de nós. Você é um cara muito legal, mas não acho que devemos sair novamente. E também estou em época de provas, não posso me distrair.
Ele respondeu:
- Que isso, Pérola, me desculpa, não foi a minha intenção. Eu não vou mais fazer isso, queria te ajudar até comprando, por isso fiz questão de pegar com você. Comprei o perfume para você, olha, pega.
Ele deu o perfume na mão dela, Pérola devolveu e falou:
- Não posso aceitar, é algo muito caro, eu mal te conheço. Não acho certo esse tipo de coisa!
Ele respondeu:
- Mas eu já comprei, é o seu cheiro, você usa esse, não usa?
Pérola confirmou, mas disse que não podia aceitar, que ele não precisava ficar indo comprar com ela com segundas intenções. Ele respondeu:
- Tudo bem, calma. Posso te levar para casa? Só para eu não perder a viagem até aqui.
Pérola já havia perdido o ônibus por causa dele e concordou. Ele ficou puxando assunto, falando dos seus estudos e a convidou para tomar um chopp. Ela disse que não tinha o hábito de beber, e ele sugeriu um suco ou sorvete, como um pedido de desculpas por ser insistente. Ela aceitou. Pegaram para levar e conversaram bastante, e Pérola ficou mais de uma hora com ele. Ele, por várias vezes, pegou no seu cabelo e na sua mão, sendo carinhoso e gentil. Ele a fez tomar o sorvete dele, dando na sua boca, e ela quase beijou aqueles lábios bonitos, mas se conteve. Não ficaram, e ele a deixou em casa direitinho, mencionando o casaco para que ela pudesse esquecer novamente.
Quando chegou em casa, sua mãe estava esperando acordada e perguntou onde ela estava. Pérola falou a verdade. Logo, Klaus mandou mensagem. Ela achou que ele ia parar por ali, mas não. Ele pediu para vê-la de novo, disse que gostava da sua companhia e que queria levá-la a mais lugares para se conhecerem melhor, conversar sem compromisso. Ele a chamou para ir a uma balada. De início, Pérola não topou. Ela não era de frequentar esses tipos de lugares, sempre foi bem reservada e discreta, sempre lutando para poder ter uma vida melhor focada nos estudos. Então, certas coisas não lhe chamavam a atenção, e mesmo se chamassem, ela não tinha tempo e dinheiro para tudo aquilo. Não era o seu mundo. Além disso, ela não estava mais a fim de sair com ele, cheia de medo e insegurança. Os rapazes com quem ela saía eram diferentes; geralmente ia a pagodes, lanchonetes simples, à praia, e isso já era raro. Ela não era de ter ficantes, não tinha tempo.
Mas ele insistiu muito, dizendo que seria divertido e bom para ela se distrair, que era só um lugar mais agitado. Disse que podiam esperar as provas dela. Pérola enrolou e depois topou, combinando para um sábado à noite.
Na sexta-feira, Pérola foi para o hospital. Sua chefe a chamou para conversar e disse que uma das estagiárias da doutora Salete havia ficado doente e pediu para que ela a cobrisse. Pérola não queria, pois Salete não a tratava bem, mal era educada, e isso a incomodava muito. Salete tinha fama de racista e preconceituosa ao extremo. Como as notas de Pérola eram boas e seu histórico impecável, ela teve que aceitar, pois aquilo iria ajudá-la, mesmo com medo. Decidiu focar e fazer a sua parte. Sua chefe disse que havia conversado com a doutora e que ela não iria agir de má fé com Pérola, que iria facilitar a convivência delas e ter ética, pois estava com medo dos boatos contra ela, o que não era bom para o seu histórico.
Dessa vez não era cirurgia, era só um exame de rotina na paciente em que Salete havia feito a cirurgia da qual Pérola fora expulsa da sala. Salete mostrou como fazia os exames, foi educada explicando o procedimento, mas áspera como sempre. Pérola prestou atenção ao máximo e se esforçou para que nada de errado acontecesse por sua causa. Tudo correu bem, Salete foi profissional com ela, mas a arrogância era explícita, o jeito de desdenhar de todos, o olhar superior. E Salete ainda dizia que petulante era Pérola, o cúmulo. Pelo menos não a criticou. No final do expediente no hospital, Pérola se arrumou para ir para a loja e viu o carro de Klaus em frente ao hospital, mas ele não estava lá. Ela nem estranhou, como ele era médico, podia estar lá a trabalho. Apressada, foi para o ponto de ônibus e mandou uma mensagem para ele perguntando se estava no hospital. Ele demorou, mas depois respondeu que sim, e perguntou se ela estava lá. Pérola disse que não, que já estava indo para o seu segundo turno. Foi para a loja, e foi um dia tranquilo, sem muito movimento, e ela ansiosa para o encontro, se perguntando como seria, pensando na roupa. Ela achava que ele tinha entendido o recado, que ela não era qualquer uma, que era diferente da maioria. Quando acabou o expediente, foi para casa. Conversaram por ligação rapidinho, e sua mãe começou a fazer perguntas sobre ele, toda interessada em conhecê-lo, em vê-la com alguém legal e oficial. Às vezes, ela a incentivava a namorar, dizendo que iria se encantar, noivar e casar logo, mas que nunca era para parar de estudar. Envergonhada, Pérola disse que não era nada sério e que, se viesse a ficar sério, ela contaria, que estavam só conversando. Ela mencionou que ele era médico.
No sábado, Pérola acordou bem disposta e eufórica. Foi para a loja, trabalhou animada e não via a hora de acabar o expediente para ir para casa se arrumar. Pensou na melhor roupa o dia todo e cedo mandou bom dia para Klaus, perguntando se estava tudo em ordem para a noite.