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O Alpha do Gelo e A Luna do Fogo

Melissa Mel
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Capítulo 1 Prólogo Quando o Gelo e o Fogo Se Encontram

Capítulo 1 – "Quando o Gelo e o Fogo Se Encontram"

(Narrado por Sienna)

O calor era quase insuportável, mesmo para mim.

No grande salão do Palácio de Chamas Eternas, as paredes pareciam ondular, como se fossem feitas do próprio fogo. O ar carregava um aroma pungente, uma mistura de enxofre, incenso de brasas e o perfume de flores secas queimando. O ritual estava em andamento, e eu estava no centro de tudo. A pele do meu corpo fervia sob o vestido vermelho translúcido que refletia as chamas. Pequenos cristais incrustados no tecido brilhavam como brasas vivas. Era uma visão poderosa, ou assim diziam.

Mas tudo o que eu sentia era o peso de dezenas de olhos sobre mim.

Os anciãos murmuravam preces antigas, suas vozes ecoando como trovões abafados. Lyria estava sentada no trono reservado à futura Luna, sua postura ereta e os olhos afiados como lâminas. Ela usava um vestido dourado, mais suntuoso que o meu, como se quisesse me lembrar que, em qualquer outra circunstância, seria ela ali, no centro, recebendo a atenção da corte.

- Concentre-se, Sienna - disse ela, a voz baixa, mas penetrante o suficiente para me fazer estremecer.

Ela não precisou gritar. A reprovação em seu tom foi suficiente para me lembrar que qualquer deslize seria comentado pela corte durante semanas. As Lunas eram a personificação do controle, da força e da paixão. E eu? Eu ainda estava tentando convencer a mim mesma de que merecia estar ali.

Respirei fundo.

O fogo ao meu redor parecia vivo, dançando em um ritmo que acompanhava o pulsar do meu coração. Estendi as mãos, sentindo o calor intenso lamber minha pele. Era isso. Eu precisava dominar o elemento, mostrar que era digna.

- Fogo eterno, força primordial, responda ao chamado de sua guardiã! - entoei, a voz saindo mais firme do que eu esperava.

As chamas ao meu redor rugiram em resposta, crescendo até tocarem o teto do salão. Houve um murmúrio de aprovação entre os anciãos, mas meu olhar foi diretamente para Lyria. Ela não parecia impressionada. Seus olhos dourados me encaravam como se ela estivesse avaliando cada movimento, cada erro potencial.

Antes que eu pudesse completar o ritual, um som interrompeu a cerimônia.

As grandes portas de bronze do salão se abriram com um estrondo, fazendo o fogo tremer e vacilar. Todos os olhares se voltaram para a entrada, onde um mensageiro do Reino do Gelo entrou, trazendo consigo uma rajada de ar frio que fez a temperatura despencar.

Ele estava vestido com uma túnica pesada, adornada com símbolos de gelo. Sua presença parecia deslocada ali, no coração de Ignisfera, onde tudo era calor e luz.

- Peço perdão pela interrupção - disse ele, com uma reverência apressada. Sua voz era firme, mas havia uma tensão palpável em suas palavras. - Trago uma mensagem urgente do Reino do Gelo.

O silêncio no salão era absoluto. Mesmo as chamas pareciam ter se acalmado, como se estivessem ouvindo.

- Fale - disse Lyria, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Seu tom era impaciente, mas também carregado de curiosidade.

O mensageiro hesitou, seus olhos pousando em mim.

- O Alfa Caelum de Aurelion solicita uma reunião diplomática com a Luna do Fogo.

Houve um burburinho imediato entre os anciãos. Minha própria respiração ficou presa na garganta.

- Uma reunião? - Minha voz cortou o silêncio, carregada de incredulidade. - O Alfa do Gelo quer falar comigo?

O mensageiro assentiu, parecendo desconfortável sob a intensidade do meu olhar.

- Sim, Luna. Ele acredita que um acordo entre os reinos é necessário para evitar... um conflito maior.

Meu corpo ficou tenso. Um acordo? Depois de anos de guerra e hostilidade, ele achava que palavras seriam suficientes para apagar o ódio entre nossos povos?

- Isso é um insulto! - explodi, dando um passo à frente. As chamas ao meu redor reagiram, subindo novamente. - O Alfa do Gelo acha que pode nos convocar como se fôssemos súditos dele?

Os anciãos trocaram olhares cautelosos, mas foi Lyria quem se pronunciou.

- Sienna, controle-se - disse ela, sua voz carregada de uma autoridade que me irritava profundamente. - Talvez devêssemos ouvir o que ele tem a dizer.

- Ouvir? - virei-me para ela, incrédula. - Você está sugerindo que eu, uma Luna do Fogo, deva me curvar a um Alfa do Gelo?

- Ninguém está falando em se curvar - respondeu Lyria, erguendo-se de seu trono. Ela caminhou lentamente até mim, sua postura impecável. - Mas ignorar um pedido de reunião pode ser visto como fraqueza. E fraqueza, querida irmã, é algo que não podemos permitir.

Eu sabia que havia lógica em suas palavras, mas isso não tornava a situação menos absurda.

- E se for uma armadilha? - perguntei, minha voz carregada de frustração.

- É um risco que devemos correr - disse um dos anciãos, sua voz grave ecoando pelo salão. - O Alfa Caelum é poderoso, mas também é conhecido por sua honra. Ele não pediria uma reunião sem motivos válidos.

Fechei os olhos por um momento, tentando acalmar o tumulto em minha mente. Eu odiava admitir, mas eles estavam certos. Eu não podia permitir que meu orgulho colocasse nosso reino em perigo.

- Muito bem - disse finalmente, minha voz mais baixa, mas ainda firme. - Eu aceito a reunião com o Alpha Caelum.

Houve um suspiro coletivo de alívio na sala.

Quando a reunião terminou, fiquei sozinha no salão, observando as chamas do vulcão refletidas no céu noturno. Algo sobre aquele pedido de reunião não parecia certo. Eu sentia isso no fundo do meu ser, como uma sombra pairando sobre nós.

E, embora não pudesse explicar por quê, tinha a sensação de que minha vida estava prestes a mudar para sempre.

Enquanto as chamas dançavam diante de mim, uma visão perturbadora atravessou minha mente, gelo e fogo entrelaçados, lutando por controle. E, no meio do caos, uma sombra, sorrindo.

            
            

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