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O som da chuva batendo contra os vidros da mansão Montenegro era suave, quase hipnótico. Do lado de dentro, Annelise caminhava pelos corredores com passos leves, sentindo o cheiro de madeira antiga e poder entranhado nas paredes. Cada canto daquela casa contava uma história que ela ainda iria descobrir... ou destruir.
Desde que fora contratada, Cael Montenegro a observava com olhos avaliadores, mas não hostis. Já Lorenzo... ele era uma mistura de curiosidade e tensão. Estavam presos em um jogo silencioso, onde cada gesto parecia carregar significados ocultos.
Naquela noite, o jantar foi mais formal do que o habitual. Cael estava ausente, em uma viagem de negócios, e isso tornava o ambiente menos opressor, embora mais... íntimo. Annelise desceu as escadas com um vestido simples, mas elegante, em um tom vinho escuro que destacava sua pele dourada e seus olhos misteriosos.
Lorenzo já a esperava à mesa. Ao vê-la, seus olhos demoraram um segundo a mais no decote discreto, e depois desviaram, como se estivesse tentando manter o controle sobre algo que não sabia nomear.
- Achei que jantaria sozinha hoje - comentou ela, com um meio sorriso.
- Não seria educado da minha parte - respondeu ele, puxando a cadeira para ela. - E... talvez eu esteja curioso.
Ela ergueu uma sobrancelha, fingindo surpresa.
- Curioso?
- Sobre você. De onde veio, o que fazia antes de aparecer aqui, com essa pose de quem sabe mais do que diz...
Annelise inclinou-se levemente à frente, apoiando o cotovelo na mesa.
- E se eu dissesse que gosto de manter alguns segredos?
- Eu diria que isso só me faz querer descobrir mais.
O silêncio entre eles era denso, mas não desconfortável. A atração era evidente, embora disfarçada por palavras afiadas e olhares contidos.
Depois do jantar, ela saiu para o jardim, buscando o ar úmido da noite. A mansão parecia menos sufocante ao ar livre. A brisa fresca tocava sua pele como um sussurro.
Lorenzo a seguiu sem fazer barulho. Ficou ali, a poucos passos dela, observando-a como quem vê uma obra de arte perigosa.
- Está tentando fugir de mim? - ele provocou.
Ela não se virou, mas sorriu de lado.
- Estou tentando fugir de mim mesma.
- Isso é mais difícil... - ele murmurou, se aproximando.
Quando seus olhos finalmente se encontraram, a tensão se tornou quase palpável. Ele queria tocá-la. Ela sabia disso. Mas não seria agora. Ainda não. Ela precisava que ele quisesse mais... que caísse mais fundo.
E, por um instante, enquanto os olhos de Lorenzo buscavam os dela como se quisessem decifrar cada camada, Annelise sentiu um tremor que não fazia parte do plano.
Era desejo.
E isso a assustava mais do que qualquer perigo.
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