Sempre que encontrava Hugo, a tensão era palpável. Havia uma barreira invisível entre eles, uma linha que sabiam que não podiam cruzar, mas que parecia cada vez mais difícil de evitar. A atração crescia, e com ela, a incerteza sobre o que seus corações realmente sentiam. Isabel tentava manter-se profissional, mas não podia negar que sua mente se desviava, repetidamente, para o mesmo pensamento: e se Hugo não precisasse apenas de sua ajuda profissional?
Naquela tarde de quinta-feira, depois de horas revisando relatórios confidenciais, Isabel foi chamada novamente ao escritório de Hugo. O chamado, dessa vez, parecia mais urgente. Havia uma tensão crescente no ar, como se o próprio prédio respirasse com força contida.
Quando chegou, a porta estava entreaberta e, ao entrar, Hugo a esperava com uma expressão mais séria que o habitual. Estava de pé junto à escrivaninha, com as mãos entrelaçadas e o olhar fixo no horizonte, como se procurasse respostas em algum lugar distante.
- Está tudo bem, Hugo? - perguntou Isabel, embora soubesse que a pergunta era quase irrelevante. Algo no tom de voz dele lhe dizia que as ameaças mencionadas na última conversa não eram palavras vazias.
Hugo então a olhou, seus olhos penetrantes buscando algo nela, como se tentasse medir suas reações. Não disse nada de imediato. Em vez disso, deu um passo em direção à janela, contemplando a cidade do alto.
- As ameaças aumentaram. - Sua voz era baixa, quase inaudível, mas carregada de uma gravidade que não estivera ali antes. - Há um inimigo dentro da empresa. Alguém próximo a mim, alguém em quem confio. E as coisas estão se complicando, Isabel. Não sei a quem recorrer.
Isabel engoliu em seco. Sabia que esse momento chegaria, mas ouvir a confissão de Hugo a atingiu com uma intensidade inesperada. Um inimigo próximo. Isso significava que as traições não estavam apenas no nível corporativo, mas atingiam o núcleo do círculo mais íntimo dele.
- Quem está por trás disso? - perguntou ela, com a voz quase um sussurro, embora sua mente trabalhasse rápido, tentando conectar os pontos. Quem poderia estar tão perto de Hugo a ponto de traí-lo daquela forma? Cada membro da equipe, cada colaborador, parecia ter seu próprio interesse e seus próprios segredos. Mas, entre todos, Hugo havia confiado... e agora isso poderia custar mais do que seu império.
Hugo se virou lentamente para ela, e uma expressão de frustração contida apareceu em seu rosto.
- Ainda não sei. Mas recebi alertas de pessoas externas. O rival que estamos enfrentando começou a mover suas peças, e alguém do meu próprio círculo... está vazando informações. Se eu não agir logo, posso perder tudo.
Isabel o observou atentamente, notando a tensão nos ombros dele, a rigidez de sua mandíbula. Hugo estava mais vulnerável do que nunca e, apesar do que dizia, Isabel sabia que ele não era um homem fácil de derrubar. Mas aquele inimigo, quem quer que fosse, parecia ter a capacidade de colocar tudo o que Hugo havia construído em risco.
- Como podemos descobrir quem está por trás disso? - perguntou Isabel, sem saber se sua voz soava tensa demais ou se estava perdendo o controle da situação.
Hugo deu um passo em direção a ela e, por um momento, seus olhares se cruzaram em um silêncio denso que os envolveu. Isabel sentiu como se a sala se estreitasse, como se o ar se tornasse pesado e difícil de respirar. Algo estava mudando entre eles, mas ela não conseguia nomear o que era. Não queria ser apenas mais uma peça no jogo de Hugo, mas não podia negar que algo dentro dela desejava estar ali, com ele, naquele momento.
- Preciso que continue investigando. Mas com mais cautela. - Hugo deu mais um passo na direção dela, o suficiente para que seus rostos estivessem quase à mesma altura. Isabel pôde sentir o calor de sua proximidade, a pressão no ar que se tornava cada vez mais difícil de ignorar. - Ninguém mais pode saber disso. Não posso arriscar que descubram que você está envolvida.
Isabel assentiu, embora algo em seu olhar refletisse o desconforto crescente de estar tão perto dele. Ainda assim, sua mente permanecia focada na missão. As ameaças, o perigo... tudo o que Hugo enfrentava o tornava um alvo vulnerável. Não podia permitir que sua relação fosse um obstáculo. Não agora.
- Eu farei isso, Hugo. Prometo. - respondeu ela, sentindo a urgência de sua própria declaração. Não apenas porque estava comprometida com o trabalho, mas porque sabia que, acontecesse o que acontecesse, estaria ao lado dele.
Ele a encarou por um longo momento, e foi nesse silêncio compartilhado que Isabel sentiu a atração entre eles mais forte do que nunca. Um desejo proibido que continuava crescendo sob a superfície. Mas Hugo quebrou o silêncio com um sorriso tenso, quase uma careta, antes de dar um passo para trás.
- Obrigado, Isabel. Confio em você.
Ela o olhou, sem saber como responder àquela confiança. Sabia que ele confiava nela, mas essa confiança parecia ser o prelúdio de algo muito maior e mais perigoso. Algo que nenhum dos dois poderia controlar. E, embora tentasse racionalizar a situação, Isabel sentia uma verdade inquietante crescer dentro de si: estar tão próxima de Hugo, tão envolvida em seus problemas, poderia acabar transformando-a em mais uma peça no próprio jogo dele.
Mas a atração, a conexão, não a deixavam escapar. E isso era o que mais a aterrorizava.