Confidentes
img img Confidentes img Capítulo 5 CALMARIA DEPOIS DA TEMPESTADE
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Capítulo 6 MANHÃ img
Capítulo 7 SEÇÃO DE TERAPIA img
Capítulo 8 Peso img
Capítulo 9 Recaída img
Capítulo 10 HERÓI img
Capítulo 11 CUIDADO img
Capítulo 12 DOR img
Capítulo 13 Café da manhã img
Capítulo 14 Vale a pena img
Capítulo 15 Briguinha img
Capítulo 16 Estresse img
Capítulo 17 Enlouquecido img
Capítulo 18 TENTAÇÃO img
Capítulo 19 Encontro img
Capítulo 20 Segredo img
Capítulo 21 Filho img
Capítulo 22 Pai img
Capítulo 23 Rich img
Capítulo 24 ME AMA img
Capítulo 25 Decepção img
Capítulo 26 Ódio img
Capítulo 27 Recaída img
Capítulo 28 Força img
Capítulo 29 Decisão img
Capítulo 30 Abandono img
Capítulo 31 Surpresa img
Capítulo 32 Fraqueza img
Capítulo 33 Persistência img
Capítulo 34 Conserto img
Capítulo 35 Helena img
Capítulo 36 Sorriso img
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Capítulo 5 CALMARIA DEPOIS DA TEMPESTADE

...

- Respira, inspira. Respira, inspira - disse, e George seguiu as instruções contidas nas palavras.

Olhou para mim e percebi que sua expressão se suavizou.

O terapeuta disse que era muito comum. Quando uma criança presenciava um acontecimento chocante na idade em que presenciou, o evento era gravado na memória. Não seria fácil lidar com a situação, porque ele simplesmente não poderia esquecer do dia para a noite; era um processo que envolvia tempo e segurança.

Se ele se sentisse seguro, não tinha pesadelos.

Um gatilho era o suficiente para que lembrasse de tudo.

O terapeuta também explicou porque ele reagiu tão bem ao que viu. George tinha apenas 3 anos e não entendia o que estava acontecendo, logo, sua mente não traduzia para ele que era uma situação de risco, o que não o fez ficar traumatizado. Mas seu cérebro reconheceu. A agressividade atingia todas as idades com diferentes níveis de impacto.

Eu me sentia um monstro por tê-lo feito passar por isso.

Aos 9 anos, George se apegava demais a tudo e todos que estavam ao seu lado. Era comum que se sentisse inseguro em determinadas circunstâncias, mas seus pesadelos o faziam ficar vulnerável.

- Eu tô aqui, amigão. - Disse, subindo na cama e abraçando-o com força. - Eu tô aqui. - Ele também me abraçou com força.

Eu me sentia um monstro por fazê-lo precisar de mim.

Chegava a ser engraçado.

Ele amava quem destruiu sua vida.

- Papai - ele disse baixinho, grogue de sono.

Sorri.

- Sim?

Pausa.

Ele olhou para mim.

- Por que eu tenho esses sonhos? - Perguntou.

Olhar para os olhinhos marejados de George fazia meu coração ser esmagado por mil cofres.

Porque sou um monstro, uma voz sussurrou na minha mente.

- Porque é um teste - eu menti. - Deus está tentando testá-lo.

- Me testar? - Ele parecia muito curioso, não mais assustado.

- Ele reconhece um menino inteligente e forte de longe. E você é um. Por isso ele colocou esses sonhos na sua mente. Mas ele não quer machucá-lo. Quer testá-lo.

- É? - Seus olhos cintilavam de interesse.

- É. Igual a mamãe, só que de um jeito diferente - eu peguei sua mão e cobri com a minha. - Ele me disse que a mamãe era muito corajosa e que precisava dela. Por isso que a levou para perto dele. - Eu inventei.

- Eu não quero que ele me leve! - Ele me agarrou com força e subiu em cima de mim. Fechei os olhos. Doeu.

Aguente.

Eu não deixaria isso acontecer. Nem que tivesse que enfrentar a porra de mil anjos.

- Não. Ele só quer testar o quão forte você é - Disse. Eu afaguei os cabelos de George. - Quer saber de um segredo?

- Sim!

- Ele me disse que você vai passar no teste, mas para isso, tem que enfrentar qualquer pesadelo. No final, uma pilha de panquecas com muito xarope e chocolate vão estar esperando por você.

- Eba! - Ele comemorou.

- Agora vai dormir - Ele saiu de cima de mim mais que depressa. - Feche os olhos e durma. - Eu bati a ponta do dedo no nariz dele.

George me obedeceu: agarrou Bonnie, fechou os olhos e deu boa-noite para mim, Deus e para sua mãe.

Em poucos minutos, ouvi o som calmo de sua respiração.

Boa noite, George.

Olhei para a foto no porta-retrato da mesinha de cabeceira ao lado da cama.

Rachel.

Boa noite, Rachel.

Em algum lugar no fundo do que me sobrava de um coração, a resposta ecoou por meu corpo, percorrendo a minha alma, e me arrancando uma lágrima.

Não era uma lágrima de quem sentia dor.

Não era uma lágrima de quem tinha um coração partido.

Era, talvez, de alguém que tinha esperança.

E se lá no fundo, assim como George, eu precisasse enfrentar o pesadelo?

Meus olhos pesaram, me surpreendendo por um cansaço que nem sabia que carregava, e eu adormeci ao lado de George.

Juntos, iríamos enfrentar o pesadelo.

                         

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