Seu nome já era uma lenda nos círculos financeiros. Diziam que ele não sorria. Que era capaz de desmontar alguém com um único olhar. Que era brilhante, cruel e eficaz. E, mesmo assim, lá estava eu, com um currículo nas mãos e um par de saltos emprestados, rezando para que ninguém percebesse o tremor nos meus dedos.
Me fizeram esperar quarenta minutos. E então, sem aviso, uma mulher alta e magra abriu a porta de vidro fosco e disse:
- O senhor Caballejo vai recebê-la agora.
Entrei.
Ele estava de pé, junto a uma parede de janelas que davam vista para toda a cidade. Nem se virou ao me ouvir. Apenas disse:
- Você tem três minutos para me convencer de que não vai me fazer perder tempo.
Engoli em seco. Minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
- Então, ouça bem. Eu sei anotar à velocidade de uma tempestade. Falo três idiomas. Não tenho medo de pressão e nunca cometo o mesmo erro duas vezes. Se está procurando perfeição, procure em outro lugar. Mas se quer lealdade, eficácia e coragem... estou aqui.
Ele se virou.
E por um instante, o mundo parou.
Era mais jovem do que eu imaginava. Mas os olhos... aqueles olhos carregavam séculos de guerra.
- Como você se chama? - perguntou.
- Valeria Ríos.
Ele assentiu. Nenhum sorriso. Apenas silêncio.
- Começa amanhã às seis. Se chegar às seis e um... está demitida.
Saí daquele escritório com os músculos tensos e o coração prestes a explodir. Eu não sabia se queria rir ou chorar. Mas tinha conseguido o emprego.
E eu não fazia ideia de que naquele dia tinha assinado o início do meu próprio inferno... e da minha perdição.
Trabalhar com León era como correr numa corda bamba de olhos vendados. Seus padrões eram impossíveis. Seu temperamento, volátil. Mas havia algo nele que desmontava todas as minhas defesas. Não era só a inteligência. Era a forma como controlava tudo sem parecer fazer esforço. A maneira como me olhava quando achava que eu não estava vendo.
Meses se passaram. Meses acordando cedo, memorizando cada um dos seus caprichos, antecipando seus silêncios. E, sem perceber, cada vez que ele dizia meu nome, minha alma se desorganizava.
Uma noite, depois de uma reunião que se prolongou mais que o normal, o vi diferente. Mais humano. Mais... vulnerável. Tinha deixado o paletó pendurado na cadeira, o primeiro botão da camisa aberto, e os olhos perdidos no horizonte.
- Ainda está aqui? - perguntei, da porta.
- Não gosto de ir para casa - murmurou, sem me olhar.
Fechei a porta e me aproximei. Ele não disse nada. Apenas me ofereceu um uísque com um gesto.
- Por que trabalha tanto? - ousei perguntar.
- Porque, se eu parar, começo a sentir.
Soube, naquele momento, que estávamos condenados.
Naquela noite, não aconteceu nada. Nem um toque. Nem uma palavra fora de lugar. Mas no silêncio compartilhado, eu soube que estava em perigo. Que cada vez que o via, me perdia um pouco mais.
E então... veio o beijo.
Foi numa sexta-feira. Tarde. Outra reunião interminável. Estávamos exaustos, irritados. Discutíamos sobre uma projeção de lucros. Eu dizia que os dados do departamento financeiro estavam errados, ele que não aceitaria mais desculpas.
- Você está errada - ele disparou, jogando uma pasta sobre a mesa -. Não é seu lugar questionar o que já foi aprovado pela minha diretoria.
- E se sua diretoria estiver errada? - retruquei, cruzando os braços -. Vai continuar tomando decisões às cegas só para não admitir que outra pessoa pode estar certa?
Seus olhos se estreitaram.
- Cuidado com o tom, Ríos. Não se esqueça que ainda é minha assistente.
- Não esqueci, senhor Caballejo. Mas se quer uma boneca que diga "sim" para tudo, contrate outra.
Ele se aproximou. Seus passos eram precisos, letais. Quando ficou diante de mim, abaixou a voz.
- Sabe o que mais me enfurece em você? - murmurou.
- Diga. Estou morrendo de curiosidade - respondi, sem recuar.
- Que você me faz querer perder o controle. E isso... eu não me perdoo.
Soube que ele ia me beijar antes que o fizesse. Pela tensão em sua mandíbula, pela maneira como seus olhos desceram até minha boca. Mas mesmo assim, fiquei parada. Desafiando. Provocando.
E ele cedeu.
Me beijou como se todo o ódio que trocamos durante meses tivesse virado fogo. Foi um beijo de raiva, de necessidade, de alerta. Eu correspondi sem pensar. Sem querer. Sem poder evitar.
Quando nos separamos, sua respiração estava ofegante.
- Valeria... - murmurou, com a testa colada na minha -. Eu não preciso de você como secretária. Eu preciso de você... inteira.
Eu sentia medo. Mas também sentia fome. Dele. De me sentir vista. De me sentir viva.
E eu aceitei.
Deus... como me arrependo.
Porque o que começou como uma história secreta, ardente, virou um vício. E depois, uma destruição lenta. Houve momentos em que ele me amava como se eu fosse o ar que ele respirava. E outros... em que se afastava sem explicação, como se algo sombrio o devorasse por dentro.
Nunca me disse "eu te amo". Mas seus silêncios, às vezes, eram mais intensos que qualquer promessa.
Até que um dia... ele desapareceu.
Até que tudo acabou.
Até que eu tive que fugir.