/0/14583/coverbig.jpg?v=e3435907df92654ff8a90115dd762593)
Capítulo 5: "As Regras do Jogo"
(Narrado por Raffaele Valentini)
A luz fraca do abajur iluminava o escritório, lançando sombras suaves sobre os móveis de mogno escuro. O silêncio era preenchido apenas pelo tique-taque insistente do relógio na parede, um lembrete constante do tempo que nunca parava.
Aqui, era o coração do meu império. Um espaço imponente, com paredes revestidas de madeira escura e prateleiras cheias de livros que eu raramente abria, mas que eram símbolos do poder que construí. Na mesa, um mapa detalhado de nossos territórios e operações, além de relatórios financeiros sobre o tráfico de armas que exigiam minha atenção. Mas, naquela noite, meu foco estava dividido, e eu odiava isso.
Minha mente estava em...
Bianca Corsini.
O nome dela ecoava na minha mente como uma maldita melodia que eu não conseguia silenciar. Desde o jantar, ela tinha sido uma constante distração, uma perturbação que eu não podia permitir. Lembrei-me de seus olhos desafiadores, do jeito que ela inclinava o queixo quando me provocava, como se estivesse testando meus limites. E estava.
Tentei voltar minha atenção para os números no papel. Milhões de dólares em armas estavam sendo movidos entre fronteiras. Havia acordos a serem firmados, decisões a serem tomadas, inimigos a serem esmagados. Mas, em vez disso, minha mente estava presa na lembrança de suas pernas cruzadas, da fenda do seu vestido vermelho que revelava mais pele do que o necessário.
Ela parecia saber exatamente o que aquilo fazia comigo, foi um teste aos meus limites. Ela era insolente, audaciosa e completamente insuportável.
E ainda assim, eu não conseguia tirá-la da cabeça.
Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo o cheiro amadeirado do meu uísque misturado ao perfume suave que ainda parecia pairar no ar desde o jantar. Ela está jogando comigo, pensei, apertando os punhos. E o pior? Eu estava permitindo.
Abri os olhos, soltando um suspiro frustrado. Peguei meu copo de cristal e dei um gole no uísque, sentindo o líquido queimar enquanto descia pela garganta. O calor deveria ser reconfortante, mas não era o suficiente.
Nada era suficiente quando se tratava dela.
Me levantei, caminhando até a janela. A vista dos jardins era sempre tranquilizadora, mas naquele momento, a visão da lua cheia apenas aumentava minha frustração.
- Maledetta mulher - murmurei, enquanto meu olhar vagava pelas sombras.
A batida firme na porta me trouxe de volta à realidade.
- Entre.
Leonardo entrou, sua expressão séria como sempre. Vestido impecavelmente em um terno preto, ele exalava uma confiança calculada. Meu braço direito era mais do que eficiente, ele era leal, o tipo de homem que faria qualquer coisa para proteger o que era nosso.
- Temos um problema, Raffa
Deixei o copo sobre a mesa e me inclinei para frente, focando nele.
- O que aconteceu?
- Recebemos informações de que o grupo de Cavalli está tentando tomar controle do porto de Livorno. Eles estão se movimentando rápido, mas nada que não possamos conter.
Leonardo colocou um mapa sobre a mesa, apontando os pontos críticos.
- Eles estão testando nossos limites, mas acredito que seja uma distração. Temos algo maior acontecendo nos bastidores.
Meus olhos percorreram o mapa, absorvendo cada detalhe.
- Quero reforços no porto imediatamente. Envie Enzo e mais homens para garantir que não percam nada de vista. Se Cavalli está tentando nos distrair, quero saber o que ele realmente está planejando.
Leonardo assentiu, mas sua expressão permaneceu hesitante.
- Algo mais?
Ele cruzou os braços, como se escolhesse cuidadosamente as palavras.
- Bianca.
O nome dela soou como uma explosão no silêncio do escritório.
- O que tem ela? - Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia.
Leonardo cruzou os braços, um gesto que ele só fazia quando estava prestes a me contrariar.
- Ela está... chamando atenção. Desde o jantar, os aliados estão comentando sobre o comportamento dela. Alguns acham que ela está te desafiando de propósito. Outros... estão intrigados.
- Ela é minha noiva, Leonardo. Qualquer um que se atreva a fazer mais do que comentar vai descobrir do que sou capaz.
- Entendo, mas... talvez seja hora de estabelecer limites.
Fiquei em silêncio por um momento, considerando suas palavras. Ele estava certo. Bianca precisava entender que havia regras nesse jogo.
- Você está certo. Mande a irem buscar e traga-a ao meu escritório. Agora.
Leonardo saiu sem questionar, deixando-me sozinho com meus pensamentos. Levantei-me e fui até a janela, olhando para os jardins que se estendiam sob a luz fraca da lua. A mansão era um símbolo de poder, de controle. Mas ela...
Ela era caos.
Uma hora depois, o som de passos no corredor me fez virar. A porta se abriu, e Bianca entrou. Seus olhos âmbar estavam brilhando, e ela usava um vestido preto que parecia tão provocador quanto o vermelho da noite anterior.
- Você pediu para me ver? - Sua voz era doce, mas havia veneno nela. - Eu não posso andar sempre aqui, tenho uma vida lá fora, sabia?
Eu fingi nem a ouvir.
- Sente-se.
Ela hesitou por um instante, mas obedeceu. Sua postura era relaxada, mas eu sabia que era apenas uma fachada.
- Temos que conversar sobre as regras do nosso acordo.
Ela arqueou uma sobrancelha, cruzando as pernas lentamente. O movimento não passou despercebido.
- Regras? Pensei que você gostasse de mandar, não de negociar.
- Não se engane, Bianca. Isso não é uma negociação.
Me aproximei, apoiando as mãos na mesa, inclinando-me para ela.
- Você é minha noiva. Isso significa que você segue minhas regras.
Ela riu, um som suave que me irritou profundamente.
- E se eu não seguir?
Endireitei-me, caminhando lentamente até ela. Coloquei uma mão no braço da cadeira,enquanto a outra segurava firmemente o encosto. Nossos rostos estavam próximos, tão próximos que eu podia sentir o perfume dela, algo doce e perigoso.
- Se você continuar com esse joguinho, verá até onde sou capaz de ir.
Os olhos dela encontraram os meus, sem medo, apenas desafio. Ela manteve o olhar fixo no meu, sem recuar um único segundo.
- Estou curiosa para ver do que é capaz, Raffaele.
O sorriso que ela me deu era quase doce, mas eu sabia que era um convite ao caos.
O relógio continuava a marcar os segundos, cada tique-taque ecoando no silêncio pesado do escritório.
O jogo entre nós estava apenas começando. E eu pretendia vencer.