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Caetano
Ela era determinada.
Teimosa de um jeito que me arrancava sorrisos contidos enquanto fingia me concentrar no trabalho.
Puxava sozinha as lonas dos móveis antigos, insistia em erguer caixas que claramente eram pesadas demais para ela.
Cada movimento seu era um convite silencioso para que eu a tocasse.
E eu estava perdendo a batalha para resistir.
Quando a vi tropeçar, o instinto falou mais alto.
Atravessei o cômodo em dois passos e a segurei pela cintura.
Senti o calor do seu corpo contra o meu - tão frágil e, ao mesmo tempo, tão explosivo.
Ela ofegou, o peito arfando contra o meu.
O cheiro dela - um misto de maresia, poeira e algo puramente feminino - me invadiu, lento e corrosivo.
Segurei firme.
Talvez um segundo a mais do que deveria.
Seu olhar subiu, encontrou o meu, e naquele instante, eu soube.
Não havia volta.
Rocei meu polegar sem querer - ou querendo demais - na linha da cintura dela antes de soltá-la.
Um toque quase imperceptível, mas que incendiou o ar entre nós.
Ela deu um passo para trás, os olhos arregalados, os lábios entreabertos.
Nenhum de nós disse nada.
Mas não precisava.
O corpo dela, a tensão elétrica no espaço que nos separava, o tremor involuntário das mãos...
Tudo dizia mais do que palavras jamais poderiam.
E pela primeira vez, eu tive certeza:
Ela já era minha.
Mesmo que ainda não soubesse disso.