Capítulo 2 O preço do Sucesso

Dia após dia, ano após ano, fui moldando minha vida em torno de um ideal. Um ideal que não era só meu, era herdado, cultivado, repetido em voz alta como uma verdade inquestionável: conquistar um bom emprego, construir uma carreira sólida, garantir estabilidade financeira. Esse era o caminho. Essa era, diziam, a rota segura para uma vida de sucesso.

E eu acreditei.

Mais que isso: abracei esse sonho com todas as forças. Não me contentei com pouco. Fui além do esperado. Conquistei um ótimo emprego, altamente respeitado, que me rendia um salário excelente e todas as comodidades que um adulto deveria desejar: conforto, segurança, previsibilidade. Eu tinha o que muitos chamariam de "vida feita". E, por muito tempo, achei que era verdade.

Não posso negar: fui bem-sucedido. Sem falsa modéstia, alcancei patamares que orgulhariam qualquer um. Cresci profissionalmente, recebi reconhecimentos, acumulei bens, construí uma reputação. No papel, minha trajetória era impecável, quase exemplar.

Mas existe um lado dessa história que não está nos currículos, nas fotos de conquistas ou nos brindes em reuniões de equipe.

A verdade é que essa carreira, essa vida aparentemente perfeita, me custou vinte anos. Vinte anos inteiros. Vinte anos de tempo, de energia, de vontades sufocadas em nome de metas. Vinte anos de sonhos adiados, de páginas não escritas, de caminhos jamais explorados. E agora, olhando para trás, percebo que o que vendi não foram apenas horas de trabalho. Foi a minha vida.

O tempo não devolve o que leva. Não se poupa, não se acumula, não se recupera. Ele escorre, impassível, implacável. E quando finalmente tiramos os olhos do relógio e olhamos pela janela, muitas vezes já é outro dia. Outra década. Outro eu.

Estou sentado na beira da cama, observando uma mala aberta ao meu lado. Dentro dela, poucas roupas, um livro desgastado pelo tempo e um velho caderno de anotações que carreguei comigo por anos, sempre prometendo preenchê-lo com histórias que nunca escrevi. Pego a caneta e, pela primeira vez em muito tempo, sinto que há algo novo para ser registrado.

Hoje, parado diante de mim mesmo, me faço uma pergunta incômoda, daquelas que evitamos por medo do que podemos descobrir: valeu a pena?

A resposta, confesso, ainda não tenho. Talvez nunca venha em forma de frase pronta. Mas carrego comigo a certeza de que algo precisa mudar. Porque, no fundo, o que me trouxe até aqui já não me serve mais. Como uma peça de roupa que um dia me abrigou, mas hoje aperta, sufoca. E essa inquietação que cresce em silêncio talvez seja o meu verdadeiro ponto de partida.

Agora, decido recomeçar. Não com a arrogância de quem busca um novo troféu, mas com a humildade de quem finalmente quer viver com sentido. Talvez eu precise desaprender tudo o que achei que sabia sobre sucesso. Talvez precise me reinventar. Talvez, ao fim dessa nova estrada, encontre respostas mais honestas, mais minhas.

E se você estiver aqui, lendo estas palavras, caminhando ao meu lado, quem sabe não possamos descobrir juntos o que realmente importa?

            
            

COPYRIGHT(©) 2022