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Capítulo 3
Ouvi todas as ordens de Teresa e comecei meu trabalho, para minha sorte no primeiro quarto ela me supervisionou, garantindo que eu seguiria todas as regras. A manhã foi tranquila, já depois do almoço foi uma tarde corrida, sempre tinha um novo lugar para arrumar ou alguma coisa para fazer, e ficar em pé o dia todo foi mais cansativo do que eu esperava.
Ainda sim, a cada momento de tranquilidade ou de distração, meus pensamentos voavam para o homem misterioso.
Eu achei que como um dos chefes dos funcionários eu o veria no decorrer do dia, mas meu horário de bater o ponto chegou e não houve nenhum sinal dele, nada dos olhos castanhos penetrantes, do topete altivo ou da voz que estremeceu minhas estruturas.
Já era de se esperar que alguém como ele não ficaria preso no hotel o dia todo dando ordens, ele tinha funcionários como Teresa para isso.
- Então me conta, o que achou do seu primeiro dia? - Miriam, uma das camareiras perguntou me tirando dos meus pensamentos.
Tinha acabado de trocar de roupa e estava ali na frente do espelho divagando como uma lunática.
- Tirando os meus pés que estão me matando, tudo foi ótimo. - respondi à verdade, porque a sola dos meus pés estava doendo mais do que eu imaginei ser possível.
- Olha queria poder te dizer que vai ficar melhor, mas não fica, especialmente em alta temporada. Andamos tanto de um lado para o outro no hotel que no fim do turno nossos pés estão pedindo socorro. - ela bateu o armário e se virou para mim. - Mas compensa poder ver alguns ricos de tirar o fôlego, não é mesmo?
Eu dei risada concordando com ela, tinha visto ao menos meia dúzia de homens lindos, dignos de serem protagonistas de filmes e novelas.
- É uma pena não podermos nem dizer olá, a menos que falem com a gente.
Minha tia já tinha dito que essa era a principal regra deles, ainda sim, Teresa fez questão de repetir mais um milhão de vezes.
- E você acha que alguém realmente segue isso? Não importunamos os clientes, é claro, mas também não deixamos de dar mole sempre que podemos. - Miriam sacudiu as sobrancelhas, com um olhar malicioso.
- Mas acho que é bom eu continuar me mantendo na linha por mais um tempo, por pouco hoje não passei no primeiro teste e não sei quantos mais vão ter por aí.
- Teste? Que teste menina?
- O teste dos chefes. - o olhar dela ficou ainda mais confuso e eu comecei a me perguntar se tinha entendido errado. - Você sabe, o teste para ver se os funcionários novos vão servir para o trabalho. Eu esbarrei em um homem bem vestido logo que cheguei, ele falou comigo em inglês e me pediu para ser sua tradutora, ficou tentando me prender no corredor para conversar mais.
- Um homem gato esbarrou em você, ficou conversando em inglês e te pediu para ser tradutora dele, mas você acha que ele era um dos chefes te testando? - ela abriu um sorriso e mordeu os lábios tentando controlar a risada.
- É, algo de rotina só para garantir que não iriam contratar uma louca, atirada ou até coisa pior, então eles mandam uma pessoa que eu não conheço me parar nos corredores do hotel para um primeiro teste. - expliquei o que fazia sentido na minha mente, ao menos fazia até ela começar a me questionar.
Miriam explodiu em uma gargalhada, rindo sem se controlar e chamando a atenção das poucas pessoas restantes no vestiário.
- Me desculpa, mas... você é muito engraçada... - ela tentou falar entre as gargalhadas, mas tomou fôlego antes de continuar. - E muito inocente também para achar que eles iriam perder tempo testando todos os novos funcionários enviando alguém.
- O que você queria que eu pensasse? O homem claramente era rico pelas roupas que estava usando, falava inglês perfeitamente e ficou lá me segurando pelos ombros, me olhando de cima a baixo, o que mais eu poderia pensar?
