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O sábado amanheceu com céu limpo e uma brisa fresca que atravessava as janelas abertas da casa de Noah. Na garagem, já transformada em estúdio improvisado, cabos, instrumentos e almofadas coloridas estavam espalhados pelo chão. Era o cenário perfeito para o primeiro ensaio oficial da banda com a nova formação.
Luke chegou primeiro - com uma camiseta escrita "Bato melhor que o destino" - trazendo uma sacola de salgadinhos e refrigerante.
- Café da manhã dos campeões - disse, jogando um pacote para Ravi, que o pegou no ar, rindo.
- Isso explica muita coisa - comentou Maya, já com o microfone na mão.
Luna chegou em seguida, com a guitarra pendurada no ombro e o cabelo preso num coque bagunçado. Sorriu ao ver todos reunidos, mas seu olhar parou por um segundo em Noah, que ajeitava o pedal da guitarra com concentração. Ele não percebeu, ou fingiu não perceber.
- Pronta pra destruir corações com a voz, estrelinha? - brincou Luke, fazendo uma reverência para Luna.
- Desde que você não destrua os meus tímpanos com suas piadas.
- Sem promessas!
Quando Olivia e Livia entraram, o clima esfriou. As duas se sentaram de canto, como se estivessem apenas observando - embora seus olhares para Luna e Ravi falassem mais do que qualquer palavra.
- Tá todo mundo aí? - perguntou Noah, batendo as palmas. - Então vamos começar com Sombras Claras. Luke, é a sua estreia. Quer brilhar?
- Nasci pra isso, meu chefe - respondeu ele, girando as baquetas como quem prepara um truque de mágica.
A música começou.
E o que se seguiu foi eletrizante. Luke parecia tocar com o corpo todo, acompanhando os riffs de Noah e os graves poderosos de Ravi com precisão surpreendente. Maya e Luna alternavam os vocais, suas vozes se fundindo como se fossem feitas para cantar juntas.
No meio da canção, Ravi lançou um olhar para Luna. Ela sorriu de volta, quase sem perceber. Noah, por sua vez, viu a troca de olhares - e, pela primeira vez, errou uma nota na guitarra.
- Tudo bem? - perguntou Maya, sussurrando.
- Tudo certo - respondeu ele rápido, voltando a tocar.
Ao final da música, todos aplaudiram. Até Olivia, a contragosto, soltou um comentário:
- Admito... foi bom.
- Isso não foi só bom - disse Ravi. - Foi o melhor ensaio que já tivemos.
Luna assentiu, ainda com o coração acelerado. A música parecia ter acordado algo dentro dela. Algo que vinha crescendo - e que se confundia com os olhares de Ravi, os silêncios de Noah, e as faíscas de rivalidade com Olivia.
Luke, jogado no sofá, gritou:
- Já posso tatuar o nome da banda no braço?
- Espera pelo menos a primeira apresentação - respondeu Noah, rindo. Mas o sorriso durou pouco. Quando seus olhos encontraram os de Luna, o que viu foi a dúvida. E o que sentiu foi o velho medo de perdê-la de vez.
Enquanto todos riam e trocavam ideias para as próximas músicas, Luna saiu por um instante para respirar. Ravi a seguiu, discretamente.
- Ei... - disse ele, se aproximando do portão. - Você tá bem?
- Tô. Só... tentando entender essa bagunça dentro de mim.
- Se for sobre a banda, relaxa. Você é a alma disso tudo.
Ela sorriu, mas não disse nada.
Ravi hesitou, depois tocou de leve o ombro dela.
- E se for sobre outras coisas... tipo, a gente... eu tô aqui também.
Luna olhou para ele, confusa e tocada.
Do lado de dentro, Noah os observava pela janela entreaberta, sentindo a música silenciar dentro do peito.
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Mais tarde naquela tarde, após o ensaio intenso, a banda decidiu fazer uma pausa. Alguns estavam jogados nos pufes, outros do lado de fora rindo com Luke, que improvisava personagens esquisitos com um cabo de microfone como peruca. Luna, por sua vez, se afastou discretamente e foi até o quarto de Noah buscar seu caderno de anotações, onde guardava rascunhos de letras e melodias que ainda não tinha coragem de mostrar.
No meio deles, havia uma canção especial. Uma letra que falava de um sentimento guardado há anos. Que falava de olhares trocados sem palavras, de uma amizade que doía de tão intensa, de um amor que cresceu em silêncio, mas nunca teve coragem de florescer.
Era sobre Noah.
Mas Luna nunca dissera isso a ninguém. Nem mesmo para Maya.
Ela voltou para a sala e deixou o caderno sobre a caixa de som, distraída, enquanto ajudava Ravi a organizar os cabos. Maya, curiosa como sempre, não resistiu. Pegou o caderno e começou a folhear, reconhecendo letras já conhecidas... até que algo novo lhe chamou atenção.
"Invisível em teus olhos, forte demais no meu silêncio..." - leu em voz alta, os olhos arregalando.
- Que música é essa? - murmurou, e num impulso, pegou o violão de Luna e começou a dedilhar os acordes intuitivamente.
A melodia parecia já estar viva nas palavras. Quando Maya começou a cantar, todos pararam o que estavam fazendo.
- Que música é essa? - perguntou Noah, se aproximando.
- Eu não sei... tava no caderno da Luna.
Luna se virou na hora, percebendo o que estava acontecendo. O sangue fugiu de seu rosto.
- Maya, não! - ela exclamou, mas já era tarde.
A voz suave de Maya preenchia a sala, dando vida às palavras que Luna jamais pensou em dividir com alguém:
"Você sorri e eu disfarço
Finge que não dói
Mas o silêncio entre nós
Sempre falou demais..."
O ambiente ficou em silêncio por alguns segundos depois da última nota. Luke foi o primeiro a se pronunciar:
- Ok... isso foi lindo. Quem foi que escreveu isso?
Maya olhou para Luna, que ainda estava paralisada, o coração batendo descompassado.
- Foi ela - disse Maya, sorrindo com carinho. - Luna escreveu.
Noah se virou para ela, surpreso. Havia algo diferente em seu olhar. Como se, de repente, estivesse vendo Luna de outro jeito.
- É... sobre alguém em especial? - perguntou, a voz mais baixa.
Luna hesitou, sentindo todos os olhares sobre ela. Podia mentir. Podia dizer que era só uma letra qualquer.
Mas algo dentro dela se recusou.
- É só... uma letra antiga. Nada demais.
Noah assentiu devagar, mas algo em seu rosto mostrava que ele não acreditava totalmente.
Ravi observava tudo em silêncio, mas seu olhar pareceu escurecer por um instante. A conexão entre Luna e Noah era sutil, mas inegável.
- A gente devia ensaiar essa - disse Luke, quebrando o clima tenso. - Tipo... agora. Antes que a inspiração fuja e vire um boleto vencido.
Todos riram, e Luna forçou um sorriso. Por dentro, seu mundo estava girando.
Naquele dia, sem querer, ela deixara escapar um pedaço de si.
E The Loyal acabava de ganhar