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Sabe quando você cansa? encontra-se perdida, no meio de uma tempestade que você mesmo causou....
Hoje faz 2 anos que estou mudando essa tempestade.
1984
Sabe aquele tipo de sensação que te paralisa?
Foi exatamente o que senti naquela varanda.
Vi aquele homem empurrando o carrinho, como em todos os dias anteriores...
Mas algo não estava certo.
Era madrugada. Tudo silencioso.
Mas o barulho das rodinhas rangendo me deixava inquieta.
Fiquei observando.
Ele empurrava o carrinho como se não tivesse rumo. Ia e voltava.
Passava pela mesma calçada, olhava para o mesmo ponto da rua.
Mas, dessa vez, algo chamou minha atenção...
Ele parou.
Bem debaixo do meu prédio.
Olhou para cima.
Direto para a minha varanda.
Senti um frio na espinha.
Meu coração acelerou.
Será que ele sabia que eu estava envolvida no caso?
Será que... ele era alguém ligado à senhora Flores?
Voltei pra dentro, fechei as cortinas devagar.
Fui direto pegar meu caderno e anotar todos os detalhes:
"Homem do carrinho, mesma hora, rua vazia, olhou para minha varanda. Possivelmente me reconheceu."
Não consegui dormir.
No dia seguinte, mal levantei da cama.
O rosto dele não saía da minha mente.
Mas eu tinha uma missão a cumprir.
Vesti meu uniforme e fui direto ao centro de investigação.
Chegando lá, o clima estava tenso.
Clara estava sentada com os olhos inchados.
Priscila conversava com Maria, e o General analisava imagens borradas do caso Bak.
- Marina - chamou o General - venha até aqui.
Me aproximei.
- Tivemos uma denúncia anônima. Alguém viu um homem empurrando um carrinho perto do motel na noite do crime.
Ele teria parado, olhado para uma janela no sexto andar e depois desaparecido.
A denúncia veio hoje de manhã.
Meu estômago revirou.
- General... - engoli seco - ele passou ontem na minha rua. Parou exatamente em frente ao meu prédio.
Olhou para mim.
O general ficou em silêncio.
Pegou seu rádio e chamou a equipe de rastreamento.
- Vamos puxar câmeras da sua rua.
Mesmo com o sistema comprometido no motel, a cidade tem olhos em todo canto.
Enquanto ele cuidava disso, fui conversar com Clara.
- Ele olhou pra você? - ela perguntou, assustada.
- Sim. Acho que ele sabe que estou investigando.
- Marina... tem algo que eu nunca te contei.
Na última ligação da minha tia, ela disse que estava sendo seguida.
Que um homem com um carrinho de feira aparecia toda noite na rua dela.
Ela achava que era só um morador de rua...
Mas agora tudo faz sentido.
Meu corpo travou.
Era ele.
O homem do carrinho estava seguindo as duas.
---
Mais tarde naquele dia...
Recebemos o relatório das câmeras.
Um trecho de poucos segundos mostrava uma sombra.
Homem baixo, capuz cobrindo o rosto.
Empurrava algo parecido com um carrinho de supermercado.
Passou duas vezes pela mesma calçada.
Depois olhou para cima.
Minha varanda.
- Marina - disse o general - você precisa sair do seu apartamento por enquanto.
Assenti com a cabeça.
Fui autorizada a ficar num alojamento da corporação.
Levei apenas uma mochila.
Deixei uma carta na portaria do prédio, caso algo acontecesse comigo.
"Se eu desaparecer, procurem o homem do carrinho."
No alojamento, tentei descansar.
Mas não consegui.
Então resolvi retomar o depoimento da gerente Emilly.
Liguei para ela.
- Alô?
- Oi, Emilly, é a Marina. Preciso de mais algumas informações.
- Claro... estou à disposição.
dia do crime, certo?
- Sim, algumas horas antes. Um técnico veio arrumar, mas não conseguiu.
Disse que precisava voltar outro dia.
- Quem era esse técnico? Tem o nome dele?
Ela hesitou.
- Não... ele apareceu dizendo que foi chamado pela recepcionista.
Era novo. Nunca tinha visto.
- Emilly, você lembra do rosto dele?
Silêncio.
- Era um homem... baixo. Usava capuz.
Estava empurrando uma caixa com rodinhas...
Não era uma caixa.
Era o carrinho.
Desliguei o telefone na hora.
Peguei o relatório do crime.
Comparei os horários.
O técnico apareceu minutos antes da vítima subir ao quarto.
Ele estava lá o tempo todo.
Assistindo.
No dia seguinte...
Recebi uma ligação anônima.
Voz masculina. Rouca.
- Vocês estão cutucando onde não deviam.
Querem acabar como a velha?
A ligação caiu.
Corri para o general.
Relatei tudo.
Foi convocada uma nova equipe de inteligência.
Vasculhamos o motel, a rua da senhora Flores, meu prédio.
Nada.
O homem do carrinho era como um fantasma.
Até que Priscila, curiosa como sempre, resolveu olhar as redes sociais de moradores da área.
Ela encontrou algo.
Um vídeo antigo, de três meses atrás.
Postado por uma jovem da região.
Mas no fundo do vídeo...
O homem.
Olhando diretamente para a câmera.
Ele já estava lá.
Observando.