Capítulo 4 O Jogo Começa

Capítulo 4: "O Jogo Começa"

(Narrado por Bianca Corsini)

A tensão da última conversa com Raffaele ainda pesava no ar quando entrei no quarto que haviam me designado. A suíte era luxuosa, decorada com mármore polido e tecidos de seda, tudo em tons de creme e dourado. Mesmo com toda a opulência, não conseguia ignorar a sensação de que aquilo era uma gaiola.

De frente para o espelho enorme que cobria quase toda a parede, observei meu reflexo. Meus olhos estavam fixos nos próprios lábios, ainda pressionados em uma linha dura desde o último encontro com ele. O Don. O homem que ousava acreditar que poderia me dobrar.

"Você será minha, quer goste ou não."

As palavras dele ainda ecoavam em minha mente, como um desafio não declarado.

Suspirei, afastando o pensamento enquanto deslizava o roupão de seda pelos ombros. O tecido caiu suavemente no chão, expondo minha pele, que ainda carregava as marcas invisíveis da tensão daquela noite. Caminhei até o guarda-roupa, abrindo suas portas com um puxão decidido.

Eu sabia que haveria um jantar formal naquela noite. Uma oportunidade perfeita para começar a testar os limites daquele homem que parecia acreditar que o mundo girava ao seu redor.

Deslizei os dedos pelos cabides, analisando as opções. Vestidos clássicos, recatados, de cores neutras, que obviamente haviam sido escolhidos por alguém que achava que poderia ditar até mesmo a forma como eu deveria me apresentar.

- Ridículo.

Meus olhos encontraram o vestido vermelho pendurado ao fundo. Era ousado, com um decote profundo e uma fenda que subia perigosamente pela coxa. Certamente não era uma escolha aprovada pelos padrões dele. E exatamente por isso era perfeito.

Sorri de forma sarcástica enquanto o tirava do cabide e o segurava contra o corpo. O tecido fluido parecia uma extensão de minha própria pele, um lembrete de quem eu era antes de toda essa confusão.

Na penteadeira, selecionei acessórios discretos, mas elegantes. O suficiente para mostrar que eu sabia como chamar atenção, mas sem exageros. Prendi o cabelo em um coque baixo, com algumas mechas soltas caindo de forma proposital ao redor do rosto. Uma última camada de batom completou o visual.

Olhei para meu reflexo novamente, ajustando a postura. Meu coração batia mais rápido do que eu queria admitir. Parte de mim sabia que estava brincando com fogo, mas outra parte adorava o calor.

- Vamos ver quem vai quebrar primeiro, Don Raffaele Valentini.

Desci as escadas para o grande salão, onde o jantar seria servido. O aroma de vinho tinto e especiarias enchia o ar, misturado com a música suave de um piano ao fundo. A longa mesa de madeira escura estava impecavelmente arrumada, com castiçais altos e talheres reluzentes.

Os homens de Raffaele estavam espalhados pelo salão, conversando em tons baixos, mas com a atenção sempre alerta. Eram soldados, estrategistas e assassinos, cada um com sua função dentro do império Valentini.

E, no centro de tudo, lá estava ele.

Raffaele Valentini estava de pé ao lado da mesa, usando um terno perfeitamente ajustado que realçava seus ombros largos e a postura imponente. O cabelo escuro estava penteado para trás, mas uma mecha teimosa caía sobre sua testa. Seus olhos me encontraram assim que entrei, e o leve franzir de suas sobrancelhas denunciou sua reação ao meu vestido.

- Bianca. - Ele pronunciou meu nome com aquela voz rouca, carregada de autoridade.

- Raffaele. - Caminhei em sua direção, meus passos calculados, cada movimento do meu corpo projetando uma confiança que, no fundo, estava se tornando minha armadura.

- Esse vestido... - Ele parou, deixando as palavras pairarem no ar.

- É apropriado para a ocasião, não acha? - Cruzei os braços, sorrindo de forma provocante.

- Você gosta de testar limites. - Ele não estava perguntando.

- E você parece gostar de impor regras. - Minha voz era baixa, mas firme.

Os olhos dele brilharam com algo que eu não conseguia identificar. Raiva, talvez. Ou fascínio.

O jantar começou, mas a tensão entre nós era palpável. Sentei ao lado dele, ignorando os olhares curiosos dos aliados dele. Cruzei as pernas devagar, deixando a fenda do vestido revelar mais pele do que o necessário.

Raffaele continuava a conversar com um dos homens à sua direita, mas sua mão se moveu sob a mesa. Antes que eu percebesse, ele segurava minha mão, pressionando-a contra sua coxa.

O calor da pele dele atravessou o tecido da calça, e meu coração disparou. Mas não recuei. Não poderia recuar.

- Cuidado, Bianca. - A voz dele era um sussurro, quase inaudível para os outros. - Você está brincando com fogo.

Inclinei-me um pouco mais perto, mantendo o sorriso nos lábios.

- Talvez eu goste de sentir o calor.

Depois do jantar, Raffaele se levantou e ofereceu a mão para mim.

- Dance comigo.

- Achei que você não era o tipo que pedia coisas. - Apesar do tom de provocação, aceitei a mão dele.

Ele me puxou para o centro do salão, onde a música mudou para um ritmo mais lento. Suas mãos firmes envolveram minha cintura, enquanto meus braços descansavam sobre seus ombros.

- Eu não peço. Eu exijo.

- E se alguém se recusar?

Ele inclinou a cabeça, aproximando os lábios do meu ouvido.

- Ninguém se recusa a mim, amore mio.

A proximidade entre nós era eletrizante. O aroma amadeirado do perfume dele preenchia meus sentidos, e o calor do corpo dele parecia uma promessa silenciosa de algo perigoso.

Enquanto dançávamos, senti a mão dele deslizar pelas minhas costas, parando na base da minha coluna.

- Você está jogando um jogo perigoso, Bianca.

- Talvez você devesse aprender a jogar, Valentini.

A dança terminou, mas Raffaele não me soltou imediatamente. Seus olhos prenderam os meus, verdes e intensos.

- Eu adoro quando tentam me desafiar. - Ele sorriu, mas havia algo ameaçador naquele sorriso.

Antes que eu pudesse responder, ele se inclinou novamente, murmurando em meu ouvido:

- Mas lembre-se, piccola ribelle, o jogo só termina quando eu decido.

(significado de piccola ribelle = pequena rebelde.)

            
            

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