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Hoje recebi uma ligação da minha mãe. Ela disse que eu só poderia assumir a presidência da empresa matriz se estivesse casado. Segundo ela, é uma exigência de alguns conselheiros mais conservadores. Respondi que já estava nos meus planos me casar em breve, e pedi um prazo. Ela me deu um mês. Um mês. Até lá, eu preciso encontrar uma esposa - mesmo que seja por contrato.
Mais tarde, em casa, já pensando nessa pressão, decidi sair e fui até um bar. Comecei a beber. Conforme as doses de whisky desciam, meu corpo relaxava e os pensamentos se embaralhavam. Foi quando notei uma morena linda bebendo sozinha. Ela também me olhava. Tomei coragem e fui até sua mesa.
- O que uma mulher linda está fazendo aqui, sozinha e com esse olhar triste? - perguntei.
Ela riu e disse:
- Estou comemorando o chifre que levei do meu noivo.
Conversa vai, conversa vem, acabamos indo para um hotel. Continuamos bebendo. Começamos a nos beijar e, enquanto eu tirava sua roupa, ela me disse que era virgem. Perguntei se queria parar. Ela disse que não, só pedia que eu tivesse cuidado. E assim passamos a noite juntos, sem compromisso.
Na manhã seguinte, acordei antes dela e fiquei apenas observando. Ela era ainda mais linda dormindo. Foi então que tive uma ideia: por que não propor um casamento por contrato?
Esperei que acordasse. Quando abriu os olhos, fingiu não lembrar de nada. Perguntei seu nome. Ela disse que se chamava Melinda.
Contei minha situação e fiz a proposta: um casamento por contrato, onde cada um colocaria suas próprias cláusulas. Ela me chamou de louco. Mas antes que pudesse dizer mais, seu celular tocou. Atendeu no viva-voz sem querer. Era a mãe dela. Estava chorando, contando que havia passado mal, feito, exames, e descoberto uma doença grave. Não teria como pagar pelo tratamento.
Melinda prometeu à mãe que daria um jeito. Faria horas extras, até pegaria empréstimo se fosse necessário. Depois desligou, sentou na cama e começou a chorar.
Foi ali que reforcei minha proposta:
- Eu posso pagar todo o tratamento da sua mãe. Mas você terá que se casar comigo, até que um de nós encontre um amor de verdade. Sem traições, cada um com sua vida, seu trabalho e suas amizades. Mas vamos morar juntos, e você terá que me acompanhar em eventos e reuniões. Terá um cartão de crédito e de débito para você e para sua mãe. E, claro, acesso aos melhores médicos. Se aceitar, casamos amanhã.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, depois respondeu:
- Tudo bem. Me leve até um cartório de confiança para fazermos esse contrato.
E assim fizemos. Cada um com sua cópia, cláusulas assinadas e firma reconhecida. Se alguma parte quebrasse o acordo, pagaria uma multa alta.
Saímos e começamos os preparativos do casamento. Ajudei com o vestido, deixei-a em sua casa para arrumar as malas, e depois passei para buscá-la. Fomos para minha casa, onde ela dormiria até o casamento.
À noite, fui até a casa da minha mãe e anunciei nosso casamento para o dia seguinte. Todos ficaram surpresos. Depois do jantar, busquei Melinda. Ela me contou que sua mãe viria para o casamento. Concordei de bom grado.
Chegando em casa, mostrei o quarto dela - ficava de frente para o meu. Disse que ela poderia decorá-lo como quisesse. Depois fui para meu quarto cuidar de alguns documentos antes de dormir.
No dia seguinte, acordei cedo, tomei banho e fui chamá-la. O quarto estava vazio. Desci e senti o cheiro de bolo e café fresco vindo da cozinha. Quando cheguei lá, vi Melinda terminando de arrumar a mesa.
- A empregada já chegou? - perguntei.
Ela sorriu e respondeu:
- Não, fui eu quem preparei tudo.
Fiquei ali, parado, sem saber o que dizer. Me sentei, surpreso com o cuidado e carinho daquele gesto. O café estava delicioso.
- Está preparada para hoje? - perguntei.
Ela assentiu com a cabeça, e eu disse:
- Mandei trazer cabeleireiro, maquiador, tudo o que você precisar para ficar ainda mais linda. Um amigo da família vai te levar até a casa da minha mãe para o casamento. Eu me arrumo por lá.
Ela concordou. Me despedi e fui embora, deixando-a com a equipe que já havia chegado. Pedi que a tratassem como uma rainha.
