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O silêncio dentro da mansão era espesso, quase sólido. Selena acordou com o som abafado da chuva contra as janelas e a lembrança do toque de Damien ainda viva na pele. Havia algo nele que a deixava à beira - entre a repulsa e o desejo. Um abismo estranho, perigoso.
Com a cabeça pesada, desceu até a biblioteca esquecida da mansão. Livros antigos, encadernados em couro, alinhavam-se em estantes altas. Um deles parecia fora de lugar. Ao puxá-lo, uma gaveta secreta se abriu, revelando um diário. Pertencia à sua tia.
As páginas falavam de um homem que visitava seus sonhos. Um homem de olhos âmbar e toque de gelo. Um homem chamado Damien.
Selena estremeceu. A caligrafia trêmula narrava encontros oníricos, pactos antigos, sangue derramado - e um aviso escrito em tinta vermelha: "Se ele voltar, fuja."
Ela saiu da mansão e caminhou até a cidade. Precisava confrontá-lo. E o encontrou facilmente. Ele estava no mesmo lugar - a livraria, folheando um livro antigo, como se esperasse por ela.
- O que você quer de mim? - perguntou, direta.
Damien a observou com calma predadora.
- Quero que você lembre quem é, Selena. Antes que o tempo acabe.
Ela sentiu a raiva subir como uma maré, mas também... algo mais. Uma atração que queimava.
- Para de falar em enigmas. Eu não te conheço.
- Não ainda.
Ele a convidou para acompanhá-lo até a floresta, onde uma ruína antiga jazia esquecida. Lá, sob a luz fria do entardecer, Damien mostrou símbolos entalhados nas pedras - os mesmos do espelho da mansão.
- Esta é sua marca - disse. - Você foi selada aqui, séculos atrás. Por mim.
Selena recuou, o coração disparado.
- O que você está dizendo?
- Que você já morreu por minha causa. E pode morrer de novo.
Ela fugiu dali, sem olhar para trás. Mas naquela noite, Damien apareceu no seu quarto. Não como um intruso, mas como uma presença inevitável.
- Eu jurei que nunca a tocaria de novo - disse ele, encostando a testa na dela. - Mas o desejo... é uma maldição que não se quebra com promessas.
O beijo aconteceu como uma explosão. Selvagem, feroz, insano. Ela se entregou por segundos eternos. E então o empurrou.
- Saia daqui!
Ele desapareceu como sombra dissolvida no ar.
Selena caiu no chão, tremendo. O passado estava voltando. E ela temia que, no fundo, quisesse mesmo lembrar.
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No dia seguinte, algo mudara na mansão. Havia um cheiro de terra molhada, um rastro de folhas levando até o porão. Quando desceu, encontrou um livro antigo, aberto numa página onde o nome "Selena Moreau" aparecia em sangue seco. Ao lado, o nome "Damien R." gravado com a mesma tinta carmesim.
Ela começou a ter visões. Fragmentos. Uma mulher igual a ela, vestida em trajes de outra era, correndo por corredores em chamas. Um ritual interrompido. Um grito de traição.
Damien.
Na igreja abandonada da cidade, um padre cego a reconheceu pelo cheiro.
- A sombra retornou com o sangue da lua... - murmurou, tateando o crucifixo. - Ele a amou. Ele a matou.
Selena não conseguia mais negar. Algo muito antigo os ligava. Algo mais forte que a morte. Ou o tempo.
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