Capítulo 2 O Reconhecimento

Caetano

O casarão reconheceu ela antes de mim.

Pisei no corredor empoeirado, limpando as mãos sujas de tinta no jeans, e a vi parada na entrada, assustada, pequena, como se o mundo tivesse se tornado grande demais para seus ombros.

Era linda de um jeito cru, quase inocente.

Cabelos desordenados pelo vento. Olhos grandes, que buscavam abrigo em algum lugar - sem perceber que o abrigo era justamente o que mais deveria temer.

Isadora.

Eu soube seu nome antes que ela sequer abrisse a boca.

Estava escrito na carta escondida que encontrei no sótão na semana anterior, endereçada "à herdeira".

Mas vê-la ali, tão real, tão viva, era diferente de qualquer papel amarelado.

Me aproximei devagar, sem querer assustá-la.

- Você é a nova dona da casa? - minha voz soou mais grave do que eu pretendia.

Ela tentou responder, mas só balançou a cabeça, os lábios entreabertos, como se estivesse lutando contra algo que nem ela compreendia.

Algo dentro de mim - algo que eu tinha enterrado fazia tempo - se agitou.

Proteja-a, dizia aquela parte.

Tome-a, dizia outra.

Eu a chamei de "pequena".

E quando vi o rubor subindo pelo pescoço dela, soube que estava perdido.

Pela primeira vez em anos, a minha promessa de controle vacilava.

E tudo isso... por ela.

            
            

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