Capítulo 5 Ventos da Verdade

Eros

Os ventos uivavam. Eros sentia-os mais fortes do que nunca. Não que isso fosse novidade. Desde pequeno, ele soubera que o vento era seu companheiro. Mas, ao longo dos anos, o que ele vira e aprendera o tornara mais cauteloso com os próprios dons. Aqueles poderes não eram presentes. Eram armas. E ele aprendera a usá-los, mas nunca sem refletir sobre os custos.

O vento lhe dizia o que ninguém mais via. Ele o sentia nas noites silenciosas, nas manhãs calmas, nas tempestades que se aproximavam. Sentia os sussurros no ar, os segredos que pareciam se esconder por trás das palavras não ditas. Mas a verdade... a verdade ainda era um mistério para ele. Algo que ele soubera antes de nascer. Algo que despertava em seus sonhos, revelando fragmentos de um passado há muito apagado.

Na última noite, ele sonhara com Oriana. Não com a mulher, mas com o que ela representava. Com o que ela deixara para trás - um legado, uma história de destruição e perda. A memória que todos pareciam ter esquecido. Agora, no sonho, ele via as antigas terras do reino, florescendo antes da Grande Queda, antes da era da Névoa, quando os elementais eram mais do que lendas e as forças da natureza não eram limitadas. Os ventos, a terra, o fogo, a água - todos eram livres. E ele sentia que fazia parte disso, como se ele fosse a chave para restaurar o equilíbrio perdido.

Deitado entre troncos caídos, em uma cama de musgo na floresta, Eros acordou com o ar ainda vibrando, como se os ventos tivessem se levantado em sua mente, tentando comunicar algo. Mas a mensagem era fragmentada. Eros se levantou da cama, afastando a sensação de impotência. O sonho era claro, mas o que ele significava? Estaria ele mesmo perdido em uma busca sem sentido, ou havia algo maior no caminho dele?

Ele estava longe de ter todas as respostas. Mas uma coisa ele sabia: estava começando a entender o alcance de seus poderes. O vento, claro, sempre o acompanhara. Mas ele sabia que havia algo mais. Algo oculto, guardado nas profundezas de sua alma. O fogo que dançava em seu peito quando ele sentia raiva ou frustração. A terra que o ancorava, como se ela estivesse sempre ali para sustentá-lo, quando ele precisava de força. E a água, que às vezes fluía nas correntes da sua mente, trazendo clareza.

Ele olhou para a clareira, acima do dossel das árvores e observou o céu nublado de Thariel. O vento não estava apenas em seu interior, mas também nos elementos ao seu redor. Ele sentia o ar vibrando, as correntes invisíveis dançando entre as árvores, carregando consigo algo que ele ainda não compreendia completamente. Mas ele aprenderia. Ele sabia disso.

O que ele não sabia era o que a Névoa queria dele. A missão que lhe fora dada - era para ser algo simples, aparentemente. Mas quanto mais ele mergulhava nas sombras da missão, mais percebia que não era apenas um soldado cumprindo ordens. Era alguém em busca de respostas que a Névoa não queria que encontrasse. Ele tinha permissão para investigar a área de Thariel, um lugar isolado onde os antigos rituais ainda pareciam ser praticados. Mas Eros sabia que a verdadeira missão era outra. Ele estava ali para vigiar a garota, a que chamavam secretamente de "a Guardiã do Fogo Silencioso". Evelin. Sim, a Névoa sabia o nome dela, já estavam vigiando há vários anos.

O nome ecoou na sua mente novamente. Como se ele tivesse sido guiado até ela, como se fosse inevitável.

Mas a missão da Névoa era mais do que apenas observá-la. Eles queriam que ele encontrasse os elementos que ainda se ocultavam naquele lugar. E o nome "Oriana" ressoava, como uma chave que poderia abrir os portões para o que ele ainda não entendia.

Eros sabia que a única maneira de completar sua missão era entender o que estava por trás disso tudo. Quem, ou o que, era Evelin? E qual papel ele, filho do rei, tinha nesse jogo de forças que transcende as fronteiras de Thariel?

Com os olhos fixos no horizonte, Eros sabia que o retorno ao quartel da Névoa seria um alívio momentâneo. Mas as respostas estavam além do que eles permitiam que ele soubesse. O vento lhe dizia que a verdade estava próxima - mas o preço a ser pago seria alto.

E assim, enquanto a brisa da noite acariciava seu rosto, Eros virou-se e começou a caminhar de volta ao quartel da Névoa. Sabia que, ao retornar, teria de se preparar para o que viria. A missão estava longe de terminar. Ela apenas estava começando.

                         

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