Bati a porta do armário e encostei minhas costas nele, agora me sentindo patética por ter realmente achado que ele seria um dos chefões.
- O óbvio, que você é linda e chamou a atenção do ricaço bonitão! Se ele ficou lá conversando com você e te segurando, claramente viu algo que o interessou e eu tenho certeza de que não foi sua habilidade de falar inglês. - ela deu uma risadinha empurrando meu ombro e me fazendo relembrar o breve momento.
- Talvez você esteja certa, nunca se sabe. - murmurei fingindo desinteresse, mas sem conseguir impedir minha imaginação a criar outros cenários caso eu tivesse ficado mais tempo naquele corredor.
Ele teria me falado seu nome? Insistiria para eu ficar? Ele tentaria me beijar? Levei a mão à boca fingindo estar roendo as unhas, só para disfarçar minha expressão que com certeza estava entregando o que eu pensava.
- Mas já vou avisando, não confie nesse tipo de homem! - a voz de Miriam soou bem mais perto de mim agora e me trouxe de volta. - Eles não costumam passar muito tempo aqui e estão apenas em busca de uma aventura de uma noite ou um envolvimento de verão.
- Não pretendo me envolver com nenhum dos hóspedes, na verdade, com nenhum homem por agora, tenho um plano e não inclui isso.
- Ótimo, então eu vou nessa. Até amanhã! - Ela se despediu e saiu da área reservada para funcionários, eu peguei minha bolsa pronta para ir também.
Não havia mentido na minha última resposta a ela, eu tinha um plano para o meu futuro e definitivamente não incluía envolvimentos e distrações agora. Por mais gato e tentador que fosse o homem, meu foco agora era conseguir dinheiro para entrar na faculdade.
Eu tinha dezenove anos e as pessoas podiam me achar careta e boba, eu não era inocente e puritana, mas sabia bem o que queria e via a luta da minha mãe, da minha avó e de outras mulheres na família que acabaram engravidando cedo ou se envolvendo com o homem errado e deixando de lado suas vidas e sonhos.
Definitivamente eu não queria aquilo para mim, a carreira viria em primeiro lugar, depois disso eu poderia pensar em homens.
Infelizmente nem mesmo meus planos ou determinação impediram que meus sonhos fossem preenchidos pelos olhos castanhos, o rosto impecável e os braços fortes me segurando.
Mas minha surpresa foi maior quando atravessei as portas do fundo do hotel, dez minutos mais cedo que o primeiro dia, indo direto para a área dos funcionários e dei de cara com o mesmo homem parado ali.
Ele estava encostado contra a parede, às pernas cruzadas uma a frente da outra, as mãos no bolso do terno creme e uma expressão séria. Dessa vez não havia uma gravata e os cabelos pareciam ter sido molhados recentemente e jogados para trás, de forma bagunçada o deixando com um ar casual e apressado, mas terrivelmente sensual.
- Bom dia, sweet. - ele me cumprimentou abrindo um sorriso lateral quando seus olhos pousaram em mim. - Eu estava te esperando.
Eu engoli em seco e tentei me lembrar da conversa com Miriam ontem, ele claramente estava ali de passagem, um turista, e eu tinha que me manter longe. Mas ele desgrudou da parede e deu um passo largo, se aproximando de mim, me embriagando com o seu perfume e invadindo todo o meu espaço pessoal.
- Bom dia. - murmurei erguendo a cabeça para conseguir olhá-lo melhor no rosto. - O senhor deseja algo?
Me manter profissional era a única forma de não ceder a todo o charme que ele estava jogando, mas ficava até difícil de pensar ou respirar fundo com ele tão perto e olhando no fundo dos meus olhos.
- Eu desejo muitas coisas. - ele ergueu a mão pegando uma mecha do meu cabelo e enrolando nos dedos. - E a primeira delas é conversar com você.