Enquanto o carro me levava até a casa da minha mãe, me peguei pensando em Melinda. Era estranho... eu mal a conhecia, mas havia algo nela que mexia comigo. Talvez fosse aquela mistura de força e vulnerabilidade, aquele jeito doce de sorrir mesmo com o coração partido. Ou talvez fosse o fato de que, mesmo em meio ao caos, ela ainda se preocupava em preparar um café da manhã para mim. Um gesto simples, mas que me atingiu como um soco.
Quando cheguei, tudo já estava sendo preparado. Minha mãe, embora surpresa com a notícia do casamento repentino, estava ocupada demais organizando os detalhes para fazer mais perguntas. Ainda assim, notei o olhar desconfiado que me lançou quando mencionei que Melinda viria sozinha, trazida por um amigo da família. Como se tentasse entender onde aquela mulher tinha surgido tão de repente.
Fui para o quarto que costumava usar quando passava a noite ali, coloquei meu terno e ajustei a gravata. O espelho me devolveu o reflexo de um homem que deveria estar no controle - e, no papel, eu estava. Mas por dentro, um leve nervosismo me corroía. Eu nunca fui de dar passos sem calcular bem o terreno, e aquilo... aquilo era um salto no escuro.
O som de um carro me tirou dos pensamentos. Fui até a janela e a vi. Melinda estava deslumbrante. O vestido que havíamos escolhido na noite anterior caía perfeitamente em seu corpo, e seu cabelo preso em um coque baixo deixava seu rosto ainda mais delicado. Por um instante, fiquei sem fôlego.
Desci antes mesmo que ela entrasse e fui ao encontro dela. Assim que nossos olhos se cruzaram, ela sorriu - e, por um segundo, aquele sorriso pareceu verdadeiro, não parte de um acordo.
- Está linda - eu disse, com sinceridade.
- Obrigada - respondeu, um pouco tímida.
- Pronta para se tornar uma esposa contratada?
Ela soltou uma risada suave, mas seus olhos não escondiam a tensão.
- Pronta. E você? Pronto para dividir a vida com uma mulher que conheceu num bar?
- Já dividi coisas com pessoas que valiam bem menos.
Ela ergueu uma sobrancelha, divertida. Gostava desse jeito dela, de não engolir tudo calada.
Entramos e fomos recebidos com pompa. Minha mãe se aproximou, avaliando Melinda com um olhar clínico. Apresentei-as. Melinda foi educada, gentil, e até mesmo doce com minha mãe. E, para minha surpresa, minha mãe pareceu gostar dela. Ou pelo menos não desgostou - o que, vindo dela, já era um avanço enorme.
O juiz de paz chegou logo depois, e em poucos minutos tudo estava pronto para a cerimônia civil. Era isso. Um contrato assinado diante da lei, testemunhas e uma aliança no dedo. O tipo de casamento que meus conselheiros conservadores considerariam suficiente. Para eles, aparência era tudo. Para mim, era apenas o começo de um teatro que eu precisaria encenar com perfeição.
Na hora de trocar os votos, Melinda me olhou, séria. Seus olhos castanhos pareciam dizer algo que sua boca não ousava. Peguei sua mão com firmeza e repeti as palavras do juiz com clareza. Ela fez o mesmo, a voz firme, mesmo que seus dedos tremessem levemente entre os meus.
Quando ele nos declarou oficialmente casados, houve um leve aplauso. Minha mãe sorriu, satisfeita. Eu sorri também, mas o que senti não era bem satisfação - era algo indefinido, incômodo, quase perigoso.
Saímos da casa sob uma chuva de pétalas improvisada por minha irmã caçula. No carro, a caminho de casa, ficamos em silêncio por um tempo. Então, Melinda falou:
- Ainda não parece real.
- Talvez não seja. Mas vamos fazer parecer, não é?
Ela assentiu, olhando pela janela. Depois de um tempo, perguntou:
- E agora?
- Agora começamos a atuar. E, quem sabe, no meio dessa peça, a vida nos surpreenda.
Ela me olhou de lado, com um sorriso enigmático.
- Ou nos atropele.
Ri. Gostava da forma como ela enfrentava a situação com humor, mesmo sabendo do peso que carregava por trás daquele contrato.
De volta à minha casa - agora nossa casa -, Melinda subiu para tirar o vestido. Fiquei na sala, olhando para as alianças que agora estavam em nossas mãos. Um pedaço de metal que prendia duas pessoas completamente diferentes, ligadas por uma necessidade, não por amor.
Mas o destino tinha suas próprias regras.
E eu tinha a estranha sensação de que esse era apenas o primeiro capítulo de uma história muito maior do que qualquer um de nós poderia prever.