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Evelin
A madrugada era o momento mais silencioso de Thariel. O canto dos grilos havia cessado, e até o vento parecia hesitar, como se soubesse que algo estava prestes a acontecer. Evelin sentia a tensão no ar, não apenas pela proximidade de Eros, mas pela sensação de que o mundo ao redor começava a mudar. Havia algo maior se desenrolando, algo que ela mal podia compreender.
Nos últimos dias, ela tentara ignorar a presença do forasteiro. Era mais seguro assim. O nome "Oriana" ainda ressoava em sua mente, como se o vento o carregasse com cada suspiro. E Eros... ele havia desaparecido após aquele encontro sob as pedras cerimoniais, mas Evelin sabia que ele não havia ido embora de verdade. Ele estava ali, em algum lugar, observando.
As noites seguintes foram de treino, mas com um foco diferente. Não se tratava mais de controlar os elementos - mas de controlar as emoções que emergiam com eles. As chamas que queimavam sob seus dedos pareciam se intensificar sempre que pensava nele, e o vento, que antes era seu aliado, agora se mostrava errático, quase como se estivesse ciente de algo que ela ainda não entendera.
Eros não voltara a aparecer diretamente, mas ela sabia, no fundo, que ele estava por perto. Ele vinha, ela sentia. Era como se ele a procurasse - mas não apenas ela. Algo o atraía. Ela não podia negar a conexão que compartilhavam, mesmo sem palavras.
Naquela noite, Evelin decidiu seguir seus instintos. Abandonou sua casa silenciosamente, deixando para trás o conforto da segurança que o povoado oferecia. A estrada de terra que levava à floresta era vazia, exceto pela luz suave da lua que iluminava os arbustos e as árvores, criando sombras dançantes. Ela caminhou até a clareira onde se encontrara com Eros pela primeira vez.
Ali, sentou-se novamente, sentindo a presença dos antigos guardiões em cada folha que se movia ao seu redor. A lembrança das histórias da avó se fez forte em sua mente. Ela tinha a sensação de que o destino estava em movimento, puxando-a para algo muito maior do que ela podia controlar.
Foi quando o vento, mais uma vez, parecia sussurrar em seus ouvidos. O som não era claro, mas ela podia ouvir palavras fragmentadas, nomes, risos e lágrimas. E então, uma sensação familiar se aproximou - a mesma sensação que tivera ao encarar Eros. Era ele, de alguma forma, ali com ela, mesmo que a quilômetros de distância.
- Você realmente acha que pode fugir de mim? - a voz de Eros sussurrou, suave, como se o vento o tivesse carregado até seus ouvidos.
Evelin se levantou rapidamente, o coração disparado. Olhou ao redor, mas não havia ninguém. Apenas a floresta silenciosa.
- Estou começando a perceber que não posso. - Ela murmurou, sem saber se as palavras eram para ele ou para si mesma.
Um leve estalo nas folhas atrás dela a fez virar. Eros estava ali, parado nas sombras, como se tivesse saído diretamente do vento que a cercava. Seus olhos a observavam com a mesma intensidade de antes, mas agora havia algo diferente. Algo mais forte. Algo que Evelin ainda não conseguia compreender.
Ele se aproximou lentamente, seu olhar fixo no dela. O tempo parecia desacelerar, e Evelin sentiu a pressão crescente do que estava para acontecer. Algo dentro dela sabia que aquele momento mudaria tudo.
- Você sabe o que está em jogo, não sabe? - Eros perguntou, com uma leve sombra de ironia na voz.
- Sei - Evelin respondeu, mais firme do que se sentia. - Mas sei também que não posso ficar parada. O que quer de mim?
Eros deu um passo à frente, sua expressão séria.
- Não é sobre o que eu quero, Evelin. É sobre o que você quer. Você sabe o que está guardado dentro de você. E você sabe que não pode mais ignorar.
Aquelas palavras penetraram nela como uma lâmina afiada, e ela sentiu uma agitação crescente. O que ele queria dizer? O que ele sabia sobre ela? O que ela mesma ainda não sabia?
A conexão entre eles era inegável, mas ainda havia tantos mistérios, tantas dúvidas. Evelin sabia que não poderia simplesmente seguir Eros cegamente, mas também sentia que o futuro de Thariel estava entrelaçado com o que estava para acontecer. Ela não poderia mais voltar atrás.
- O que você espera de mim? - ela perguntou, a voz agora mais suave, mas firme.
Eros parecia ponderar por um momento, a luz da lua refletindo em seu rosto.
- Espero que você faça a escolha certa. E que saiba em quem confiar. O tempo está se esgotando. E as sombras que nos rodeiam estão se aproximando.
Com essas palavras, ele se virou, afastando-se em direção à floresta, deixando Evelin sozinha novamente, mas com a sensação de que, em breve, ela teria que decidir quem seria - e quem ela queria ser.
A resposta ainda estava escondida nas sombras. Mas Evelin sabia que, como o vento, ela não seria mais fácil de ignorar.
E o fogo em seu interior começava a se acender.