Capítulo 2 A mansão do CEO

A limusine preta deslizou pelos portões de ferro da mansão como um predador entrando em seu território. Isadora observava tudo com olhos arregalados: o jardim imenso, a fachada de pedra imponente, as janelas tão grandes que pareciam espionar o mundo. Havia algo opressor naquela arquitetura perfeita, como se a casa quisesse lembrá-la o tempo todo de quem era o dono.

Ela segurava o contrato dobrado dentro da bolsa como quem carrega dinamite. Havia assinado horas antes, com a mão trêmula e o coração em guerra. O documento selava mais que uma união de fachada; selava sua liberdade. Em troca de proteger a empresa da família e livrar seu pai da falência, ela aceitou se casar com Leonardo Vasconcellos. Agora era oficialmente... a esposa do CEO mais temido do país.

O motorista abriu a porta com formalidade: - Bem-vinda, senhora Vasconcellos.

Ela engoliu seco. Ainda soava surreal.

Ao entrar, sentiu o peso do silêncio. A casa era enorme, moderna, mas fria. Sem fotos, sem flores, sem rastros de vida. O ar cheirava a madeira polida e poder.

Leonardo surgiu no topo da escada, impecável em uma camisa branca dobrada nos antebraços, como se o tédio fosse sua segunda pele. A expressão era neutra, os olhos, calculistas. - Está atrasada.

- Tive que me despedir da minha vida antiga - respondeu, erguendo o queixo, orgulhosa.

Ele desceu os degraus devagar, os olhos cravados nela como se analisasse um investimento. - Esqueça sua vida antiga. Agora você vive sob as minhas regras.

- E quais são exatamente? - perguntou, já exausta daquela pose de poder.

- Regras simples - respondeu ele, parado diante dela. - Não entre no meu escritório sem ser chamada. Não se envolva com minha vida pessoal. E nunca, jamais, tente me entender.

- A convivência vai ser uma delícia - murmurou ela com sarcasmo, cruzando os braços.

Ele se aproximou, seu perfume amadeirado preenchendo o espaço entre eles. Seus olhos eram escuros, intensos, como se escondessem um passado inteiro. - Não vim para te agradar, Isadora. Vim para cumprir um acordo. E você também.

Ela teve vontade de recuar, mas ficou firme. - Isso inclui me tratar como um móvel?

Leonardo sorriu de lado, um sorriso que não alcançava os olhos. - Alguns móveis são decorativos. Outros, funcionais. Descubra qual deles você será.

O quarto dela ficava no andar de cima, ao lado do dele. Luxuoso, espaçoso... e solitário.

Ela tocou os lençóis de cetim, os móveis de madeira escura, e sentiu o peso da decisão cair como um raio em seu peito. Estava casada com um homem que não acreditava no amor, presa em uma casa onde o calor humano havia sido banido.

Havia um closet inteiro para ela, recheado com roupas que não havia escolhido, mas que pareciam ter saído de uma revista de moda. Vestidos longos, saltos caríssimos, joias. Sentiu-se uma boneca. Rica, bonita... mas sem alma.

Uma empregada discreta trouxe um chá. Isadora agradeceu, tentando puxar conversa, mas a mulher parecia instruída a manter a distância.

Naquela noite, ela desceu para jantar. A sala de jantar era digna de realeza, mas o ambiente era gélido. Leonardo estava na cabeceira da mesa, lendo documentos.

- Achei que jantaríamos juntos. Não era parte do show de casal feliz?

Ele não desviou os olhos. - Isso exige um esforço que prefiro evitar. Coma o que quiser e vá dormir cedo. Amanhã temos um evento.

- Evento? - Isadora franziu a testa.

- Baile de gala da fundação Vasconcellos. Sua primeira aparição como minha esposa.

Ela o encarou por alguns segundos, sentindo a garganta secar. - E como devo agir?

Ele finalmente ergueu os olhos. - Finja que me ama. Mas não finja tão bem a ponto de acreditar nisso.

Isadora não respondeu. Sentou-se à mesa, cortou um pedaço da carne e comeu em silêncio. Mas por dentro, a vontade era outra. Jogar o guardanapo na cara dele e dizer que não era um objeto. Mas não podia. Não ainda.

Se ele achava que ela seria mais uma mulher calada e moldada, estava redondamente enganado.

Mais tarde, deitada na cama que não cheirava a nada além de desconfiança, ela encarava o teto.

Aquele homem era um mistério. Frio, sim. Arrogante. Mas por trás do olhar gelado havia algo quebrado. Algo que ele escondia com paredes de aço e frases afiadas. Ela se perguntava se ele já havia sido diferente. Se havia amado alguém, ou sido traído.

E Isadora, sem querer, sentia-se atraída por esse abismo. Havia uma força magnética naquela indiferença. Como se ela quisesse provar que podia atravessar as muralhas dele.

Mas também prometeu a si mesma uma coisa:

Ela não seria mais uma vítima dele.

E naquela casa de luxo e silêncio, Isadora fez um pacto consigo mesma: iria sobreviver. E quem sabe, se ele não tomasse cuidado, iria vencer.

            
            

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