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Caetano
O casarão reconheceu ela antes de mim.
Pisei no corredor empoeirado, limpando as mãos sujas de tinta no jeans, e a vi parada na entrada, assustada, pequena, como se o mundo tivesse se tornado grande demais para seus ombros.
Era linda de um jeito cru, quase inocente.
Cabelos desordenados pelo vento. Olhos grandes, que buscavam abrigo em algum lugar - sem perceber que o abrigo era justamente o que mais deveria temer.
Isadora.
Eu soube seu nome antes que ela sequer abrisse a boca.
Estava escrito na carta escondida que encontrei no sótão na semana anterior, endereçada "à herdeira".
Mas vê-la ali, tão real, tão viva, era diferente de qualquer papel amarelado.
Me aproximei devagar, sem querer assustá-la.
- Você é a nova dona da casa? - minha voz soou mais grave do que eu pretendia.
Ela tentou responder, mas só balançou a cabeça, os lábios entreabertos, como se estivesse lutando contra algo que nem ela compreendia.
Algo dentro de mim - algo que eu tinha enterrado fazia tempo - se agitou.
Proteja-a, dizia aquela parte.
Tome-a, dizia outra.
Eu a chamei de "pequena".
E quando vi o rubor subindo pelo pescoço dela, soube que estava perdido.
Pela primeira vez em anos, a minha promessa de controle vacilava.
E tudo isso... por ela.